Palavra do leitor
- 21 de janeiro de 2013
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O suicídio (?) de Walmor Chagas
Todos estão surpresos ante às evidências incisivas que o ator-diretor, Walmor Chagas, tenha se suicidado na cidade de Guaratinguetá, SP.
Aqueles que o conheceram tecem elogios somente, tanto a seu reconhecido talento, quanto ao caráter.
Sabe-se que sofria com diabetes, e estava perdendo gradativamente a visão. Foi casado uma vez apenas, raro em seu meio, e era pai de uma filha. Não dá para ouvir tal notícia, tampouco discorrer sobre ela, sem certa tristeza, por mais distantes que sejamos da pessoa envolvida.
Sociólogos, psicólogos, filósofos, debruçaram-se sobre o tema do suicídio em diversas apreciações, e desconheço um que tenha produzido um texto cabal sobre assunto tão polêmico. Tampouco eu pretendo tanto, com minha limitada percepção, e num breve ensaio como esse.
Napoleão Bonaparte, possivelmente aconselhado por alguém durante seus dias humilhantes em Elba teria dito: “Não há nada de grande em acabar com a própria vida como quem perdeu tudo no jogo; resistir a um infortúnio imerecido requer muito mais coragem.” Orgulho, pois, era sua força.
Schopenhauer por sua vez, em seu tratado sobre o livre arbítrio disse mais ou menos o seguinte: “Ninguém de posse de um revólver, por exemplo, poderá dizer: Vejam tenho poder para me matar. Na verdade possui apenas os meios. Para poder, carece de um motivo que seja maior que o amor à vida, e que o temor da morte.”
Numa entrevista pretérita reexibida na TV, ele disse que seria bom se a morte chegasse de repente, como numa queda de avião, mero sair de cena. De certa forma, buscou e achou isso, se, confirmado o suicídio.
Seria muito fácil a conclusão “Bíblica” simplista “Não matarás”; afinal, isso está preceituado lá. Acontece que o matar é ingerência violenta no arbítrio de terceiros; já, o suicídio, a gestão do próprio. Ademais, há registros de personagens que se suicidaram, como o rei Saul, por exemplo, Sansão, o primeiro "kamikaze", e silêncio bíblico sobre tal ato. Quando o Senhor lança um ai sobre a sorte de Judas, não se pode concluir que se refere necessariamente à forma de sua morte, mas, pode aludir antes, ao destino sombrio da sua alma.
Quando quis ilustrar a forma perfeita de amar, Jesus disse: “Ama teu próximo como a ti mesmo.” Isso implica que amor próprio é inato a todo ser humano.
Quando alguém vocifera “em contrário”, eu me odeio; isso requer uma análise mais apurada. A rigor, são pessoas em situações de tristeza imensa, abandono, dor, que dizem tais coisas. Ora, se fosse mesmo verdade, deveriam estar contentes por tudo ir mal para quem odeiam; mas, ao se revoltarem ante os revezes mostram excesso de amor próprio, inaptidão para suportar o peso de circunstâncias adversas. Essas sim, as adversidades, odeiam.
Assim, quando tudo parece ir mal, fraqueza, solidão, enfermidade, e alguém olha para o suicídio como meio de evadir-se a isso, seu motor é o amor, ou o desprezo pela vida?
Confesso-me incapaz de tecer um veredicto, afinal quando mais jovens “sabemos tudo” e com o passar do tempo, começamos a duvidar de nossa “sabedoria” de antes; quanto mais alto o sol, menor a sombra. Agora, tateamos sentenças entre coragem e covardia, dignidade e ignomínia, e todas resultam deveras sutis, ao nosso tato tão rudimentar.
Entretanto, a intenção com que algo é dito ou feito, acaba valorando, “lato sensu”, tal atitude. E se a intenção for fugir de uma dor insuportável, atire a primeira pedra, o “juiz” que não se identificaria em muito com tal “réu”.
