Palavra do leitor
- 07 de outubro de 2019
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O silêncio que fala
Esses dias fui cultuar a Deus numa igreja evangélica na cidade de São Paulo, uma das mais antigas do país. De fora, sua arquitetura de características góticas já contrastava com a leveza e a contemporaneidade dos arranha-céus da grande capital econômica do Brasil. O ambiente interno dizia muito daquela catedral. Seus bancos antigos de madeira maciça revelavam suas muitas décadas de história; suas paredes acinzentadas nos transportavam aos velhos mosteiros da Idade Média; seu gigante órgão nos convidava a um clima de meditação e sossego através do canto que saía de seus majestosos tubos; a cruz celta pendurada no teto não deixava dúvidas: estávamos numa igreja presbiteriana, cujas raízes remotam à velha Escócia, berço de Jonh Knox, o grande reformador que um dia bradou aos céus: "Senhor, dá-me esta nação, ou morrerei", um apelo apaixonado de um homem que queria a salvação de seus compatriotas.
O culto foi algo bem diferente daqueles que acontecem nas demais igrejas evangélicas, inclusive nas igrejas protestantes históricas. Logo de início, fomos convidados a entrar num clima de silêncio para que pudéssemos assimilar, acessar melhor tudo o que seria ali feito com o único objetivo de prestar um culto a Deus simplesmente ouvindo sua voz através da leitura da sua Palavra. Não houve pregação, nem cânticos "gospel", nem apelos emocionais; apenas oração, meditação e ceia. Para contribuir com o clima de introspecção e reflexão, a iluminação fora reduzida à meia-luz. Quase como numa sessão de cinema. Logo percebi que o culto seria no estilo "Lectio Divina", ou Leitura Orante, que é uma prática e método de oração, reflexão e contemplação praticados pela igreja cristã desde tempos antigos, particularmente nos mosteiros beneditinos. Consiste na prática de oração e leitura das Escrituras e tem o intuito de promover a comunhão com Deus e aumentar o conhecimento da sua Palavra. Infelizmente, prática abandonada pela maioria da cristandade.
Que grande desafio foi permanecer naquele ambiente cúltico onde quase dava para ouvir as batidas dos corações dos poucos participantes. Quão difícil tem sido nos desconectarmos, abandonarmos a "zona do wi-fi". Percebi o quanto estamos acostumados e viciados num ambiente de muitas vozes, com muitos estímulos visuais e sonoros, como se somente assim pudéssemos adorar a Deus como comunidade. Grande engano. Numa era de comunicação rápida, instantânea, onde nos sentimos obrigados e somos instados a responder às mensagens nos nossos celulares segundos após recebê-las, nos tornamos escravos do barulho que nos rodeia, escravos das ondas sonoras que, como raios, penetram nossas mentes deixando-as em constante estado de adrenalina. Até mesmo em nossos templos, quando deveríamos nos aquietar na presença do Altíssimo, presenciamos a ânsia desvairada pelos estímulos externos. Somos bombardeados o dia todo de informações, a maioria fúteis e desnecessárias, que nos roubam um precioso tempo que não mais voltará. Momentos que poderiam ser vividos, com qualidade, com quem amamos. Momentos que poderiam ser eternizados e dos quais sentiremos saudades.
Certo dia, Jesus, ensinando a seus discípulos, ainda neófitos na longa caminhada que se iniciava, sobre como ter mais intimidade com Yaveh, disse: "Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará" (Mt 6.6). Ou seja, no silêncio de um quarto escuro, sem barulhos, sem conversas paralelas, sem interferências, sem pressa, Deus pode falar conosco e revelar ao nosso coração inquietante sua vontade e sua direção. Pode nos responder e nos acalmar, nos libertar das nossas vãs preocupações, ordenar que os ventos e bravos mares da nossa existência sejam contidos. E mais, podemos o adorar com mais solitude e sentir sua doce presença, seu bom perfume, e como a mulher que sofria a anos com uma doença incurável, sentir a virtude que flui do Filho, quando tocado em suas vestes.
