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Palavra do leitor

O labirinto da filha de Davi: por que ninguém a ouviu? (parte I)

"as desgraças nem sempre podem ser vistas como autoria do acaso!"...

A frase há algo de podre no Reino da Dinamarca, se encaixa perfeitamente nos enredos narrativos das tragédias, das desilusões, das perdas de sangue e das marcas indeléveis personificadas por Davi e sua prole.

É bem verdade, via de regra, percebemos um enfoque sobre a relação adultera de Davi com Bete – Seba, o homicídio arquitetado pelo tido "homem segundo o coração de Deus" para tirar Urias da jogada, a insurreição bélica suscitada por Absalão com a intenção de destronar o genitor e soberano, a morte de Amnon tramada pelo próprio irmão, o exílio de Mical por discordar veementemente de Davi e carregar a sina da esterilidade.

Além de outros episódios comprometedores e causadores de muitas indagações. Por ora, convido – lhes a pararmos um pouquinho e folhearmos as páginas rasuradas de Tamar, filha de Davi, concebida da relação com a árabe Maaca. Deve ser dito, Tamar era a irmã gêmea de Absalão.

Presumidamente, Tamar espelhava a exuberância de uma beleza singular e isto despertou uma paixão de traços perigosíssimos de seu irmão, por parte de pai, Amnon. Sem pestanejar, Amnon desenhou, ou, podemos dizer, semelhante ao pater, arquitetou, um jogo traiçoeiro a efeito de submeter sua irmã aos seus confusos e insanos desejos. Destarte, cometeu um estupro em face da própria irmã.

Sem dó! Nem piedade! Depois de ter realizado tamanha torpeza, expressamente, a expulsou, como se estivesse vomitado algo, da sua presença. Eis a hecatombe, ou o tsunami despencado sobre a existência de Tamar, dentro de uma contextualidade sócio – cultural, cuja mulher tinha na virgindade um dos pilares de sua valorização.

Não bastasse o abuso inexorável pelo qual foi vítima, a violência no seu corpo transcendeu para sua alma, para suas memórias e lembranças. De nada adiantou as reprimendas protocoladas por Davi. Lá no fundo, tudo permaneceu numa estratégia de acomodar as coisas, deixar a poeira baixar, abafar o caso estabelecidos, atribuir ao tempo a responsabilidade por curar as feridas e amém.

De certa maneira, muitos disseram, a desgraça já está consumada e algo pior poderia ter ocorrido, uma gestação, por exemplo. Nesse ínterim, os burburinhos escoavam ladeira abaixo pelas ruas de Jerusalém; pelos corredores do palácio, os bochichos pintavam os mais variados quadros e pelas vielas do povão, Tamar servia de bode – expiatório para os descontentes.

Ah, se estivesse lá, como posso garantir, não incorreria na prática das conjecturas (quem pecou, ou por que Deus permitiu, ou talvez seja uma maldição hereditária, ou tudo seja fruto de brechas e sei lá mais o que). No meio de todo esse redemoinho, Tamar estava numa espécie de banimento de ouvidos, de atenção, de esperança, de sonhos, de vida, de abraço e de recomeço. Tudo parecia suspenso e tragado pela angustia e pelo palpitar de dar cabo da própria vida.

Cadê Davi? Cadê Deus? Cadê a misericórdia e a dignidade da Torá? Cadê Maaca?

Não por menos, Davi se encontrava entre a cruz e a espada, num beco sem saída.

Afinal de contas, como expor ainda mais sua filha a um estado de desonra pública e vexatória? Vale ressaltar, como impor a Amnon uma pena marcial, sendo o sucessor direto do trono?

Deveras, Tamar mais parecia um espelho estilhaçado, um cristal pisoteado e, tristemente, com as retinas dos sonhos apagados abruptamente. Sem presente e condenada a carregar um passado de culpa e condenação, um futuro de remorso e do por que teve de ser desse jeito.

Em suas veias confluíam um sangue de exclusão, uma sombra de ser um peso morto a acompanhava e uma mancha de desfiguração da dignidade permeava todo o seu ser. Estranha e sordidamente, parece, até quando atentamos para as medidas assumidas, ter sido Tamar a autora e protagonista de todo essa situação. A dor lacerava todos os poros de sua alma, arruinava todo e qualquer via de respeito e dignidade por si mesma.

Diante disto, nada mais a incomodava e aqui conseguimos encontrar alguma razão para descer as ruas de Jerusalém e se oferecer aos homens.

As vezes, arguo:

- Será que não foi um genuíno grito de desabafo de uma filha sem o pater ao lado (Olha, estou aqui!

Não sei o que fazer, quem sabe você também não sabia, mas me abraça!)!

Nada disso pode ser visto e, na mais burocrática postura, Davi a submeteu a um estado de aprisionamento e isto perdurou até a ocorrência da sua morte, motivado por inanição.

Ouso, então, dizer, uma espécie de suicídio, em doses homeopáticas.
Sabe, ultimamente, nos deparamos com uma realidade marcada por desgraças – ‘’a torto e a direita’’.
São Paulo - SP
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