Palavra do leitor
- 27 de novembro de 2009
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O mundo de pernas para o ar e Bombardeio de saturação
(duas crônicas pautadas em dois marcos da pintura)
O mundo de pernas para o ar
"As engrenagens da história tem demonstrado o quão vital e necessário representa a igreja não renunciar da sua incumbência de servir, discipular e apostólica; isto implica um mandamento não para poucos, mas sim para o corpo de Cristo."...
Quem nunca ouviu a expressão "o mundo está de pernas pro ar". Muito mais do que um adágio derivado da visão e interpretação popular, configura um estado de anomia, de caos e desencontro.
Nessa afirmação, não me atrevo a dizer taxativo, os jornais e outros veículos do sistema midiático de informação esparramam, dia-a-dia, uma hemorragia incessante e sintomática do ser humano amoldado ao conformismo.
Lamentavelmente, tornamo-nos observadores, ouvintes e platéias de micro-facetas de genocídios alastrados pelas periferias, pelos dispares sociais e econômicos, pelo desrespeito notório e indubitável no que tange a vida.
Para pontuar essas colocações feitas, valho-me da pintura de Jean Steen intitulada "o mundo de cabeça para baixo" e, guardadas as devidas ressalvas, ouso usar a temática "o mundo de pernas pro ar".
A grosso modo, essa obra demonstra o vácuo da auto-afirmação humana no percurso da vida.
Muito embora, tenhamos todo um aparato de benesses disponibilizadas pela tecnologia e ciência ou, em suma, pela razão técnica, formalista e pragmática.
No entanto, falta-nos uma vitalidade norteadora, uma palpitante dinâmica de sentido e ritmo motivacional.
Em outras palavras, saturamos o nosso ser com as cartilhas de uma cultura montada sobre a plataforma do individualismo, do consumismo endêmico e de um estilo de vida descartador do nosso, do outro e eu.
Aí, no esmiuçar dessa obra, cheguei a conclusão de que Deus enseja transitar tanto pela secularidade, pelo mundano e pela concreticidade quanto pelo sagrado, pelo espiritual e místico.
Eis aqui, neste ponto, a pujança do sacrifício indélevel do Deus-ser humano Jesus Cristo.
Faço tais afirmações, em virtude de estarmos diante de um fenômento deformador dentro da Igreja Evangélica.
De um lado, uma tendência evangélica ancorada aos pressupostos de uma secularidade desumanizada, do aqui e agora, de uma perniciosa e dantesca relativização da vida e de uma construção da fé dimensionada na esfera do privado.
Doutro lado, uma tendência convergida a manter os fios condutores da tradição, de resgatar a originalidade da palavra, de ser paradigma de uma igreja de servos, de discípulos e apostólica.
Em ambos os pontos, torna-se patente baixarmos as armas e buscamos, em Cristo, o alento e o sabor para sermos, deveras, igreja de alma, espírito, afeto, humanidade e transparência nos corredores de um mundo de pernas pro ar, ou virado de cabeça para baixo.
Bombardeio de saturação
Dia-a-dia, somos vítimas e autores de bombardeios de saturação. Acredito, piamente, ser uma exceção das exceções alguém, no limiar do Séc. XXI, escapar dos bombardeios de cobranças, de comprovações e de uma inexorável ditadura de provar.
As vezes, sinto-me numa corda bamba, numa espiral de auto-exigência e de nunca baixar a guarda e não abrir o jogo.
De modo semelhante, de não se envergonhar das fraquezas, das vulnerabilidades e das mazelas emocionais e existenciais.
A obra Guernica, de Picasso, constitui e é um das mais precípuos e importantes patrimômios da humanidade.
Para quem não conhece, Guernica era um lugar, localizado no Norte da Espanha, usado pelos regimes facistas da Alemanha e Itália a efeito de perpetrarem uma espécie de exercício aéreo chamada de ''bombardeio de saturação''.
Aliás, algo macabro e tétrico!
Faz-se notar, este bombardeio objetivava, literalmente, o extermínio absoluto, pulverizador e avassalador.
Nada deveria ser poupado!
Sem titubear, Picasso conseguiu retratar os pedaços da vida, de corpos, de poças de sangue, de escombros, de morte e de desumanização.
Agora, partimos dessas elucubrações, costuramos uma relação adequada conosco. Afinal de contas, a obra de Picasso demonstra a realidade humana sem maquiagem, sem desculpas, sem subterfúgios.
Quantos de nós não estamos saturados de culpas, de falta de expressividade e angustias? Indo ao evangelho de Cristo, as palavras do Mestre descortinam as rupturas dos excluídos, os bombardeios mordazes dos fariseus em face da liberdade de ser, os bombardeios dos romanos desfiguradores dos povos dominados.
Volto-me, sem sair dessa linha de raciocínio, ao contexto ora trilhado por uma gama de evangélicos bombardeados pela lei marcial do não errar, do não vacilar, de ser um perseguidor voraz e perene das bênçãos oriundas de uma fé mercantilista, relativista e desumana.
Por conseguinte, aderem-se a um estilo de ser de máscaras.
Numa época de aparências, de agir por debaixo dos panos, de fugir de si mesmo, a Graça, Cristo Jesus, propõe cessar com esses bombardeios de saturação, essas lanças de culpa, condenação, inexpressividade e desafirmação.
