Palavra do leitor
- 31 de julho de 2024
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O vendedor de mirra
O deserto escaldante por onde passava todas as vezes que ia para Gaza, após dias de caminhada desde Medina, na antiga Arábia, não desanimava Faruk. Já estava familiarizado com a aridez e perigo da estrada, sempre cercada de ladrões e salteadores. Os bons lucros oriundos da venda da mirra compensavam as dificuldades da longa viagem. Com sua equipe de homens experientes em seus camelos comprados no Egito, o vendedor árabe cruzava Israel duas vezes ao ano para comprar a matéria-prima responsável pela fabricação de medicamentos e cosméticos.
Mas aquela primeira jornada daquele distante ano seria marcada por um encontro único na vida de Faruk. Jamais poderia imaginar que em pleno deserto conheceria alguém tão sábio, tão amoroso, tão humano. Nem no melhor dos seus sonhos algo tão extraordinário havia já acontecido. O deserto era para ele apenas um espaço a ser percorrido e vencido em busca do produto que era tão raro e tão caro, o que fez dele um dos homens mais ricos do Oriente Médio. Contudo, havia um grande vazio em seu coração.
Numa noite estrelada e fria, o experiente comerciante resolveu sair de sua tenda, armada para uma noite de descanso durante a viagem. Gostava de caminhar sozinho pelas areias. O silêncio do deserto, quebrado apenas por fortes ventos orientais, era seu principal companheiro. Até que um estranho apareceu em seu caminho. Estava sozinho, diante de uma fogueira com poucos galhos. Magro, barba despenteada, porém com um sorriso meigo e um olhar amoroso. Parecia uma mistura de rabino e sacerdote. Mas era mais que isso.
— O que fazes por aqui?, perguntou o homem a Faruk em tom compassado. — Estou em viagem a Gaza. Sou comerciante de mirra. Ando por essas bandas há muito tempo, respondeu. — E tu?
— Sou de Nazaré, e estou aqui para ser revestido de poder antes de iniciar uma grande missão. No deserto ouvimos melhor e falamos pouco, olhamos mais para dentro e para o alto. Como num espelho, o deserto nos mostra quem somos. Você sabe quem és tu, de fato? — O que queres realmente, quando buscas por riquezas?
O que se seguiu foi uma longa e profunda conversa quando o coração de Faruk foi escancarado e suas crenças estilhaçadas. Descobriu que sua fé era uma mera crença em tradições e que seu coração precisava ser transformado e toda sua vida, refigurada. Começando a falar de sua história desde o berço, aquele estranho profeta conhecia toda a história e necessidades de Faruk. Ao final do encontro, já quase ao amanhecer, deu-lhe um abraço transmitindo poder e afeto. O árabe voltou para a tenda e continuou sua viagem. Mas, não era mais o homem que havia saído de Medina. Os braços que lhe abraçaram naquela noite fria trouxeram um novo significado à sua outrora insignificante existência.
Nunca mais veria aquele solitário homem até o dia, estando em Jerusalém, em que foi solicitado a fornecer óleo de mirra para o corpo de um condenado que tinha sido crucificado. Era um domingo. Ao chegar no local combinado, o sepulcro estava aberto, a pedra removida. Alguém havia saído de lá. Apenas um lençol podia ser visto sobre um arbusto.
Uma mulher assustada e chorando estava próximo ao local. De repente, um homem de branco dela se aproxima. — Maria, disse suavemente. Aquela voz era familiar à Faruk. Era a mesma que havia se dirigido a ele anos atrás no deserto da Judeia trazendo-lhe esperança ao seu coração. — Rabôni, disse a mulher se prostrando aos pés do ressuscitado.
Nenhum dos dois viu o vendedor de mirra. Mas não era necessário. Daquele dia em diante deixou para trás tudo o que ainda lhe era fardo. Deixou a venda de mirra e tudo o mais que lhe consumia para trás e como aquela mulher, passou a anunciar a todo o mundo: "Eu vi o Senhor". Jo 20.18
Tony Oliveira - Autor do livro "Pingos da Graça".
Para outros textos do autor, acesse o Blog: https://pingosdagraca.wordpress.com/
Mas aquela primeira jornada daquele distante ano seria marcada por um encontro único na vida de Faruk. Jamais poderia imaginar que em pleno deserto conheceria alguém tão sábio, tão amoroso, tão humano. Nem no melhor dos seus sonhos algo tão extraordinário havia já acontecido. O deserto era para ele apenas um espaço a ser percorrido e vencido em busca do produto que era tão raro e tão caro, o que fez dele um dos homens mais ricos do Oriente Médio. Contudo, havia um grande vazio em seu coração.
Numa noite estrelada e fria, o experiente comerciante resolveu sair de sua tenda, armada para uma noite de descanso durante a viagem. Gostava de caminhar sozinho pelas areias. O silêncio do deserto, quebrado apenas por fortes ventos orientais, era seu principal companheiro. Até que um estranho apareceu em seu caminho. Estava sozinho, diante de uma fogueira com poucos galhos. Magro, barba despenteada, porém com um sorriso meigo e um olhar amoroso. Parecia uma mistura de rabino e sacerdote. Mas era mais que isso.
— O que fazes por aqui?, perguntou o homem a Faruk em tom compassado. — Estou em viagem a Gaza. Sou comerciante de mirra. Ando por essas bandas há muito tempo, respondeu. — E tu?
— Sou de Nazaré, e estou aqui para ser revestido de poder antes de iniciar uma grande missão. No deserto ouvimos melhor e falamos pouco, olhamos mais para dentro e para o alto. Como num espelho, o deserto nos mostra quem somos. Você sabe quem és tu, de fato? — O que queres realmente, quando buscas por riquezas?
O que se seguiu foi uma longa e profunda conversa quando o coração de Faruk foi escancarado e suas crenças estilhaçadas. Descobriu que sua fé era uma mera crença em tradições e que seu coração precisava ser transformado e toda sua vida, refigurada. Começando a falar de sua história desde o berço, aquele estranho profeta conhecia toda a história e necessidades de Faruk. Ao final do encontro, já quase ao amanhecer, deu-lhe um abraço transmitindo poder e afeto. O árabe voltou para a tenda e continuou sua viagem. Mas, não era mais o homem que havia saído de Medina. Os braços que lhe abraçaram naquela noite fria trouxeram um novo significado à sua outrora insignificante existência.
Nunca mais veria aquele solitário homem até o dia, estando em Jerusalém, em que foi solicitado a fornecer óleo de mirra para o corpo de um condenado que tinha sido crucificado. Era um domingo. Ao chegar no local combinado, o sepulcro estava aberto, a pedra removida. Alguém havia saído de lá. Apenas um lençol podia ser visto sobre um arbusto.
Uma mulher assustada e chorando estava próximo ao local. De repente, um homem de branco dela se aproxima. — Maria, disse suavemente. Aquela voz era familiar à Faruk. Era a mesma que havia se dirigido a ele anos atrás no deserto da Judeia trazendo-lhe esperança ao seu coração. — Rabôni, disse a mulher se prostrando aos pés do ressuscitado.
Nenhum dos dois viu o vendedor de mirra. Mas não era necessário. Daquele dia em diante deixou para trás tudo o que ainda lhe era fardo. Deixou a venda de mirra e tudo o mais que lhe consumia para trás e como aquela mulher, passou a anunciar a todo o mundo: "Eu vi o Senhor". Jo 20.18
Tony Oliveira - Autor do livro "Pingos da Graça".
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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