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Palavra do leitor

Onde está Deus, em meio a tudo isso?

Onde está Deus, em meio a tudo isso?



‘’A divisão sempre torna as relações precárias, sujeitas e a mercê de idealismos doentios e em palco de preferências, por onde uns são aceitos e outros excluídos; enquanto isso, o partilhar as acresce, abre espaços e possibilidades para o aprendizado recíproco, para o fluir da imaginação, da criatividade, da inspiração e da solidariedade, da justiça que se volta e compromete a restaurar e reconciliar, resgata a bondade e a beleza da vida. ’’


Quem nunca não fez essa pergunta, ao qual vem como o título desse encontro de palavras, de sentimentos, de sentidos, de percepções e de colocações? Talvez, muitos a considerão como algo desprovido de consenso e fundamento, reflexo de uma postura eminentemente emotiva, movida pelas circunstâncias, por criar expectativas absurdas de si mesmo, por meio do evangelho. Mesmo assim, não dá essa vontade, em certos momentos, quando olhamos para todo um arsenal de atrocidades praticadas pelos homens, aqui, neste oikos, e, sinceramente, parece que nada alterou, com a vinda do Messias e sua ressurreição? Os genocídios, os ditadores megalomaníacos, a fome, a miséria, a violência, a degradação do ser humano, em todos os cantos e recantos prossegue a nos confrontar, dia – a- dia. Mais recentemente, os refugiados sem pátria, sem a possiblidade de recomeçarem, jogados como figuras desprezadas (em espaços cercados), na Europa, apresenta – se sem nenhuma solução. Os encadeamentos de atos terroristas, seja individual ou coletivamente, tem nos assombrado; como também, a opressão de sistemas políticos ditatoriais, por onde as denominadas potencias fazem vistas grossas, caso da Síria - subjugada por um governo espúrio e vituperável. Por ai vai, como aqui, com uma enxurrada de fraudes, de uma política protagonista por, expressamente, alastrar dados alarmantes de desempregados e desesperançados. Sinceramente, onde está Deus, em meio a tudo isso? As vezes, bate uma vontade alardeadora de fechar as portas para a esperança, abrir a gaveta e esconder a bíblia, emudecer – se diante da oração, parar de adorar e permanecer sentado, sem mais nada a abordar. Alias, a situação adquire contornos mais drásticos e perigosos, quando observo uma avalanche de ecos sobre a salvação para seu ego narcisista e, mesmo diante de toda essa apologia triunfalista e ufanista, o por qual motivo uma parte relevante não a vislumbra, então? Vou adiante, há uma ênfase ao progresso exponencial e vertiginoso dos nichos evangélicos e, simultaneamente, o contingente de divisões vão a galope e caminhamos sem uma fé de imaginação, de criatividade, de inspiração, de solidariedade, de uma justiça voltada a restaurar e reconciliar, de um resgate da bondade e da beleza, de uma santidade ao qual nos faça úteis e benéficos, de uma prioridade pelo serviço e não pelo sucesso (pelo culto a si mesmo). Sem delongas, os sinais, os prodígios, as maravilhas e os milagres ocorridos, através de Jesus, culminaram em promover a vida e o recomeçar de vias alternativas de uma humanização saudável e compromissada. Estranhamente, multidões correm tresloucadas a procura de arremedos; enquanto isso, quantos corações se encontram aflitos, num cenário de aparências, com aquela ânsia de soltar o verbo e questionar (onde está Deus, em meio a tudo isso?)? Ora, será aceitável, então, esperar o tocar da trombeta, para ser feito um acerto de contas? Entrementes, chacinas, estupros, hostilidades, discriminações (raciais, étnicas, religiosas, culturais), corrupções, iniquidades, injustiças e sei lá mais o que são parte do script? Verdadeiramente, ao observar os profetas Isaías, Oséias, Amós e demais do velho testamento, percebe – se momentos de chutarem o balde, de ficarem indignados, de escoarem, de suas faces, lágrimas de cóleras, ao folhearem as páginas de tamanhas anomalias. Em narrar todo esse desabafo, adentro num caminho estreito, ou seja, o caminho de ir até o descanso da Graça e não fazer disso uma comiseração, mas sim uma oportunidade para prosseguir para o alvo de não baixar a crista e continuar a ser humano, a ser imagem e semelhança de um Deus de sonhos e irreverências, de um chamado para o partilhar da vida e não sua divisão, não sua dicotomia, não sua dissenção, não sua desencarnação, não sua desalmação.
São Paulo - SP
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