Palavra do leitor
- 28 de outubro de 2009
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O justo é um ser humano normal (Jó 3.1-26)
O fato de ser justo não significa dizer que o cristão possua um status de super-homem. O livro de Jó nos ensina isso com muita propriedade. A despeito de sua conduta irrepreensível, ele possuía todas as restrições humanas que possuímos, tais como limitações, fraquezas e inclinação para o pecado. Neste capítulo, Jó deixou aflorar sua condição de homem por meio do choro, do atordoamento, da confusão, do desespero, das lamentações, dos desabafos, enfim, de sua depressão. Mas, mesmo com uma fé vacilante, ele pôde, num dado momento, declarar: "... eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra" (Jó 19.25). Observe, no exemplo de Jó, aspectos que revelam a humanidade do justo.
Humanidade que pode dar vazão ao pessimismo - As palavras de Jó, ditas no capítulo três, são bem diferentes das que afirmou anteriormente: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21). A calamidade em que se encontrava e que muitas vezes é a nossa realidade, levou-o a expressar-se sem meias palavras, deixando sobressair o pessimismo próprio do ser humano.
Pessimismo que o levou a proferir maldições – “... abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia” (v. 1). Jó não era passivo diante da sua aflição. Transtornado com a sua situação, ele amaldiçoou por completo sua existência, desde a concepção até aquele momento. É desconfortável vê-lo proferir tão duras palavras. Mas quem nunca teve reação semelhante? Contudo, Jó não proferiu nenhuma maldição contra Deus, antes, abriu seu coração diante Dele com muita sinceridade, demonstrando seus reais sentimentos. Por vezes, pensamos que, como servos de Deus, temos que ficar mudos diante do sofrimento, pois de outra maneira, incorreríamos em pecado. Mas, rasgar a alma diante de Deus, aumenta a nossa intimidade com Ele.
Pessimismo que agravou o sentimento de solidão – “Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele...” (v. 4). Jó expressou que as trevas que deveriam ter coberto o seu dia natalício eram as mesmas daquele momento. Estas palavras não faziam alusão ao sofrimento físico, mas ao sentimento de que Deus estava distante, que permanecia em silêncio e que o contato com Ele fora perdido. Era uma solidão que nem a presença da esposa ou amigos pôde abrandar. Nada do que Jó perdeu causou mais dor que o sentimento da ausência de Deus. Quantas vezes nos sentimos assim, sozinhos, achando que o céu é intransponível e que Deus não pode ser encontrado? Todavia, o Senhor nos garante: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça” (Is 41.10).
Humanidade que pode ceder à desesperança - Com o passar dos dias, o desespero de Jó se agravou, ele percebeu sua fé desvanecendo, e enxergou a morte como a única opção que lhe restava. Atitude perfeitamente compreensível, pois os muitos problemas podem nos fazer crer que não há mais esperança, levando-nos a considerar a morte como solução.
Desesperança de quem viu na morte o descanso – “Ali, os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados” (v.17). Após amaldiçoar o dia em que nasceu, Jó passou a desejar o dia da sua morte. É comum valorizarmos a vida como uma dádiva e considerarmos o fim como um mal; mas o sofrimento de Jó era tão extremo, que ele inverteu os valores e ansiou pela morte. Vale ressaltar que em nenhum momento, ele fez menção de tentar algo contra si mesmo. O que ele sentia era o desejo ardente por alívio, descanso e o fim de todo seu terrível sofrimento, onde a maldade, perturbação ou a dor não mais lhe alcançariam. Em muitas situações também temos os mesmos anseios; seja o de nunca ter nascido, seja o de deixarmos de existir. É um sentimento perfeitamente compreensível, uma vez que, além de Jó, outros personagens bíblicos também assim o desejaram.
Desesperança de quem viu na morte uma realidade que iguala a todos – “Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor” (v. 19). A despeito de toda a riqueza que possuía, Jó viu sua sorte mudar por completo em um único dia, quando passou de homem admirável a um mais completo miserável. Não encontrando outra forma de alívio, uma vez mais ele desejou a morte. Entre os viventes, sempre houve distinção de raças, credos ou condição social. Mas para Jó, na morte todos eram iguais, independente da classe social que ocupassem. Em seu desespero, desejou estar na companhia de qualquer pessoa, desde que esse lugar lhe garantisse alívio. Um lugar onde todos pudessem desfrutar igualmente da paz. Quando o sofrimento é extremo, tendemos a ter esse mesmo pensamento.
