Palavra do leitor
- 07 de maio de 2008
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O Salvador e o Consolador: a diferença
O ciclone em Mianmar, que pode ter deixado 100 mil mortos, nos faz lembrar a tragédia do Tsunami e as palavras apaixonadas de Ricardo Gondim naquela ocasião: "há muitas lágrimas no céu".
Se tais palavras deixaram perplexa uma ala mais rígida do protestantismo brasileiro, elas, por outro lado, acharam eco na alma de cristãos que sabem o que significa ter aflições no mundo.
Novamente o apelo de Gondim se repete, como um apelo do próprio céus: "Diante duma tragédia dessa magnitude precisamos repensar alguns conceitos teológicos. Por exemplo: o que significa a palavra Soberania; o que se entende por Onipotência? Conceitos como esses significam o quê dentro dos paradigmas das ciências sociais pós-modernas? Será que não estamos insistindo em ler as Escrituras com as mesmas lentes dos medievais? Não projetamos para a Divindade as mesmas idéias que eles nutriam sobre seus reis déspotas?"
Fato é que algumas pessoas não são capacitadas para entender a seriedade e a profundidade desses questionamentos. São pessoas, muitas até líderes evangélicos, que preferem abocanhar teologismos pré-fabricados pelo mercado religioso. Dão preferência para respostas fáceis como fetichismos sobre Jezabel ou Jabez, protótipos que explicam por um lado todo o mal e por outro todo o bem que acontece sob os céus. Mentes assim, recusam-se a aceitar a complexidade do universo que nos cerca e não admitem que não temos respostas (muito menos fáceis) para tudo e que nem mesmo a Bíblia ou Jesus pretendia ter.
Outros porém como o pensador cristão da atualidade, o americano Philip Yancey, apontam direções contundentes, que estão em consonância com a voz de Gondim. Yancey explora com sabedoria sagaz de um jornalista a história de Jó ao ponto de publicar um livro com o título provocativo: Decepcionado com Deus.
Nos decepcionamos com um Deus que não existe. Com um Deus que só existe em nosso imaginário. Nos decepcionamos com as projeções medievais que passam longe do Deus humano revelado por Jesus.
Curiosamente os próprios amigos de Jó já cultuavam essa imagem de Deus, a de "micro gerenciar de todos os nossos atos". Por isso se transmutaram tão rapidamente em algozes, adulterando a intenção primeira de sua missão: consolar. Quantas vezes em meio a tragédia a igreja não tem seguido essa sina. De consoladores nos transformamos em cruéis carrascos. Por que é assim?
Penso que a resposta se encontra nos sofismas elaborados para validar uma suposta "fé doutrinária" evangélica. O pior deles é o que diz que uma pessoa se torna crente como que num passe de mágica, quando atende um apelo ou faz uma oração de entrega. Outros são mais sutis e passados pelas repetitivas pregações sensacionalistas sobre os "heróis" bíblicos. Um terceiro sofisma é o tão batido pacote teológico da teologia da prosperidade.
Todas essas receitas de bolo pretendem ser panacéias para os males de indivíduos aflitos. Geram apenas orgulho e fogem completamente aos ensinos claros das Escrituras que prometem um caminho estreito, um mundo de aflições e uma natureza irremediavelmente pecadora. Por isso as soluções propostas pelo Salvador são nada menos que coisas ao alcance de todos como fé, misericórdia, perdão constante e amor.
Ele, que mostrou-se todo poderoso, enviou-nos alguém não para nos dar vitórias sem fim mas para nos consolar. Consolar em meio a tantas tristezas. Consolar, não salvar, em meio a tantas tragédias.
Quando o cristão deixa de querer ser como um "suposto" Jesus super-herói, e passa a assumir suas próprias misérias começa então a provar a doçura divina. Doçura que não anula as amarguras da vida, mas que as amenizam. Você se lembra da história de Noemi a sogra de Rute?
É nesse processo e só através dele que nos constituímos em reais testemunhas e Jesus, em real salvador.
