Palavra do leitor
- 29 de outubro de 2010
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O globo como uma bolha, ou o mundo como passatempo dos teólogos de bolinha de gude
"O mundo é um jogo excitante e existe sempre a tentação de refazer o globo, de tratá-lo como nosso brinquedo de estimação e enquadrá-lo em categorias que justifiquem lances geopolíticos, ambições de poder, empreitadas econômicas e marketing de produtos e idéias. Estão aí Hitler e o Grande Ditador Charlie Chaplin para mostrar o perigo ou o ridículo de tantas jogadas." (Carlos Blinder em VEJA, 20/10/2010).
Qualquer aluno de teologia sabe que igreja é uma coisa; o reino outra. Se parecem, tangenciam, que um está para o outro assim como. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Se se tomar uma chave bíblica e vasculhar referências para o reino, enche-se um balaio. Para Igreja, basta os dedos da mão direita do Lula. "Sim" dirão os neófitos, "isso é nos evangelhos, porque daí para frente...". Não imaginam que o ‘daí para frente’ é uma ‘construção’ histórica?
Não dá para ler para trás? Há os que pensam a Igreja como ‘afterthought’. Boff acha que se pode construir um modelito completamente diferente para a ‘romana-católica’ (a ordem é importante para ele). Balela!
Pense comigo, imaginemos que possamos pegar aquela turma dos primeiros dias e os fatos depois de Atos 2 até o Apocalipse, e fazer um curso de teologia avançada com o Deão do Colégio Apostólico, Jesus Cristo, pedindo a Ele que projete no espaço e no tempo a Igreja. Será que não ocorre a ninguém que isso simplesmente não dá? Que não estava Ele a fim de tratar do assunto igreja, mas muito mais do reino?
Qualquer dicionário de teologia, por mais magrinho que seja, definirá o reino de Deus não como um ‘império’ mundial sobre a terra e conseqüente domínio sobre todas as nações que derrota todos os seus inimigos numa escala universal. Nem o reino como um governo onde reinaria a verdade, a justiça, a paz, a fraternidade, o perdão, a liberdade, a alegria e a dignidade da pessoa humana, num linguajar mais Católico. Tudo se consumindo em um novo Céu e uma Nova Terra. Pode até ser que seja isso aí.
A igreja? Bem, aqui a coisa fica mais fácil. Ela é uma instituição onde esse reino aparece e viceja ou some em determinados momentos. É uma instituição assim meio complicada para não dizer estranha, onde o humano e o divino estão juntos. A igreja passa, o reino fica. Essa dimensão do reino na igreja é como aquele grito de torcida do Flamengo! O frenesi é algo estarrecedor, impactante mesmo. Se você foi a um jogo do Fla-Flu, sabe do que estou falando. Nesse universo entre igreja e o reino num globo como o nosso superabundam um bom número de cristãos preparados e propensos a falar e fazer bobagem.
O Grande Ditador, é filme do gênero comédia dirigido por Charles Chaplin. A cena mais conhecida é aquela em que o ditador (Chaplin, vestido de Hitler) brinca com um globo inflável como se o globo fosse mesmo uma bolinha (atenção: a bolinha explode no final. O restante lá na Wikipédia, confira).
Assim como Hitler e todos os que o antecederam e aqueles que vieram e virão depois dele, ‘pensam’ o mundo (e o reino também) como muitos evangélicos de todas as tendências: o mundo e tudo que nele há como um lugar onde as forças do bem e do mal se digladiam até a morte de um deles. A igreja de alguma forma metida no meio disso tudo, o universo, o mundo, e tudo o que nele há como palco para a visão muito personalista, tal qual Chaplin, como Hitler, brinca com o globo. O mundo como objeto de ideologias ou fantasiosas teologias.
Aí assiste-se coisas inusitadas. Veja o exemplo: 6 milhões de Judeus e uma multidão de ciganos da Europa Oriental são passados nas câmaras de gás. Reação da maioria dos evangélicos? Em vez de chocarem-se com a possibilidade terrível da ausência de Deus (afinal, onde estaria Ele diante dessa carnificina?), passam a brincar com o globo terrestre e aplicar nele uma visão muito peculiar, sem compreender a dificuldade de ver Deus diante desses ‘arranhões’ (Hitler e os 6 milhões) à soberania de Deus. Acham sempre um jeitinho de oferecer uma espécie de liberdade condicional aos fatos e à razão a tudo isso, projetando no globo suas idéias amalucadas. O globo é tal qual aquele na mão de Chaplin.
Isso tudo a propósito da Conferência de Lausanne. Minha reação inicial: campeonato mundial de futebol nas cores, shows, nos encantos mil, emoções e nos evidentes exageros que essas grandes reuniões geram com as suas declarações pomposas de abrangência global.
Impressionou-me, porém (negativamente), o testemunho de uma mocinha na faixa de 16 a 17 anos que lá para o final declarava que seu desejo era ir para a Coréia do Norte. Achei de muito mau gosto. Era coisa de pura emoção à moda Roberto Carlos.
