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Palavra do leitor

O Deus que cabe no meu bolso

"Se o Deus da revelação bíblica se apresenta com o termo de onipotente, então, o por qual motivo o reduzimos a uma figura um pouco além do cosmo, do tempo – espaço, a qual conseguimos o manipular, caso venhamos a conseguir nos valer dos meios ou das fórmulas ou das palavras certas? ’’

Êxodo 3.14

O Deus da revelação bíblica, conforme se descreve, com ênfase, pelos cristãos, veio até nós e me estranha a insistência de pessoas voltadas a se portarem como detentoras e com a capacidade de o manipular. Decerto, como pode ser submetido a todo um emaranhado de expedientes para o conduzir a como agir, uma vez de ser onipotente, dotado de uma potência, de uma força, de uma vivacidade ilimitada, irrefreável e indominável?

Sinceramente, ainda me debruço a procura de uma resposta condizente. Entrementes ou enquanto isso, os mecanismos mirabolantes das campanhas, dos votos, das promessas, das oferendas, dos jejuns, das orações no romper e irromper da madrugada prosseguem a todo o vapor. É bem verdade, não execro ou abomino a imersão numa relação de pessoalidade, de intimidade e de profundidade com o Deus Ser Humano Jesus Cristo, entretanto, em muitas situações, observa-se uma profusão de um Deus que caiba no meu bolso, no meu bolso de vontades, no meu bolso de ações e reações antropomórficas (ao projetar minhas distorções no mesmo e, por isso, tantas contradições e ironias), no meu bolso de idealismos e de ideologias, no meu bolso das minhas doutrinas e teologias, no meu bolso das minhas loucuras e indiferenças. Sem sombra de dúvida, esse Deus não pode ser onipotente, em hipótese alguma, porque não passa de um instrumento voltado a atender os meus anseios e as minhas paixões. Não por menos, parece ser um Deus equidistante de sua criação, escondido em algum canto do quarto do universo, ressentido por suas escolhas e que cede a alguns que encontram a combinação certa para o conduzir. O mais dantesco, o quanto esse Deus mais se assemelha ao Deus de Spinoza, de Davi Hume, de muitos iluministas, sem nenhuma intenção de se conectar com ninguém, aqui, embaixo. De maneira triste, esse Deus parece não apreciar se envolver conosco e para que? Afinal de contas, há pessoas dotadas dos artifícios para extrair as vitórias, as bênçãos, as vinganças (evidentemente, travestido com o discurso da justiça, de que fará justiça e, lá no fundo, não passa mesmo da sede virulenta de pessoas quererem ir a desforra) e, por tal modo, são o eixo, são a tônica, estão acima do princípio e do fim, são o sentido, o destino e o motivo de ser do evangelho e não mais a Cruz do Ressurreto, do Logos Preexistente e Criativo, Daquele tudo e a todos precede e nos ajuda a recomeçar. Nada disso, veiculam a propagação do Deus que cabe, que se adequa e que submete ao meu bolso e nada mais, sem nenhuma metanoia, sem nenhuma esperança efusiva que nos faça ir adiante e não prescindir ou renunciar a vida, sem a percepção de um novo céu e de uma nova terra.

Ademais, não será o Deus que espelho para as pessoas, todos os dias?
São Paulo - SP
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