Palavra do leitor
- 14 de junho de 2011
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O fim do mundo será em outubro. Eba!
O mundo, afinal, não acabou em 21 de maio passado, um belo sábado, às 18h. Na contramão dos adivinhadeiros, resiste teimosamente a despeito de profecias psicodélicas que de tempos em tempos ameaçam o seu fim com todas as certezas dos deuses. O amalucado profeta americano, líder da igreja (uso esta palavra por falta de outra melhor) Family Radio, depois de candidamente alegar que se equivocou nos números, empurrou o nosso fim para o próximo outubro. Aparentemente, aprendeu matemática nos livros didáticos brasileiros patrocinados pelo Ministério da Educação.
Enquanto o noticiário se ocupava em relatar as caravanas de crentes chamando os infiéis para entrar em sua arca, os cientistas, alheios ao burburinho apocalíptico, anunciavam um número estonteante. Apenas na Via Láctea, em números conservadores, deve ter uns 2 bilhões de planetas iguais à Terra. O danado é que estão há algumas centenas de anos, se conseguirmos viajar à velocidade da luz. Pois se aqui acontecer algum fim de mundo, teremos problemas, as balsas foguetes disponíveis mal nos tirariam da órbita terrestre e com muita boa vontade nos jogariam, seis meses depois ou mais, no inóspito Marte.
Em minha mente ficou girando estes dois temas. Um sujeito agenda o fim do mundo e outros apontam que aqui mesmo, a poucos anos luz, há planetas bastante para não nos preocuparmos com estas coisinhas bobas de preservação da natureza, reciclagem, aquecimento global e toda a perturbação do ramo ecológico xiita. Uma coisa chama outra. Como quem faz associação livre, acabo lembrando que João, em seu fantástico livro de revelações, anuncia que o Senhor tem planos de uma nova terra e um novo céu. Sou dos que entende isso de forma literal. Alguma coisa como repetir o Gênesis. A partir do caos, refazer um lugar paradisíaco, mas desta vez por uma cisma divina qualquer, sem mar.
O texto apocalíptico não usa o plural, não seriam terras, mas umazinha apenas. Mas se há esta fartura toda perambulando dentro de nossa galáxia, seria pecaminoso pedir uma terrinha só para si? Podia ser à semelhança do pequeno príncipe que vivia num planetinha. A terrinha seria um endereço cósmico particular, disponível para viajantes intergalácticos de outras terras vizinhas. Imagino que nesta etapa da história, as pessoas malas terão tido algum destino, sei lá, uma dimensão paralela.
Vizinhança ruim, contra os quais nos alertaria o patriarca Abraão: atenção. Separa-nos um abismo lascado de profundo, um acidente geográfico entre os repuxos gravitacionais da trama espacial, como um buraco negro, algo intransponível. Quem tentar fazê-lo, será reduzido a nada. No caso do pessoal aporrinhador, morador da dimensão maldita, talvez até fosse um bom negócio, pois tornar-se nada, considerando as condições, deve ser melhor que estar despessoalizado e num tipo de solidão tão absurda que um teria perdido a percepção de ter a companhia até de si mesmo.
Os teólogos também batem cabeça com o fim do mundo. Mas o fazem com método. Colhem textos sagrados, esquartejam e os remontam em ordens certas (para cada qual) e contam estórias incríveis de como o Evento se dará, não sem inúmeros detalhes inspirados em João, o narrador, acrescidos de uma pimentinha para dar mais realismo.
Os discípulos, outros interessados em fim de mundo, acuavam Jesus com perguntas. Tinham uma pressa besta, Jesus não. Queriam um marco claro: dia, hora, mês e ano. Jesus lhes responde com histórias se não vagas, não tão claras como gostariam. Afinal, guerras e seus rumores, terremotos, tsunamis (que não está na versão original), e toda sorte de destrambelho, estão aí mesmo, diante de nossos olhos acostumados e só raramente estupefatos tal a prodigalidade com que ocorrem. Mas disse o vidente gringo: de outubro não passa, é pra valer. Preferiu não dar uma hora, um pequeno suspense para os espíritos mais frágeis. Nem se fale que ano que vem, lá por dezembro, teremos outro final de mundo segundo o calendário maia. Deu filme. Mas já perdeu o pique e, pelo visto, vão adiar para outro dia.
Não sei se confio nas contas do pastor americano para outubro, agora menos depois que o pobre teve um AVC. Mas também tenho pulgas atrás das orelhas por aqueles que gargateiam em cultos de arromba coisas para lá de fantasiosas que, confesso, me fazem rir. E isso é o que parece incrível. Sempre há quem dê crédito e até queira ouvir que morarão em ruas de ouro com coroas cravejadas de pedras preciosas, o que me soa de tremendo mau gosto. Com um pouco de imaginação, dá para reproduzir coisa bem parecida na Marquês de Sapucaí, ou não?
