Palavra do leitor
- 12 de maio de 2019
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O discípulo de segunda mão
Em sua obra de 1844 intitulada Migalhas Filosóficas, o filósofo cristão Sören Kierkegaard pergunta se os discípulos que conviveram com Jesus e tiveram contato pessoal com o mestre teriam privilégio em relação a nós que não convivemos com Ele. A mesma pergunta aparece em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor.
Nas Migalhas Filosóficas, Kierkegaard chamará a nós, discípulos que não conheceram o mestre, de discípulos de segunda mão, ao passo que em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor, o filósofo distinguirá duas figuras: o gênio e o apóstolo.
No primeiro caso, acerca do discípulo de segunda mão, o filósofo mostrará que ter Jesus como mestre não é parecido nem de perto com ter outro tipo de mestre, professor ou mentor. Para quem tem como mestre um exímio professor de filosofia, por exemplo, tal como Sócrates ou outro qualquer, basta fazer uso da razão e assim, apreender os conteúdos apresentados por seu mestre. E quando a apreensão dos mesmos lhe parecer difícil, basta que, num esforço por lembrar-se, encontre a verdade que estava escondida dentro de si mesmo. Há, portanto, aqui, uma perfeita sincronia entre mestre e discípulo.
A perfeita sincronia entre mestre e discípulo ocorre porque ambos estão dentro da História. Eles estão, portanto, no mesmo "lugar". E a mensagem ou verdade transmitida de um a outro, é também acessível por estar dentro de cada um, bastando apenas relembrá-la ou "puxá-la" para fora, fazendo-a vir à tona. Mais ou menos como num insight, cujo nome técnico-filosófico é reminiscência. A função do mestre aqui é justamente esta: ajudar o discípulo a "puxar para fora" verdades que foram esquecidas e estão escondidas debaixo do "tapete da consciência".
Já no caso de termos Jesus como mestre a situação se mostra completamente outra. Primeiramente porque mesmo quando Jesus esteve com seus discípulos e com eles conviveu, sempre houve uma distância abissal entre mestre-discípulo. Podemos verificar isto nas inúmeras vezes em que Jesus não foi compreendido por seus próprios discípulos. Não falo nem de seus contemporâneos, mas somente de seus discípulos, que é a relação importante para nós aqui.
Então, no caso de Jesus, não há uma perfeita sincronia entre mestre-discípulo (mesmo quando ambos estavam, por assim dizer, dentro da História e no mesmo lugar). Ao contrário, há entre mestre-discípulo um abismo enorme e radical: o mestre é perfeito, o discípulo imperfeito; o mestre é eterno, o discípulo busca salvação (felicidade eterna); o mestre é a encarnação da Verdade, enquanto o discípulo busca a verdade.
Entretanto, se no caso de um mestre genial tal como um exímio professor ou mesmo Sócrates, a verdade poderia ser encontrada e acessada apenas por um esforço de recordação e de "puxá-la para fora", tornando-a visível ao discípulo, no caso do mestre-eterno, a Verdade não pode ser encontrada por mera recordação, uma vez que a verdade não está dentro da pessoa, nem na História para que possa ser descortinada, mas está fora do tempo. Então, o discípulo só terá acesso a Verdade por meio da revelação, a qual se dá num instante. E este instante é o momento aonde milagrosa e paradoxalmente, o Eterno se encontra ou encarna no temporal. Jesus é a Verdade encarnada, neste instante milagroso aonde o Eterno (Jesus Cristo), encarnou e revelou-se no tempo!
O conhecimento transmitido por um mestre ordinário, por mais genial que seja, é um conhecimento muito diferente do conhecimento transmitido pelo mestre-Jesus. O primeiro tipo de conhecimento pode ser alcançado pelo uso da racionalidade, num exercício de reflexão de "trazer o conhecimento à tona ou para fora". Nesta relação, mestre-e-discípulo estão em perfeita sincronia como já foi dito. Porém, o conhecimento transmitido por Jesus, o mestre-eterno, é um conhecimento atemporal que diz respeito à salvação e à felicidade eterna. Tal conhecimento não pode ser acessado por meio da razão, nem do empenho intelectual ou da recordação, mas somente por meio da fé, que capta a revelação da Verdade naquele instantezinho milagroso aonde Deus que é eterno faz-se concreto e presente no tempo.
Conclui-se disto, que pouco importa se somos discípulos de segunda mão. Se não convivemos com Jesus o nazareno (Paulo apóstolo também não conviveu). O que importa é se temos fé capaz de fazer com que apreendamos em nosso íntimo a revelação da Verdade no instante em que milagrosa e paradoxalmente o eterno se encontra no tempo. E isto não acontece todo dia! E quantos homens conviveram com Jesus, comendo e proseando com o mestre, sem jamais apreender esta doce Verdade: Deus encarnou e está entre nós! Por ele temos salvação e felicidade eterna!