Que com a proximidade do dia de pentecostes nos lembremos que bem aventurados são os que choram, pois nos céus também há muitas lágrimas. Lágrimas divinas que se personificam e descem vindo de encontro ao coração humano para o consolar em meio às suas tantas aflições.
Se tais palavras deixaram perplexa uma ala mais rígida do protestantismo brasileiro, elas, por outro lado, acharam eco na alma de cristãos que sabem o que significa ter aflições no mundo.
Novamente o apelo de Gondim se repete, como um apelo do próprio céus: "Diante duma tragédia dessa magnitude precisamos repensar alguns conceitos teológicos. Por exemplo: o que significa a palavra Soberania; o que se entende por Onipotência? Conceitos como esses significam o quê dentro dos paradigmas das ciências sociais pós-modernas? Será que não estamos insistindo em ler as Escrituras com as mesmas lentes dos medievais? Não projetamos para a Divindade as mesmas idéias que eles nutriam sobre seus reis déspotas?"
Fato é que algumas pessoas não são capacitadas para entender a seriedade e a profundidade desses questionamentos. São pessoas, muitas até líderes evangélicos, que preferem abocanhar teologismos pré-fabricados pelo mercado religioso. Dão preferência para respostas fáceis como fetichismos sobre Jezabel ou Jabez, protótipos que explicam por um lado todo o mal e por outro todo o bem que acontece sob os céus. Mentes assim, recusam-se a aceitar a complexidade do universo que nos cerca e não admitem que não temos respostas (muito menos fáceis) para tudo e que nem mesmo a Bíblia ou Jesus pretendia ter.
Outros porém como o pensador cristão da atualidade, o americano Philip Yancey, apontam direções contundentes, que estão em consonância com a voz de Gondim. Yancey explora com sabedoria sagaz de um jornalista a história de Jó ao ponto de publicar um livro com o título provocativo: Decepcionado com Deus.
Nos decepcionamos com um Deus que não existe. Com um Deus que só existe em nosso imaginário. Nos decepcionamos com as projeções medievais que passam longe do Deus humano revelado por Jesus.
Curiosamente os próprios amigos de Jó já cultuavam essa imagem de Deus, a de "micro gerenciar de todos os nossos atos". Por isso se transmutaram tão rapidamente em algozes, adulterando a intenção primeira de sua missão: consolar. Quantas vezes em meio a tragédia a igreja não tem seguido essa sina. De consoladores nos transformamos em cruéis carrascos. Por que é assim?
Penso que a resposta se encontra nos sofismas elaborados para validar uma suposta "fé doutrinária" evangélica. O pior deles é o que diz que uma pessoa se torna crente como que num passe de mágica, quando atende um apelo ou faz uma oração de entrega. Outros são mais sutis e passados pelas repetitivas pregações sensacionalistas sobre os "heróis" bíblicos. Um terceiro sofisma é o tão batido pacote teológico da teologia da prosperidade.
Todas essas receitas de bolo pretendem ser panacéias para os males de indivíduos aflitos. Geram apenas orgulho e fogem completamente aos ensinos claros das Escrituras que prometem um caminho estreito, um mundo de aflições e uma natureza irremediavelmente pecadora. Por isso as soluções propostas pelo Salvador são nada menos que coisas ao alcance de todos como fé, misericórdia, perdão constante e amor.
Ele, que mostrou-se todo poderoso, enviou-nos alguém não para nos dar vitórias sem fim mas para nos consolar. Consolar em meio a tantas tristezas. Consolar, não salvar, em meio a tantas tragédias.
Quando o cristão deixa de querer ser como um "suposto" Jesus super-herói, e passa a assumir suas próprias misérias começa então a provar a doçura divina. Doçura que não anula as amarguras da vida, mas que as amenizam. Você se lembra da história de Noemi a sogra de Rute?
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Que com a proximidade do dia de pentecostes nos lembremos que bem aventurados são os que choram, pois nos céus também há muitas lágrimas. Lágrimas divinas que se personificam e descem vindo de encontro ao coração humano para o consolar em meio às suas tantas aflições.
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