Então, devagar com o andor. Um fim de mundo de cada vez. Que ninguém empurre, nem fure a fila, também parece falta de educação guardar vez para retardatários ou para gente enfatuada que não quer aguentar a espera. Comprar vez na fila é de tremendo mau caratismo, embora haja uma galera com suas igrejinhas-franquia fazendo exatamente isso. Exagero, eles sequer mencionam mesmo um fim de mundo mixuruca, eles já chegaram num novo céu: a contas bancárias que o digam.
Enquanto o noticiário se ocupava em relatar as caravanas de crentes chamando os infiéis para entrar em sua arca, os cientistas, alheios ao burburinho apocalíptico, anunciavam um número estonteante. Apenas na Via Láctea, em números conservadores, deve ter uns 2 bilhões de planetas iguais à Terra. O danado é que estão há algumas centenas de anos, se conseguirmos viajar à velocidade da luz. Pois se aqui acontecer algum fim de mundo, teremos problemas, as balsas foguetes disponíveis mal nos tirariam da órbita terrestre e com muita boa vontade nos jogariam, seis meses depois ou mais, no inóspito Marte.
Em minha mente ficou girando estes dois temas. Um sujeito agenda o fim do mundo e outros apontam que aqui mesmo, a poucos anos luz, há planetas bastante para não nos preocuparmos com estas coisinhas bobas de preservação da natureza, reciclagem, aquecimento global e toda a perturbação do ramo ecológico xiita. Uma coisa chama outra. Como quem faz associação livre, acabo lembrando que João, em seu fantástico livro de revelações, anuncia que o Senhor tem planos de uma nova terra e um novo céu. Sou dos que entende isso de forma literal. Alguma coisa como repetir o Gênesis. A partir do caos, refazer um lugar paradisíaco, mas desta vez por uma cisma divina qualquer, sem mar.
O texto apocalíptico não usa o plural, não seriam terras, mas umazinha apenas. Mas se há esta fartura toda perambulando dentro de nossa galáxia, seria pecaminoso pedir uma terrinha só para si? Podia ser à semelhança do pequeno príncipe que vivia num planetinha. A terrinha seria um endereço cósmico particular, disponível para viajantes intergalácticos de outras terras vizinhas. Imagino que nesta etapa da história, as pessoas malas terão tido algum destino, sei lá, uma dimensão paralela.
Vizinhança ruim, contra os quais nos alertaria o patriarca Abraão: atenção. Separa-nos um abismo lascado de profundo, um acidente geográfico entre os repuxos gravitacionais da trama espacial, como um buraco negro, algo intransponível. Quem tentar fazê-lo, será reduzido a nada. No caso do pessoal aporrinhador, morador da dimensão maldita, talvez até fosse um bom negócio, pois tornar-se nada, considerando as condições, deve ser melhor que estar despessoalizado e num tipo de solidão tão absurda que um teria perdido a percepção de ter a companhia até de si mesmo.
Os teólogos também batem cabeça com o fim do mundo. Mas o fazem com método. Colhem textos sagrados, esquartejam e os remontam em ordens certas (para cada qual) e contam estórias incríveis de como o Evento se dará, não sem inúmeros detalhes inspirados em João, o narrador, acrescidos de uma pimentinha para dar mais realismo.
Os discípulos, outros interessados em fim de mundo, acuavam Jesus com perguntas. Tinham uma pressa besta, Jesus não. Queriam um marco claro: dia, hora, mês e ano. Jesus lhes responde com histórias se não vagas, não tão claras como gostariam. Afinal, guerras e seus rumores, terremotos, tsunamis (que não está na versão original), e toda sorte de destrambelho, estão aí mesmo, diante de nossos olhos acostumados e só raramente estupefatos tal a prodigalidade com que ocorrem. Mas disse o vidente gringo: de outubro não passa, é pra valer. Preferiu não dar uma hora, um pequeno suspense para os espíritos mais frágeis. Nem se fale que ano que vem, lá por dezembro, teremos outro final de mundo segundo o calendário maia. Deu filme. Mas já perdeu o pique e, pelo visto, vão adiar para outro dia.
Não sei se confio nas contas do pastor americano para outubro, agora menos depois que o pobre teve um AVC. Mas também tenho pulgas atrás das orelhas por aqueles que gargateiam em cultos de arromba coisas para lá de fantasiosas que, confesso, me fazem rir. E isso é o que parece incrível. Sempre há quem dê crédito e até queira ouvir que morarão em ruas de ouro com coroas cravejadas de pedras preciosas, o que me soa de tremendo mau gosto. Com um pouco de imaginação, dá para reproduzir coisa bem parecida na Marquês de Sapucaí, ou não?
Então, devagar com o andor. Um fim de mundo de cada vez. Que ninguém empurre, nem fure a fila, também parece falta de educação guardar vez para retardatários ou para gente enfatuada que não quer aguentar a espera. Comprar vez na fila é de tremendo mau caratismo, embora haja uma galera com suas igrejinhas-franquia fazendo exatamente isso. Exagero, eles sequer mencionam mesmo um fim de mundo mixuruca, eles já chegaram num novo céu: a contas bancárias que o digam.
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