O ser, estar, e vir a ser

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Sequer os grandes pensadores pretéritos lograram uma definição satisfatória do ser, não seria eu que conseguiria. Para efeito dessa investigação, tomarei como base uma definição simplista; a essência da personalidade de alguém.

O estar, contudo, é muito mais uma circunstância que qualidade, tipo. O vir a ser, apenas uma possibilidade, derivada de um querer.

É sabido que do arcabouço cultural, do meio, se forjam as experiências, e essas, podem, senão moldar o ser, ao menos, influenciar. Não raro alguém ao agir de modo peculiar, ainda que estúpido, se diz: “ele é assim mesmo”, de modo que, seu agir, mostraria o ser. Aliás, Salomão disse que, “até uma criança se dá a conhecer por suas obras.”

Então, uma investigação equilibrada do ser, demanda conhecer o agir. Um dito popular advoga que até o estar, mostraria o ser; “diga-me com quem andas, e te direi quem és”. Em linhas gerais isso se verifica, contudo, pode ser um prisma ilusório para se perscrutar ao ser.

Lembro uma cena do excelente filme “Um sonho de liberdade” onde depois de fugir, o personagem que fora preso inocente, interpretado por Tim Robins, foi assim avaliado; “Suas penas tinham outro brilho”; ou seja, ele não era um de nós, posto estar também preso.

A clássica alegoria da caverna de Platão mostra isso. Um depositário de uma luz superior, que imerso no reino das sombras, foi reputado louco, o que se referia, provavelmente, à sina de Sócrates, o qual por ver mais que seus coevos, acabou morto, malgrado sua integridade. Platão narra como sendo do mesmo Sócrates a alegoria, assim, teria sido tristemente profética.

Então, é possível estar numa pocilga sem ser porco, no Congresso sem ser corrupto, numa igreja, sem ser cristão.

Quanto ao vir a ser, há uma fortaleza a ser conquistada, chamada vontade. Em defesa dos mais questionáveis comportamentos, se ouve afirmações positivas, tipo, cada um deve ter a coragem de ser o que é. Assim sendo, anula-se a necessidade de um vir a ser, em virtude de uma obra “acabada”.

Nessa peleja entre as inclinações sensuais e os valores morais, Demócrito disse o que segue: “Convém ao homem dar maior atenção à Alma do que ao corpo, pois a excelência da Alma corrige a fraqueza do corpo; a fraqueza do corpo,
contudo, sem a razão, é incapaz de melhorar a Alma.”

Hoje uma querida amiga virtual, Luciana Monteiro, perguntou-me pela minha formação; respondi que em teologia, não nos formamos nunca, afinal, seria pretensioso demais, pretender ser especialista em Deus. O que podemos e devemos, é conhecer o que Ele revelou, e saber como interpretar e transmitir.

Aliás, o ensino cristão é um constante desafio do vir a ser, uma meta intangível “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,” Ef 4; 13

Então, quando alguém louva atitudes ainda que devassas porque alguém tem a coragem de ser como é, eu devo me sentir um covarde por ter como meta um vir a ser melhor? Esses, exortados a uma postura Bíblica, asseveram que nasceram assim e não vão mudar.

Ora, eu nasci inclinado ao roubo, ao adultério, à mentira e a toda sorte de vícios; desafiado com o vir a ser de Cristo, “tome sua cruz e siga-me” fui ajudado pelo Espírito Santo, e melhorei bastante; porém falta muito chão.

Alguns imaginam que se possa “cristianizar” alguém de fora para dentro. Isso se dá, por exemplo, com o batismo infantil. Joga-se três gotas d’água na testa e o bebê já não é pagão, ridículo!

O Senhor ensinou: “O que crer e for batizado será salvo.” Quem crê, crê em alguma coisa ou alguém, de modo que o desafio do vir a ser deve ser aceito voluntariamente, depois, passa a estar no cainho do aprendizado de um novo ser.

O “cristianismo” por atacado é bastante observável em nosso país. Pendura-se um crucifixo em determinada repartição onde grassa toda sorte de corrupção e pronto: Aquela é uma instituição cristã (???) Ostentar um amuleto não cristianiza nada; frequentar uma igreja alheio às mudanças que a Bíblia preceitua, transforma alguém em cristão, como morar numa garagem transformaria em carro.

Nessa sociedade já não há vir a ser, antes, se dissemina comportamentos e depois legitima; o empírico vira preceito, o carro precede os bois.

Quando não restam metas a atingir, possivelmente é porque já chegamos lá. E “lá” é o paraíso da libertinagem da corrupção do vício. Se algum “retrógrado” ousar apontar para um vir a ser, esse ser, estará amordaçado.

“Mestre não é aquele que aprendeu a ensinar, mas aquele que ensina a aprender.” Marcelo Soriano

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Opinião do leitor