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Palavra do leitor

O design inteligente e a 'teoria' do flogisto

O DESIGN INTELIGENTE é uma proposta. Certas características do universo e dos seres vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente e não por um processo pela via da seleção natural.

O DESIGN INTELIGENTE seria, portanto, uma adaptação contemporânea do tradicional argumento teleológico para a existência de Deus. O DESIGN é religião travestida de ciência.

O argumento teleológico atribui ordem em a natureza amarrando tudo a um propósito final que por sua vez apontaria para Deus. Há na natureza, segue o argumento, um propósito, um fim.

O britânico William Paley (1743-1805) ilustrou o milenar argumento por meio de uma analogia: o funcionamento de um relógio. Se você visse um relógio pela primeira vez na vida, de pronto imaginaria que aquilo ali só poderia ter sido o produto de um projetista inteligente. Logo, por analogia, o sistema solar, o universo inteiro, a própria vida, necessitariam de um projetista, um designer.

O ponto de Paley: a complexidade das coisas exige uma mente mais complexa ainda para criar. O relógio tem que ter um criador, esse alguém é Deus.

Paley caiu em desuso, o argumento idem, e a coisa tomou outro rumo.

O ex-presidente George W. Bush (falando sobre Criacionismo) certa ocasião declarou que uma pessoa tem sempre que ser exposta a diferentes ideias e argumentos. Numa outra variante, temos sempre que ouvir ‘os dois lados’; ou, na minha área jurídica, o contraditório. Certo? Errado!

Aplique essa ideia de ‘ouvir os dois lados’ a Judas Iscariotes. Vai que ele tem razão em ter vendido a Jesus! Veja o caso do Holocausto, Ahmadinejad, presidente do Irã, acha que nunca existiu!

Assim a Teoria da EVOLUÇÃO tem, na opinião de Bush, que dar espaço ao CRIACIONISMO, também. Meu neto, por exemplo, teria que ouvir uma exposição do professor de biologia que contemplasse as duas posições --- EVOLUÇÃO e CRIACIONISMO --- e, ao final, decidiria.

O intelectualmente desonesto tem mania de chamar uma Teoria científica, corpo sólido de conhecimento apoiado em evidências e modelo determinado de um fenômeno observável no universo de ‘só uma teoria’, numa alusão à ‘teoria’ que deveria ser substituído por ‘hipótese’. A Teoria da Relatividade é fato, ou você não acredita em GPS?

Assim, com frequência se diz que a Evolução é apenas uma ‘teoria’. Uma ideia, uma conjectura. Interessante que as mesmas pessoas que dizem isso, não querem considerar o Design Inteligente como ‘teoria’!

Evolução é fato, fundado em argumento científico consolidado; o Criacionismo não é nem fato nem argumento, mas contravenção religiosa.

Não sendo pessoa versada em ciência nem tida como presidente de destaque, Bush esqueceu-se de a máxima de que quando dois argumentos são apresentados com igual força, a verdade não necessariamente fica metade para cada lado. Muito provavelmente um lado simplesmente pode estar errado.

O Criacionismo não é ciência e, como a Constituição Americana faz uma clara distinção entre Igreja e Estado, a única maneira de colocar o Criacionismo nos textos didáticos é camufla-lo como sendo ciência.

“Mas não tem nenhum valor o Criacionismo?”. Como ciência, nenhum. Mas em um curso de história das ideias ou em algum departamento de religião sobre tipos de argumentos, provavelmente, sim.

Em um longo artigo publicado no jornal Inglês, The Guardian (AQUI ), Dawkins, professor de zoologia em Oxford, conhecido ateu, alinhavou alguns argumentos contra o Criacionismo ‘como’ ciência (‘como’, preposição e não conjunção ou adverbio).

1. O Criacionismo propriamente dito: se fosse ciência, as grandes revistas de pesquisa no mundo inteiro superabundavam de material. Não é que as revistas rejeitam o Criacionismo, simplesmente não existe material de pesquisa a ser publicado. O máximo que conseguem, é tentar achar algum ‘buraco’ na teoria da Evolução.

2. Dawkins como debatedor: seguindo o conselho de seu falecido colega Stephen Jay Gould, se recusa a participar de debates formais com os Criacionistas sob a alegação de que eles procuram o ‘oxigênio da respeitabilidade’ para sobreviver. De modo que admitido a possibilidade de o Evolucionismo ser ciência, esse reconhecimento os catapultariam à credibilidade.

A teoria do ‘flogisto’ (‘o que inflama’) foi uma tentativa científica obsoleta que postulou a existência de um elemento chamado ‘flogisto’ contido em corpos combustíveis e liberado durante a combustão.

Químicos à época fascinarem-se pela teoria, mas foi Lavoisier quem enterrou tudo com pá de cal pela descoberta acidental do oxigênio em 1774.

A prova conclusiva foi apresentada por Lavoisier: o aumento em massa dos metais quando calcinados é igual ao volume do oxigênio consumido na formação do óxido; segundo, a combustão é uma reação de associação e de aumento de massa que não se explica pela mera perda de uma substância.

O fantasma do ‘flogisto’ foi definitivamente banido da ciência. Idem para o Criacionismo.
P - RN
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