O mundo de pernas para o ar
"As engrenagens da história tem demonstrado o quão vital e necessário representa a igreja não renunciar da sua incumbência de servir, discipular e apostólica; isto implica um mandamento não para poucos, mas sim para o corpo de Cristo."...
Quem nunca ouviu a expressão "o mundo está de pernas pro ar". Muito mais do que um adágio derivado da visão e interpretação popular, configura um estado de anomia, de caos e desencontro.
Nessa afirmação, não me atrevo a dizer taxativo, os jornais e outros veículos do sistema midiático de informação esparramam, dia-a-dia, uma hemorragia incessante e sintomática do ser humano amoldado ao conformismo.
Lamentavelmente, tornamo-nos observadores, ouvintes e platéias de micro-facetas de genocídios alastrados pelas periferias, pelos dispares sociais e econômicos, pelo desrespeito notório e indubitável no que tange a vida.
Para pontuar essas colocações feitas, valho-me da pintura de Jean Steen intitulada "o mundo de cabeça para baixo" e, guardadas as devidas ressalvas, ouso usar a temática "o mundo de pernas pro ar".
A grosso modo, essa obra demonstra o vácuo da auto-afirmação humana no percurso da vida.
Muito embora, tenhamos todo um aparato de benesses disponibilizadas pela tecnologia e ciência ou, em suma, pela razão técnica, formalista e pragmática.
No entanto, falta-nos uma vitalidade norteadora, uma palpitante dinâmica de sentido e ritmo motivacional.
Em outras palavras, saturamos o nosso ser com as cartilhas de uma cultura montada sobre a plataforma do individualismo, do consumismo endêmico e de um estilo de vida descartador do nosso, do outro e eu.
Aí, no esmiuçar dessa obra, cheguei a conclusão de que Deus enseja transitar tanto pela secularidade, pelo mundano e pela concreticidade quanto pelo sagrado, pelo espiritual e místico.
Eis aqui, neste ponto, a pujança do sacrifício indélevel do Deus-ser humano Jesus Cristo.
Faço tais afirmações, em virtude de estarmos diante de um fenômento deformador dentro da Igreja Evangélica.
De um lado, uma tendência evangélica ancorada aos pressupostos de uma secularidade desumanizada, do aqui e agora, de uma perniciosa e dantesca relativização da vida e de uma construção da fé dimensionada na esfera do privado.
Doutro lado, uma tendência convergida a manter os fios condutores da tradição, de resgatar a originalidade da palavra, de ser paradigma de uma igreja de servos, de discípulos e apostólica.
Em ambos os pontos, torna-se patente baixarmos as armas e buscamos, em Cristo, o alento e o sabor para sermos, deveras, igreja de alma, espírito, afeto, humanidade e transparência nos corredores de um mundo de pernas pro ar, ou virado de cabeça para baixo.
Bombardeio de saturação
Dia-a-dia, somos vítimas e autores de bombardeios de saturação. Acredito, piamente, ser uma exceção das exceções alguém, no limiar do Séc. XXI, escapar dos bombardeios de cobranças, de comprovações e de uma inexorável ditadura de provar.
As vezes, sinto-me numa corda bamba, numa espiral de auto-exigência e de nunca baixar a guarda e não abrir o jogo.
De modo semelhante, de não se envergonhar das fraquezas, das vulnerabilidades e das mazelas emocionais e existenciais.
A obra Guernica, de Picasso, constitui e é um das mais precípuos e importantes patrimômios da humanidade.
Para quem não conhece, Guernica era um lugar, localizado no Norte da Espanha, usado pelos regimes facistas da Alemanha e Itália a efeito de perpetrarem uma espécie de exercício aéreo chamada de ''bombardeio de saturação''.
Aliás, algo macabro e tétrico!
Faz-se notar, este bombardeio objetivava, literalmente, o extermínio absoluto, pulverizador e avassalador.
Nada deveria ser poupado!
Sem titubear, Picasso conseguiu retratar os pedaços da vida, de corpos, de poças de sangue, de escombros, de morte e de desumanização.
Agora, partimos dessas elucubrações, costuramos uma relação adequada conosco. Afinal de contas, a obra de Picasso demonstra a realidade humana sem maquiagem, sem desculpas, sem subterfúgios.
Quantos de nós não estamos saturados de culpas, de falta de expressividade e angustias? Indo ao evangelho de Cristo, as palavras do Mestre descortinam as rupturas dos excluídos, os bombardeios mordazes dos fariseus em face da liberdade de ser, os bombardeios dos romanos desfiguradores dos povos dominados.
Volto-me, sem sair dessa linha de raciocínio, ao contexto ora trilhado por uma gama de evangélicos bombardeados pela lei marcial do não errar, do não vacilar, de ser um perseguidor voraz e perene das bênçãos oriundas de uma fé mercantilista, relativista e desumana.
Por conseguinte, aderem-se a um estilo de ser de máscaras.
Numa época de aparências, de agir por debaixo dos panos, de fugir de si mesmo, a Graça, Cristo Jesus, propõe cessar com esses bombardeios de saturação, essas lanças de culpa, condenação, inexpressividade e desafirmação.
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