Humanidade que pode render-se à aflição - O senso comum da época de Jó era o de que um justo não poderia passar por sofrimento. A pergunta de Elifaz confirmou essa assertiva: “Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?” (Jó 4.7). Desta forma, Jó, em sua limitação humana, não conseguia entender porque ele, sendo justo, estava naquela situação. Estas incertezas aumentavam sua aflição.
Aflição que o levou ao desespero – “... antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água” (v. 24b). Jó não conseguia mais se alimentar, embora continuasse sentindo fome. Seu desespero era total porque, ao invés de vislumbrar qualquer fresta de luz, percebia-se afundando cada vez mais em um poço sem fim. Ele se debatia tentando agarrar-se a um fio de esperança, mas nem isso encontrava. Quantos de nós já nos encontramos em situação como essa? Ocasiões em que sentimos nossa energia se esvaindo e nuvens carregadas bloqueando qualquer raio de esperança. Chorar e gemer nos parece a única saída. Assim, sem forças, resumimos nossa vida ao lamento.
Aflição que levou ao desamparo – “Por que o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu” (v. 25). Jó expressou o sentimento de que Deus não se importava mais com ele e nem lhe garantia mais nenhuma proteção. Abandonado por Deus, ele estava à mercê de todo e qualquer mal. Em seu lamento, expressou medo, pavor, dor, desespero e indignação. É possível vivermos esse sentimento de desamparo, principalmente quando à nossa porta batem a tragédia, a enfermidade e o desemprego. É quando questionamos: Por que eu? Será que Deus não me ama mais? Por que Ele se afastou de mim? Nesse vacilar de fé, a circunstância adversa é tudo o que conseguimos vislumbrar. No entanto, não podemos esquecer de que o fato de sermos cristãos não nos garante que sempre teremos sabedoria, vigor e preparo para lidar com as adversidades.
Vários personagens bíblicos foram muito verdadeiros em demonstrarem sua humanidade quando deixaram transparecer o quadro depressivo em que se encontravam; momento em que expressaram raiva, perturbações, inquietações e angústias. Dentre eles, podemos citar Jó, Davi, Jeremias, Elias e Jonas. Mas, mesmo exteriorizando seu sofrimento, não deixaram de crer naquilo que Deus é. As palavras duras, mas sinceras, ditas por eles nos levam a entender que Deus permite os nossos desabafos, pois sabe que eles são frutos de uma alma amargurada. A psicologia nos ensina que uma das formas de superar o sofrimento vivenciado é expressando-o por completo. De qualquer modo, independente da adversidade que venha a nos acometer, lembremo-nos de que “... as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).
Humanidade que pode dar vazão ao pessimismo - As palavras de Jó, ditas no capítulo três, são bem diferentes das que afirmou anteriormente: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21). A calamidade em que se encontrava e que muitas vezes é a nossa realidade, levou-o a expressar-se sem meias palavras, deixando sobressair o pessimismo próprio do ser humano.
Pessimismo que o levou a proferir maldições – “... abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia” (v. 1). Jó não era passivo diante da sua aflição. Transtornado com a sua situação, ele amaldiçoou por completo sua existência, desde a concepção até aquele momento. É desconfortável vê-lo proferir tão duras palavras. Mas quem nunca teve reação semelhante? Contudo, Jó não proferiu nenhuma maldição contra Deus, antes, abriu seu coração diante Dele com muita sinceridade, demonstrando seus reais sentimentos. Por vezes, pensamos que, como servos de Deus, temos que ficar mudos diante do sofrimento, pois de outra maneira, incorreríamos em pecado. Mas, rasgar a alma diante de Deus, aumenta a nossa intimidade com Ele.
Pessimismo que agravou o sentimento de solidão – “Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele...” (v. 4). Jó expressou que as trevas que deveriam ter coberto o seu dia natalício eram as mesmas daquele momento. Estas palavras não faziam alusão ao sofrimento físico, mas ao sentimento de que Deus estava distante, que permanecia em silêncio e que o contato com Ele fora perdido. Era uma solidão que nem a presença da esposa ou amigos pôde abrandar. Nada do que Jó perdeu causou mais dor que o sentimento da ausência de Deus. Quantas vezes nos sentimos assim, sozinhos, achando que o céu é intransponível e que Deus não pode ser encontrado? Todavia, o Senhor nos garante: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça” (Is 41.10).