Continue lendo (...): http://escoladocristianismo.blogspot.com/2019/05/o-discipulo-de-segunda-mao.html
• JOSÉ CHADAN é mestre e bacharel com licenciatura em filosofia. Também é licenciado em história. Autor de livros, artigos e ensaios sobre filosofia e cristianismo.
E-mail: zepchadan@outlook.com .
Nas Migalhas Filosóficas, Kierkegaard chamará a nós, discípulos que não conheceram o mestre, de discípulos de segunda mão, ao passo que em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor, o filósofo distinguirá duas figuras: o gênio e o apóstolo.
No primeiro caso, acerca do discípulo de segunda mão, o filósofo mostrará que ter Jesus como mestre não é parecido nem de perto com ter outro tipo de mestre, professor ou mentor. Para quem tem como mestre um exímio professor de filosofia, por exemplo, tal como Sócrates ou outro qualquer, basta fazer uso da razão e assim, apreender os conteúdos apresentados por seu mestre. E quando a apreensão dos mesmos lhe parecer difícil, basta que, num esforço por lembrar-se, encontre a verdade que estava escondida dentro de si mesmo. Há, portanto, aqui, uma perfeita sincronia entre mestre e discípulo.
A perfeita sincronia entre mestre e discípulo ocorre porque ambos estão dentro da História. Eles estão, portanto, no mesmo "lugar". E a mensagem ou verdade transmitida de um a outro, é também acessível por estar dentro de cada um, bastando apenas relembrá-la ou "puxá-la" para fora, fazendo-a vir à tona. Mais ou menos como num insight, cujo nome técnico-filosófico é reminiscência. A função do mestre aqui é justamente esta: ajudar o discípulo a "puxar para fora" verdades que foram esquecidas e estão escondidas debaixo do "tapete da consciência".
Já no caso de termos Jesus como mestre a situação se mostra completamente outra. Primeiramente porque mesmo quando Jesus esteve com seus discípulos e com eles conviveu, sempre houve uma distância abissal entre mestre-discípulo. Podemos verificar isto nas inúmeras vezes em que Jesus não foi compreendido por seus próprios discípulos. Não falo nem de seus contemporâneos, mas somente de seus discípulos, que é a relação importante para nós aqui.
Então, no caso de Jesus, não há uma perfeita sincronia entre mestre-discípulo (mesmo quando ambos estavam, por assim dizer, dentro da História e no mesmo lugar). Ao contrário, há entre mestre-discípulo um abismo enorme e radical: o mestre é perfeito, o discípulo imperfeito; o mestre é eterno, o discípulo busca salvação (felicidade eterna); o mestre é a encarnação da Verdade, enquanto o discípulo busca a verdade.
Entretanto, se no caso de um mestre genial tal como um exímio professor ou mesmo Sócrates, a verdade poderia ser encontrada e acessada apenas por um esforço de recordação e de "puxá-la para fora", tornando-a visível ao discípulo, no caso do mestre-eterno, a Verdade não pode ser encontrada por mera recordação, uma vez que a verdade não está dentro da pessoa, nem na História para que possa ser descortinada, mas está fora do tempo. Então, o discípulo só terá acesso a Verdade por meio da revelação, a qual se dá num instante. E este instante é o momento aonde milagrosa e paradoxalmente, o Eterno se encontra ou encarna no temporal. Jesus é a Verdade encarnada, neste instante milagroso aonde o Eterno (Jesus Cristo), encarnou e revelou-se no tempo!
O conhecimento transmitido por um mestre ordinário, por mais genial que seja, é um conhecimento muito diferente do conhecimento transmitido pelo mestre-Jesus. O primeiro tipo de conhecimento pode ser alcançado pelo uso da racionalidade, num exercício de reflexão de "trazer o conhecimento à tona ou para fora". Nesta relação, mestre-e-discípulo estão em perfeita sincronia como já foi dito. Porém, o conhecimento transmitido por Jesus, o mestre-eterno, é um conhecimento atemporal que diz respeito à salvação e à felicidade eterna. Tal conhecimento não pode ser acessado por meio da razão, nem do empenho intelectual ou da recordação, mas somente por meio da fé, que capta a revelação da Verdade naquele instantezinho milagroso aonde Deus que é eterno faz-se concreto e presente no tempo.
Conclui-se disto, que pouco importa se somos discípulos de segunda mão. Se não convivemos com Jesus o nazareno (Paulo apóstolo também não conviveu). O que importa é se temos fé capaz de fazer com que apreendamos em nosso íntimo a revelação da Verdade no instante em que milagrosa e paradoxalmente o eterno se encontra no tempo. E isto não acontece todo dia! E quantos homens conviveram com Jesus, comendo e proseando com o mestre, sem jamais apreender esta doce Verdade: Deus encarnou e está entre nós! Por ele temos salvação e felicidade eterna!
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