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Palavra do leitor

O Sofrimento do Cristão

O Irmão André, fundador de uma Missão voltada à Igreja Perseguida, costumava testemunhar uma reunião com irmãos da chamada Igreja sofredora da antiga cortina de ferro, em uma casa de família. Havia uma tensão devida ao aprisionamento de um dos irmãos da localidade. Por coincidência, a visita do Irmão André aconteceu no mesmo dia em que aquele irmão foi solto e os dois se encontraram nessa reunião. Todos ficaram em silêncio, no início. Então o ex-prisioneiro iniciou o seguinte diálogo com o André:
Ex-prisioneiro -André, está tudo bem com você?
André: Sim, tudo bem.
Ex-prisioneiro - E lá em seu País, tudo bem com os irmãos, eles não estão sob perseguição?
André: Sim, tudo ótimo, mesmo. Nenhum cristão é perseguido em meu país?
Ex-prisioneiro – E o que vocês fazem com o texto de II Timóteo 3:12?
André abriu sua Bíblia e leu em voz alta:
“De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.”

Em 1992 atravessei o ano em grande crise. Não tinha vontade de sair de casa e era difícil levantar da cama. Na verdade tinha medo de sair. Perguntava-me o tempo todo, o que mais haveria de me acontecer. Nesse tempo duro tive a ajuda paciente e essencial do Dr. Zenon Lotufo Jr. Ele sempre me incentivou a ler como uma parte do tratamento. Então, resolvi entender o sofrimento de um cristão, através da leitura. Dentre os livros lidos, destacaria “Cristo e o Sofrimento Humano” E. Stanley Jones – Ed. Vida, “O problema do Sofrimento” C. S. Lewis – Ed. Mundo Cristão, “Don’t Waste Your Sorrows” Paul E. Billheimer – CLC Inc. e “Onde está Deus quando chega a dor” Philip Yancey – Ed. Vida. Claro que, uma parte das minhas aflições, naquele momento, eram agravadas pela questão do cristão em sofrimento. Havíamos vivido muito tempo, sem perceber, sob a crença de que os cristãos são poupados do sofrimento.
Aprendi, então muitas lições importantes sobre o sofrimento. Stanley Jones me ensinou que o sofrimento pode ser uma tremenda força motivadora, se transformado em testemunho. C. S. Lewis me ensinou que o sofrimento torna-se o megafone de Deus. Não é fácil falar conosco. Até Deus precisa fazer grande esforço para conseguir nossa atenção... e minha filha reclama que eu não a escuto, imagine. Billheimer ensinou-me que viver é aprender o amor ágape de Deus. Yancey é a própria síntese perfeita de todas essas propostas.

Assim, descobri que minha comunhão com Deus é crítica, sempre. Sei o que me espera se entrar em Sua presença, de fato. Oro, busco, mas, no fundo, espero não encontrá-lo, por mais paradoxal que isso possa parecer.

Quando estou na Gruta, em fuga dos meus perseguidores, sei que Ele vai falar comigo. Nada vai impedi-lo. Nesses momentos estou quebrado demais para fugir e daqui não há para onde ir.

Deus nem precisa me dizer nada. Na verdade, eu já sei o que Ele quer. As palavras de Eugênio Debs explicam: “Anos atrás reconheci o meu parentesco com todos os seres humanos e resolvi não ser absolutamente superior ao mais ínfimo ser da terra. Disse então, e o digo agora, que enquanto houver uma classe inferior, pertenço a ela. Enquanto houver uma classe de criminosos, dela faço parte. Enquanto houver uma alma na prisão, não sou livre. (Citado em Cristo e o Sofrimento Humano – E. Stanley Jones) Acrescento a isso, ainda: Enquanto houver alguém preso à um leito pela enfermidade, não estarei são. Enquanto houver uma criança ou adulto perambulando pelas ruas, não estarei abrigado. Enquanto houver guerra não estarei em paz. Enquanto houver um único ser a mendigar o pão, não estarei alimentado.

Ao tornar-me um cristão, optei por tomar a minha cruz e seguir a de Cristo. Ele não veio para os sãos, mas para os enfermos. Os cristãos são perseguidos porque não podem parar sofrer pelo próximo.

Meu sofrimento é uma gotinha caindo no oceano com a mensagem do sofrimento de milhares e milhares de pessoas, seres humanos, mundo afora. Deus não descansará diante da miséria presente nesse mundo. Em sua luta Ele continuará incomodando aqueles que fizeram com Ele o pacto da vida através da morte. Esses foram chamados para aliviar as dores dos que sofrem e Deus conta com esses poucos. “A seara é grande e os trabalhadores poucos” e eu acrescentaria: e difíceis de lidar.

Não há tempo melhor do que quando estou envolvido em algum projeto capaz de aliviar as dores das pessoas. Nesses momentos, sofro com elas, mas percebo que meu sofrimento pessoal diminui. Mas procrastino, recalcitro, evito pegar o arado. Sofro e faço todos a minha volta sofrerem. Ah! Miserável homem que sou.
São Paulo - SP
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Site: http://agrutadolou.com.br
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