Palavra do leitor
- 02 de dezembro de 2008
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Oração e psicanálise (parte 2)
Após Freud, a experiência religiosa passou a ser vista por muitos como prenha de motivações obscuras, que muitas vezes comportam infantilização e alienação. E a oração, ápice desta experiência, seria o campo de manifestação de uma série de fantasias e ilusões infantis. E por ilusão entende-se o menosprezo que o fiel devota diante das condições da realidade, levado por sua fixação exclusiva ao mundo dos desejos.
E qual seria esta realidade? O fato do mundo não ser criado para o homem ser feliz. Seus desejos não são satisfeitos, tem de aprender a lidar com as barreiras que se erguem a todo instante a eles. No relacionamento social injustiça, mentira, desonestidade e competição são a tônica. O mundo interior não é menos turbulento, pois os desejos não formulados do inconsciente enfrentam ideais e normas introjetados e o consciente se confessa impotente em conciliar tantas solicitações contraditórias. E por último, a morte como elemento final.
Segundo Freud, a realidade é calada pela construção de um mundo onde não há pranto, nem luto, nem dor. Por um Deus bondoso que proporciona total segurança e proteção. Por recursos os mais variados que remetem o fiel a sua infância e a ilusão sobre o poder do pai. Para ser justo, ele reconhece que não é somente a religião que fornece esta ilusão, mas o Estado, a política, a ideologia e a ciência também o fazem, cada qual ao seu modo. No fim, é o desejo inconsciente que fala, e não a análise da experiência e dos fatos.
Na atualidade, as chamadas "confissão positiva" e "teologia da prosperidade" parecem vestir a carapuça proposta pela psicanálise. Negam o significado da encarnação ao negar que Deus se faz homem para com os homens compartilhar, nem que seja por um átomo de tempo, das mesmas vicissitudes da natureza inclemente. Blasfemam contra a cruz do Calvário ao transformar o sacrifício substituto de Deus Filho / homem perfeito em um meio para ser retirado da comunhão completa com a comunidade humana. Deus se torna um servo das ilusões infantis, não permitindo que Seus filhos (que também são servos) enfrentem oposição, dúvida, dor, desilusão e derrota. Nada disto lembra o Evangelho "pregado de uma vez só aos santos", ao qual "nada se pode acrescentar ou tirar".
(Texto produzido a partir do livro "Orar depois de Freud", de Carlos Domínguez Morano, Edições Loyola 1994)
E qual seria esta realidade? O fato do mundo não ser criado para o homem ser feliz. Seus desejos não são satisfeitos, tem de aprender a lidar com as barreiras que se erguem a todo instante a eles. No relacionamento social injustiça, mentira, desonestidade e competição são a tônica. O mundo interior não é menos turbulento, pois os desejos não formulados do inconsciente enfrentam ideais e normas introjetados e o consciente se confessa impotente em conciliar tantas solicitações contraditórias. E por último, a morte como elemento final.
Segundo Freud, a realidade é calada pela construção de um mundo onde não há pranto, nem luto, nem dor. Por um Deus bondoso que proporciona total segurança e proteção. Por recursos os mais variados que remetem o fiel a sua infância e a ilusão sobre o poder do pai. Para ser justo, ele reconhece que não é somente a religião que fornece esta ilusão, mas o Estado, a política, a ideologia e a ciência também o fazem, cada qual ao seu modo. No fim, é o desejo inconsciente que fala, e não a análise da experiência e dos fatos.
Na atualidade, as chamadas "confissão positiva" e "teologia da prosperidade" parecem vestir a carapuça proposta pela psicanálise. Negam o significado da encarnação ao negar que Deus se faz homem para com os homens compartilhar, nem que seja por um átomo de tempo, das mesmas vicissitudes da natureza inclemente. Blasfemam contra a cruz do Calvário ao transformar o sacrifício substituto de Deus Filho / homem perfeito em um meio para ser retirado da comunhão completa com a comunidade humana. Deus se torna um servo das ilusões infantis, não permitindo que Seus filhos (que também são servos) enfrentem oposição, dúvida, dor, desilusão e derrota. Nada disto lembra o Evangelho "pregado de uma vez só aos santos", ao qual "nada se pode acrescentar ou tirar".
(Texto produzido a partir do livro "Orar depois de Freud", de Carlos Domínguez Morano, Edições Loyola 1994)
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