Humanidade que pode ceder à desesperança - Com o passar dos dias, o desespero de Jó se agravou, ele percebeu sua fé desvanecendo, e enxergou a morte como a única opção que lhe restava. Atitude perfeitamente compreensível, pois os muitos problemas podem nos fazer crer que não há mais esperança, levando-nos a considerar a morte como solução.
Desesperança de quem viu na morte o descanso – “Ali, os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados” (v.17). Após amaldiçoar o dia em que nasceu, Jó passou a desejar o dia da sua morte. É comum valorizarmos a vida como uma dádiva e considerarmos o fim como um mal; mas o sofrimento de Jó era tão extremo, que ele inverteu os valores e ansiou pela morte. Vale ressaltar que em nenhum momento, ele fez menção de tentar algo contra si mesmo. O que ele sentia era o desejo ardente por alívio, descanso e o fim de todo seu terrível sofrimento, onde a maldade, perturbação ou a dor não mais lhe alcançariam. Em muitas situações também temos os mesmos anseios; seja o de nunca ter nascido, seja o de deixarmos de existir. É um sentimento perfeitamente compreensível, uma vez que, além de Jó, outros personagens bíblicos também assim o desejaram.
Desesperança de quem viu na morte uma realidade que iguala a todos – “Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor” (v. 19). A despeito de toda a riqueza que possuía, Jó viu sua sorte mudar por completo em um único dia, quando passou de homem admirável a um mais completo miserável. Não encontrando outra forma de alívio, uma vez mais ele desejou a morte. Entre os viventes, sempre houve distinção de raças, credos ou condição social. Mas para Jó, na morte todos eram iguais, independente da classe social que ocupassem. Em seu desespero, desejou estar na companhia de qualquer pessoa, desde que esse lugar lhe garantisse alívio. Um lugar onde todos pudessem desfrutar igualmente da paz. Quando o sofrimento é extremo, tendemos a ter esse mesmo pensamento.
Humanidade que pode render-se à aflição - O senso comum da época de Jó era o de que um justo não poderia passar por sofrimento. A pergunta de Elifaz confirmou essa assertiva: “Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?” (Jó 4.7). Desta forma, Jó, em sua limitação humana, não conseguia entender porque ele, sendo justo, estava naquela situação. Estas incertezas aumentavam sua aflição.
Aflição que o levou ao desespero – “... antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água” (v. 24b). Jó não conseguia mais se alimentar, embora continuasse sentindo fome. Seu desespero era total porque, ao invés de vislumbrar qualquer fresta de luz, percebia-se afundando cada vez mais em um poço sem fim. Ele se debatia tentando agarrar-se a um fio de esperança, mas nem isso encontrava. Quantos de nós já nos encontramos em situação como essa? Ocasiões em que sentimos nossa energia se esvaindo e nuvens carregadas bloqueando qualquer raio de esperança. Chorar e gemer nos parece a única saída. Assim, sem forças, resumimos nossa vida ao lamento.
Aflição que levou ao desamparo – “Por que o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu” (v. 25). Jó expressou o sentimento de que Deus não se importava mais com ele e nem lhe garantia mais nenhuma proteção. Abandonado por Deus, ele estava à mercê de todo e qualquer mal. Em seu lamento, expressou medo, pavor, dor, desespero e indignação. É possível vivermos esse sentimento de desamparo, principalmente quando à nossa porta batem a tragédia, a enfermidade e o desemprego. É quando questionamos: Por que eu? Será que Deus não me ama mais? Por que Ele se afastou de mim? Nesse vacilar de fé, a circunstância adversa é tudo o que conseguimos vislumbrar. No entanto, não podemos esquecer de que o fato de sermos cristãos não nos garante que sempre teremos sabedoria, vigor e preparo para lidar com as adversidades.
Vários personagens bíblicos foram muito verdadeiros em demonstrarem sua humanidade quando deixaram transparecer o quadro depressivo em que se encontravam; momento em que expressaram raiva, perturbações, inquietações e angústias. Dentre eles, podemos citar Jó, Davi, Jeremias, Elias e Jonas. Mas, mesmo exteriorizando seu sofrimento, não deixaram de crer naquilo que Deus é. As palavras duras, mas sinceras, ditas por eles nos levam a entender que Deus permite os nossos desabafos, pois sabe que eles são frutos de uma alma amargurada. A psicologia nos ensina que uma das formas de superar o sofrimento vivenciado é expressando-o por completo. De qualquer modo, independente da adversidade que venha a nos acometer, lembremo-nos de que “... as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).
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