Lembrei-me de Blinder, “O mundo é um jogo excitante e existe sempre a tentação de refazer o globo, de tratá-lo como nosso brinquedo de estimação e enquadrá-lo em categorias [teológicas]...".
E eu acrescentaria, a ilusão de que a ótica de certas teologias não justificam a abordagem para uma vida de 16 ou 17 anos e ainda chamando aquilo de vocação.
Qualquer aluno de teologia sabe que igreja é uma coisa; o reino outra. Se parecem, tangenciam, que um está para o outro assim como. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Se se tomar uma chave bíblica e vasculhar referências para o reino, enche-se um balaio. Para Igreja, basta os dedos da mão direita do Lula. "Sim" dirão os neófitos, "isso é nos evangelhos, porque daí para frente...". Não imaginam que o ‘daí para frente’ é uma ‘construção’ histórica?
Não dá para ler para trás? Há os que pensam a Igreja como ‘afterthought’. Boff acha que se pode construir um modelito completamente diferente para a ‘romana-católica’ (a ordem é importante para ele). Balela!
Pense comigo, imaginemos que possamos pegar aquela turma dos primeiros dias e os fatos depois de Atos 2 até o Apocalipse, e fazer um curso de teologia avançada com o Deão do Colégio Apostólico, Jesus Cristo, pedindo a Ele que projete no espaço e no tempo a Igreja. Será que não ocorre a ninguém que isso simplesmente não dá? Que não estava Ele a fim de tratar do assunto igreja, mas muito mais do reino?
Qualquer dicionário de teologia, por mais magrinho que seja, definirá o reino de Deus não como um ‘império’ mundial sobre a terra e conseqüente domínio sobre todas as nações que derrota todos os seus inimigos numa escala universal. Nem o reino como um governo onde reinaria a verdade, a justiça, a paz, a fraternidade, o perdão, a liberdade, a alegria e a dignidade da pessoa humana, num linguajar mais Católico. Tudo se consumindo em um novo Céu e uma Nova Terra. Pode até ser que seja isso aí.
A igreja? Bem, aqui a coisa fica mais fácil. Ela é uma instituição onde esse reino aparece e viceja ou some em determinados momentos. É uma instituição assim meio complicada para não dizer estranha, onde o humano e o divino estão juntos. A igreja passa, o reino fica. Essa dimensão do reino na igreja é como aquele grito de torcida do Flamengo! O frenesi é algo estarrecedor, impactante mesmo. Se você foi a um jogo do Fla-Flu, sabe do que estou falando. Nesse universo entre igreja e o reino num globo como o nosso superabundam um bom número de cristãos preparados e propensos a falar e fazer bobagem.
O Grande Ditador, é filme do gênero comédia dirigido por Charles Chaplin. A cena mais conhecida é aquela em que o ditador (Chaplin, vestido de Hitler) brinca com um globo inflável como se o globo fosse mesmo uma bolinha (atenção: a bolinha explode no final. O restante lá na Wikipédia, confira).
Assim como Hitler e todos os que o antecederam e aqueles que vieram e virão depois dele, ‘pensam’ o mundo (e o reino também) como muitos evangélicos de todas as tendências: o mundo e tudo que nele há como um lugar onde as forças do bem e do mal se digladiam até a morte de um deles. A igreja de alguma forma metida no meio disso tudo, o universo, o mundo, e tudo o que nele há como palco para a visão muito personalista, tal qual Chaplin, como Hitler, brinca com o globo. O mundo como objeto de ideologias ou fantasiosas teologias.
Aí assiste-se coisas inusitadas. Veja o exemplo: 6 milhões de Judeus e uma multidão de ciganos da Europa Oriental são passados nas câmaras de gás. Reação da maioria dos evangélicos? Em vez de chocarem-se com a possibilidade terrível da ausência de Deus (afinal, onde estaria Ele diante dessa carnificina?), passam a brincar com o globo terrestre e aplicar nele uma visão muito peculiar, sem compreender a dificuldade de ver Deus diante desses ‘arranhões’ (Hitler e os 6 milhões) à soberania de Deus. Acham sempre um jeitinho de oferecer uma espécie de liberdade condicional aos fatos e à razão a tudo isso, projetando no globo suas idéias amalucadas. O globo é tal qual aquele na mão de Chaplin.
Isso tudo a propósito da Conferência de Lausanne. Minha reação inicial: campeonato mundial de futebol nas cores, shows, nos encantos mil, emoções e nos evidentes exageros que essas grandes reuniões geram com as suas declarações pomposas de abrangência global.
Impressionou-me, porém (negativamente), o testemunho de uma mocinha na faixa de 16 a 17 anos que lá para o final declarava que seu desejo era ir para a Coréia do Norte. Achei de muito mau gosto. Era coisa de pura emoção à moda Roberto Carlos.
Lembrei-me de Blinder, “O mundo é um jogo excitante e existe sempre a tentação de refazer o globo, de tratá-lo como nosso brinquedo de estimação e enquadrá-lo em categorias [teológicas]...".
E eu acrescentaria, a ilusão de que a ótica de certas teologias não justificam a abordagem para uma vida de 16 ou 17 anos e ainda chamando aquilo de vocação.
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