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Palavra do leitor

O suicídio e a graça

(textos bíblicos Atos 1. 15 a 19)

"O que lemos hoje, as relações estabelecidas e firmadas, além daqueles que mais nos influenciam; sem sombra de dúvida, constituir-se-ão nos elementos determinantes da nossa história!"

A maior prova conferida ao ser humano está pautada na decisão de acatar ou atacar a vida. Por sinal, poder abraçá-la ou descartá-la, soerguê-la ou destruí-la. Desde já fomento irmos as entranhas desse desalinhavado ensaio a efeito de extrairmos certas reflexões. Não dá, evidentemente, para tampar o sol com a peneira, ofuscar a complexidade, as tensões e ambigüidades do tema. Muitos escoradas numa visão radical-entusiástica da fé, em hipótese nenhuma, cogitaram sobre uma justificativa do protagonista do suicídio. Noutro lado do rio, ecos de objeção verberarão "o espera aí", "quem somos nós para amordaçar alguém na culpa e condenação". Vou mais além e ouso dizer haver no ser humano a liberdade para incorrer em respectiva decisão de destruição da vida. Ora, simplesmente essas frases podem desencadear a mais letal e dantesca das apostasias. Mesmo assim, seria elucidativo cotejar ou comparar o cru e nu suicídio com atos de sacrifício motivados por um bem maior? Não seria concepções e motivações distintas? Sigo a escavar o assunto e devemos lembrar do exercício da liberdade configura factivelmente o direito de preservarmos, ampliarmos e consolidarmos a vida. Sem liberdade, a vida sucumbe na tirania. Fica vulnerável a injustiça, a líderes facínoras, as mais variadas formas de violência e desumanização. Não aspira a estética da natureza, do outro e de si mesmo. Não contempla a capacidade de penar, amar, sonhar, sorrir e outras idiossincrasias. Não compreender a relevância do nós, do nosso e outro na sua história. Em contrapartida, no exercício da liberdade, o ser humano pode facilmente culminar na arbitrariedade, no descalabro e na pauperização da vida. Por mais paradoxal possa ser essa afirmação. Nisto quero dizer assumir o papel de arquiteto de sua origem; o senhor absoluto de seu destino, sua motivação e sentido. De bom grado, esquiva-se e acaba por desvencilha-se de enfrentar as agruras, os azedumes e mazelas de situações adversas, de falências, de perdas, de derrotas. Enfim, sem dar qualquer alternativa para o recomeçar!

As ponderações feitas abrem o leque para a redundante conclusão de o suicídio representar uma decisão singular do ser humano. Nada resolve trilhamos pela visão de conceber o suicídio segundo uma conotação aviltante e aterradora. O quanto somos inclinados a estabelecer o veredicto de um ato abjetável. Sem dó nem piedade, os nossos olhos são insuflados a atribuir ao protagonista desse impactante ato como hipócrita, débil, covarde e não merecedor da vida. Cabe salientar, o suicídio pode ser visto como o último esforço humano de estabelecer um sentido, uma motivação e um destino a vida? De tudo isso, o suicídio causa repulsa, suscita o martelo da mais flamejante condenação e malgrado as respectivas manifestações, não consegue ser apreciado e submetido ao crivo do Tribunal dos homens. Qual seria ou quem poderia exercer concernente função? É de bom alvitre ressaltar e sempre, o suicídio retrata uma completa e explícita aversão de um Deus compromissado e comprometido em acompanhar o ser humano. Seja nas intempéries! Seja nas abonanças! Vale notar, o suicídio implica na perda indubitável da fé. Isto traz a questão da falta dela, de não admitir nem sequer reconhecer o esplendor da vida humana. De forma funesta, o suicídio execra, nega taxativamente o Criador da vida. Neste itinerário vasculhamos a Bíblia e não detectamos uma proibição expressa, quanto ao ato de destruir a própria vida; embora, não o defenda. Simplesmente, procura atrair o desesperado para a Graça, o recomeçar, o pulsar da vida, o ideal da vida; ou seja, o Deus-ser humano, amigo e companheiro Cristo Jesus. Em resumidas palavras, ir ao açude da misericórdia, sem pieguice ou comiseração, do toque complacente e alentador desse Cristo. No estágio catastrófico do desespero, novos ditames legais, a revitalização de velhos princípios e parâmetros doutrinários e dogmáticos, o recrudescer da condenação e outros adendos apresentam um desempenho pífio. Pra não dizer: inócuo! Destarte, a oferta de uma vida restaurada, na vivência da Graça, por meio da ação interventora do Deus-ser humano, amigo e companheiro Jesus Cristo, por um espírito, um ethos e uma psique banhadas pelo sorriso e lenitivo da alegria de ser imago dei. É bem verdade, as paixões e as circunstâncias de uma vida sujeita as falências; ao vazio e a dúvida atordoadora, a falta de sentido, motivação e destino podem eclodir, até no cristão, a decisão por essa vida de auto-extermínio. Torna-se imprescindível levamos em conta que leis humanas, divinas e racionais não disponibilizam as condições necessários a efeito de frear ta decisão. Ademais, o consolo lenitivo da Graça, da saudável participação solidária e fraternal da intercessão comunitária.
São Paulo - SP
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