Mesmo o mais sábio dentre os homens, Salomão, não ousou incursionar nos domínios íntimos do coração, em se tratando de valorar sentimentos, pois, disse: “O coração conhece a sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo da sua alegria.” Pv 14; 10
"O homem que atenta contra os seus dias revela menos o vigor da alma do que a fraqueza da natureza." François Chateaubriand
Aqueles que o conheceram tecem elogios somente, tanto a seu reconhecido talento, quanto ao caráter.
Sabe-se que sofria com diabetes, e estava perdendo gradativamente a visão. Foi casado uma vez apenas, raro em seu meio, e era pai de uma filha. Não dá para ouvir tal notícia, tampouco discorrer sobre ela, sem certa tristeza, por mais distantes que sejamos da pessoa envolvida.
Sociólogos, psicólogos, filósofos, debruçaram-se sobre o tema do suicídio em diversas apreciações, e desconheço um que tenha produzido um texto cabal sobre assunto tão polêmico. Tampouco eu pretendo tanto, com minha limitada percepção, e num breve ensaio como esse.
Napoleão Bonaparte, possivelmente aconselhado por alguém durante seus dias humilhantes em Elba teria dito: “Não há nada de grande em acabar com a própria vida como quem perdeu tudo no jogo; resistir a um infortúnio imerecido requer muito mais coragem.” Orgulho, pois, era sua força.
Schopenhauer por sua vez, em seu tratado sobre o livre arbítrio disse mais ou menos o seguinte: “Ninguém de posse de um revólver, por exemplo, poderá dizer: Vejam tenho poder para me matar. Na verdade possui apenas os meios. Para poder, carece de um motivo que seja maior que o amor à vida, e que o temor da morte.”
Numa entrevista pretérita reexibida na TV, ele disse que seria bom se a morte chegasse de repente, como numa queda de avião, mero sair de cena. De certa forma, buscou e achou isso, se, confirmado o suicídio.
Seria muito fácil a conclusão “Bíblica” simplista “Não matarás”; afinal, isso está preceituado lá. Acontece que o matar é ingerência violenta no arbítrio de terceiros; já, o suicídio, a gestão do próprio. Ademais, há registros de personagens que se suicidaram, como o rei Saul, por exemplo, Sansão, o primeiro "kamikaze", e silêncio bíblico sobre tal ato. Quando o Senhor lança um ai sobre a sorte de Judas, não se pode concluir que se refere necessariamente à forma de sua morte, mas, pode aludir antes, ao destino sombrio da sua alma.
Quando quis ilustrar a forma perfeita de amar, Jesus disse: “Ama teu próximo como a ti mesmo.” Isso implica que amor próprio é inato a todo ser humano.
Quando alguém vocifera “em contrário”, eu me odeio; isso requer uma análise mais apurada. A rigor, são pessoas em situações de tristeza imensa, abandono, dor, que dizem tais coisas. Ora, se fosse mesmo verdade, deveriam estar contentes por tudo ir mal para quem odeiam; mas, ao se revoltarem ante os revezes mostram excesso de amor próprio, inaptidão para suportar o peso de circunstâncias adversas. Essas sim, as adversidades, odeiam.
Assim, quando tudo parece ir mal, fraqueza, solidão, enfermidade, e alguém olha para o suicídio como meio de evadir-se a isso, seu motor é o amor, ou o desprezo pela vida?
Confesso-me incapaz de tecer um veredicto, afinal quando mais jovens “sabemos tudo” e com o passar do tempo, começamos a duvidar de nossa “sabedoria” de antes; quanto mais alto o sol, menor a sombra. Agora, tateamos sentenças entre coragem e covardia, dignidade e ignomínia, e todas resultam deveras sutis, ao nosso tato tão rudimentar.
Entretanto, a intenção com que algo é dito ou feito, acaba valorando, “lato sensu”, tal atitude. E se a intenção for fugir de uma dor insuportável, atire a primeira pedra, o “juiz” que não se identificaria em muito com tal “réu”.
Mesmo o mais sábio dentre os homens, Salomão, não ousou incursionar nos domínios íntimos do coração, em se tratando de valorar sentimentos, pois, disse: “O coração conhece a sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo da sua alegria.” Pv 14; 10
"O homem que atenta contra os seus dias revela menos o vigor da alma do que a fraqueza da natureza." François Chateaubriand
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