Sim, o silêncio pode falar. Pode ser libertador. O Deus criador do universo, sustentador do cosmos, pode falar através de uma sarça ardente que não se consome, através de um velho profeta nas páginas do Velho Testamento ou de um grande pregador por epístolas pastorais, ou ainda de um magnifico coral com seus trompetes e seus sopranos, mas também pode falar no silêncio de um deserto, na calmaria de uma madrugada, numa sombra de uma frondosa árvore, no burburinho de uma chuva que cai numa tarde de sábado ou numa noite calma, serena, numa velha catedral. Enfim, o Altíssimo não está preso a regras e circunstâncias. Fala quando quer, onde quer e com quem Ele quer. Como o vento, seu Espírito sopra de qualquer direção e alcança sempre o que lhe apraz. Afinal, Ele é o Grande "Eu Sou, O que era e O que há de vir".
• Presbítero Tony
Graduado em Liderança - Haggai International
faos.ead@gmail.com
O culto foi algo bem diferente daqueles que acontecem nas demais igrejas evangélicas, inclusive nas igrejas protestantes históricas. Logo de início, fomos convidados a entrar num clima de silêncio para que pudéssemos assimilar, acessar melhor tudo o que seria ali feito com o único objetivo de prestar um culto a Deus simplesmente ouvindo sua voz através da leitura da sua Palavra. Não houve pregação, nem cânticos "gospel", nem apelos emocionais; apenas oração, meditação e ceia. Para contribuir com o clima de introspecção e reflexão, a iluminação fora reduzida à meia-luz. Quase como numa sessão de cinema. Logo percebi que o culto seria no estilo "Lectio Divina", ou Leitura Orante, que é uma prática e método de oração, reflexão e contemplação praticados pela igreja cristã desde tempos antigos, particularmente nos mosteiros beneditinos. Consiste na prática de oração e leitura das Escrituras e tem o intuito de promover a comunhão com Deus e aumentar o conhecimento da sua Palavra. Infelizmente, prática abandonada pela maioria da cristandade.
Que grande desafio foi permanecer naquele ambiente cúltico onde quase dava para ouvir as batidas dos corações dos poucos participantes. Quão difícil tem sido nos desconectarmos, abandonarmos a "zona do wi-fi". Percebi o quanto estamos acostumados e viciados num ambiente de muitas vozes, com muitos estímulos visuais e sonoros, como se somente assim pudéssemos adorar a Deus como comunidade. Grande engano. Numa era de comunicação rápida, instantânea, onde nos sentimos obrigados e somos instados a responder às mensagens nos nossos celulares segundos após recebê-las, nos tornamos escravos do barulho que nos rodeia, escravos das ondas sonoras que, como raios, penetram nossas mentes deixando-as em constante estado de adrenalina. Até mesmo em nossos templos, quando deveríamos nos aquietar na presença do Altíssimo, presenciamos a ânsia desvairada pelos estímulos externos. Somos bombardeados o dia todo de informações, a maioria fúteis e desnecessárias, que nos roubam um precioso tempo que não mais voltará. Momentos que poderiam ser vividos, com qualidade, com quem amamos. Momentos que poderiam ser eternizados e dos quais sentiremos saudades.
Certo dia, Jesus, ensinando a seus discípulos, ainda neófitos na longa caminhada que se iniciava, sobre como ter mais intimidade com Yaveh, disse: "Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará" (Mt 6.6). Ou seja, no silêncio de um quarto escuro, sem barulhos, sem conversas paralelas, sem interferências, sem pressa, Deus pode falar conosco e revelar ao nosso coração inquietante sua vontade e sua direção. Pode nos responder e nos acalmar, nos libertar das nossas vãs preocupações, ordenar que os ventos e bravos mares da nossa existência sejam contidos. E mais, podemos o adorar com mais solitude e sentir sua doce presença, seu bom perfume, e como a mulher que sofria a anos com uma doença incurável, sentir a virtude que flui do Filho, quando tocado em suas vestes.
Sim, o silêncio pode falar. Pode ser libertador. O Deus criador do universo, sustentador do cosmos, pode falar através de uma sarça ardente que não se consome, através de um velho profeta nas páginas do Velho Testamento ou de um grande pregador por epístolas pastorais, ou ainda de um magnifico coral com seus trompetes e seus sopranos, mas também pode falar no silêncio de um deserto, na calmaria de uma madrugada, numa sombra de uma frondosa árvore, no burburinho de uma chuva que cai numa tarde de sábado ou numa noite calma, serena, numa velha catedral. Enfim, o Altíssimo não está preso a regras e circunstâncias. Fala quando quer, onde quer e com quem Ele quer. Como o vento, seu Espírito sopra de qualquer direção e alcança sempre o que lhe apraz. Afinal, Ele é o Grande "Eu Sou, O que era e O que há de vir".
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