Palavra do leitor
- 14 de julho de 2008
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O mercado da fé
A Igreja Universal do Reino de Deus - IURD - é a denominação evangélica que mais cresce no Brasil. Representando quase 10% do rebanho só perde para as igrejas Batistas e Assembléias de Deus. Segundo depoimento de Edir Macedo em seu livro biográfico, se não fosse o episódio do chute na santa, o avanço da IURD hoje seria bem maior.
Para "o Bispo" oferta é investimento, trazer dinheiro ao altar é investir em si próprio. Ele não se envergonha em proclamar que para dízimos e ofertas vale a lei do "toma lá, dá cá". Para combater uma suposta "ideologia da pobreza" passada pela igreja católica ele prega uma suposta "ideologia da riqueza", a nossa velha conhecida teologia da prosperidade.
Semana passada conheci uma sul-africana que me disse ter visto em seu país o surgimento da "Universal Church" brasileira, e que eles só querem dinheiro. Como havia me apresentado como cristão, fiz questão de me posicionar e dizer que não gosto da Universal.
Esses dias, mais um vez, o Beto nos presenteou em seu Blog com um texto sábio, uma análise ácida (como disse alguém) sobre a Religião de consumo. Podemos extrair de suas palavras que esse mal não é exclusividade da IURD ou das igrejas neo pentecostais, muito menos só das igrejas evangélicas. Mas com certeza todos esses seguimentos tem contribuído muito para o alastramento dessa mentalidade de chegarmos ao altar com nossas demandas e ali pagarmos para recebermos os "produtos" ou "serviços" oferecidos pela divindade, através de seus representantes clericais.
Mas afinal o que haveria de novo nisso tudo? Já na idade média o povo já não comprava os serviços da indulgência para garantir a salvação de parentes que penavam no purgatório? Religião no fundo no fundo sempre não foi esse jogo de clamarmos por socorro a Deus na hora do desespero e prometermos algo em troca?
Um elemento que Beto levantou em seu texto e que vem me incomodando a tempo é a prática do "testemunho", talvez algo que no início começou a ser praticado ingenuamente sem maiores pretensões, para glorificar a Deus, mas que aos poucos se converteu quase que exclusivamente em estratégia de marketing. Precisamos reler Atos e extrair o real sentido das palavras de Jesus quando nos disse que seriamos suas testemunhas.
Alguém como Inácio de Antioquia que, nos primeiros séculos da vida da igreja, caminhou para o martírio pedindo aos santos de Roma que não impedissem por meio de suas súplicas essa honra que lhe havia sido reservada de padecer pelo nome de Cristo, não encontraria nenhum lugar nos templos de hoje. Aliás aqueles que em Apocalipse clamavam pela intervenção divina, no sentido de justiçar e aliviar o sofrimento dos santos perseguidos, devem estar em férias coletivas. Quais sofrimentos, qual perseguição, qual martírio? Ser cristão, em nossos dias, assumiu outro significado: somos prósperos, abençoados, ricos, bem sucedidos (no sentido financeiro, físico, profissional, familiar). Essa é nossa melhor ferramenta de Marketing: um Deus que supre nossas demandas materiais! Por que falarmos de reveses? Isso só afugentará os novos clientes... Rasguemos de vez as bem-aventuranças ao meio e fiquemos só com a segunda parte das recompensas!
Lamentavelmente não tivemos a maturidade suficiente para gerenciarmos a descoberta de que o Reino dos Céus começa aqui e não somente na vida vindoura. Muito rapidamente trocamos o conceito bíblico de Reino dos Céus pela nossa velha e mesquinha idéia egoísta de conforto e prazeres.
Certamente falta muito discernimento. É preciso discernir entre o bem e o mal, entre o evangelho puro e singelo e o falso, do engano.
www.fraternus.de
Para "o Bispo" oferta é investimento, trazer dinheiro ao altar é investir em si próprio. Ele não se envergonha em proclamar que para dízimos e ofertas vale a lei do "toma lá, dá cá". Para combater uma suposta "ideologia da pobreza" passada pela igreja católica ele prega uma suposta "ideologia da riqueza", a nossa velha conhecida teologia da prosperidade.
Semana passada conheci uma sul-africana que me disse ter visto em seu país o surgimento da "Universal Church" brasileira, e que eles só querem dinheiro. Como havia me apresentado como cristão, fiz questão de me posicionar e dizer que não gosto da Universal.
Esses dias, mais um vez, o Beto nos presenteou em seu Blog com um texto sábio, uma análise ácida (como disse alguém) sobre a Religião de consumo. Podemos extrair de suas palavras que esse mal não é exclusividade da IURD ou das igrejas neo pentecostais, muito menos só das igrejas evangélicas. Mas com certeza todos esses seguimentos tem contribuído muito para o alastramento dessa mentalidade de chegarmos ao altar com nossas demandas e ali pagarmos para recebermos os "produtos" ou "serviços" oferecidos pela divindade, através de seus representantes clericais.
Mas afinal o que haveria de novo nisso tudo? Já na idade média o povo já não comprava os serviços da indulgência para garantir a salvação de parentes que penavam no purgatório? Religião no fundo no fundo sempre não foi esse jogo de clamarmos por socorro a Deus na hora do desespero e prometermos algo em troca?
Um elemento que Beto levantou em seu texto e que vem me incomodando a tempo é a prática do "testemunho", talvez algo que no início começou a ser praticado ingenuamente sem maiores pretensões, para glorificar a Deus, mas que aos poucos se converteu quase que exclusivamente em estratégia de marketing. Precisamos reler Atos e extrair o real sentido das palavras de Jesus quando nos disse que seriamos suas testemunhas.
Alguém como Inácio de Antioquia que, nos primeiros séculos da vida da igreja, caminhou para o martírio pedindo aos santos de Roma que não impedissem por meio de suas súplicas essa honra que lhe havia sido reservada de padecer pelo nome de Cristo, não encontraria nenhum lugar nos templos de hoje. Aliás aqueles que em Apocalipse clamavam pela intervenção divina, no sentido de justiçar e aliviar o sofrimento dos santos perseguidos, devem estar em férias coletivas. Quais sofrimentos, qual perseguição, qual martírio? Ser cristão, em nossos dias, assumiu outro significado: somos prósperos, abençoados, ricos, bem sucedidos (no sentido financeiro, físico, profissional, familiar). Essa é nossa melhor ferramenta de Marketing: um Deus que supre nossas demandas materiais! Por que falarmos de reveses? Isso só afugentará os novos clientes... Rasguemos de vez as bem-aventuranças ao meio e fiquemos só com a segunda parte das recompensas!
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