Palavra do leitor
- 10 de janeiro de 2012
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O choque de civilizações e os bananas da hora
SAMUEL P. HUNTINGTON (1927-2008)
O livro O CHOQUE DE CIVILIZAÇOES E A RECOMPOSIÇAO DA ORDEM MUNDIAL é uma descrição da geopolítica do pós-guerra fria. Tese central: os conflitos depois do fim da guerra fria teriam sido resultados mais de diferenças culturais e menos ideológicas.
Durante a chamada Guerra Fria, se o conflito entre o Ocidente (democrático) e o Leste (comunista) fora ideológico, o período seguinte seria entre civilizações, isto é, conflito cultural. As guerras não mais seriam travadas entre Estados, mas entre culturas, a Ocidental e a Oriental, por exemplo. Entendo!
Depois do 9/11 em Nova York (que alguns bananas chamam de ‘mito’), a ênfase anterior do poder de impérios teria cedido lugar ao religioso. Contrário a Estados e etnias, o conflito seria cultural, sustenta o livro. Legal!
Estados-Nação continuariam atores poderosos, mas os principais conflitos ocorreriam entre civilizações (culturas) que dominariam a política global. Congele isso tudo por um momento. Retroceda um pouco.
JOHN NELSON DARBY (1800-1882)
Já ouviu falar? Foi um ‘teólogo' aloprado que interpretou a bíblia no seu sentido mais literal/gramatical possível. Ganhou a reputação de ‘intérprete profético’, propaganda teológica do Seminário Teológico de Dallas e Universidade Bob Jones, bem como por Hal Lindsey e Tim LaHaye. Lembram-se?
Darby é o pai de o ‘dispensacionalismo’. Parte dessa ‘teologia’ é a crença no destino dos Judeus e o restabelecimento do Reino de Israel. Resulta na visão de que o Estado de Israel hoje é o broto da ‘enxertia’ do ‘povo de Deus’ na ‘videira’ em cumprimento às profecias. Lorota!
C. I. Scofield deu um toque surrealista às ideias de Darby. Seriam 7 as dispensações (da Criação ao Juízo Final). Graças a isso que picuinhas milenaristas juntaram-se ao influente fundamentalismo Cristão nos Estados Unidos e no Brasil. Congela de novo!
BALFOUR (1917) E OSVALDO ARANHA (1947)
A carta do Ministro das Relações Exteriores, o Inglês Arthur James Balfour, ao Barão Rothschild declarava que Sua Majestade via com enorme carinho o estabelecimento na Palestina de uma pátria para o povo Judeu.
Osvaldo E. de S. Aranha (1894-1960), Brasileiro de Alegrete (RS), diplomata, foi o maior lobista para a criação do Estado de Israel. Foi chefe da delegação Brasileira na ONU e Presidente da Assembleia Geral em 1947, ano em que o atual Estado de Israel foi criado, estabelecendo assim a tradição de abertura da Assembleia por um Brasileiro. Ano passado foi Dilma Rousseff. Discurso sem cor e cheiro.
AMARRAÇÃO FINAL: HUNTINGTON, DARBY E ARANHA
Sempre houve uma tentativa em estabelecer um elo entre as narrativas do Velho Testamento (Abrahão), passando pelo Novo (conversão de Paulo), o Império Romano (destruição do templo), a Diáspora, Nazismo (Holocausto, Shoah) até aos nossos dias com a presente criação de Israel.
Uma das características da ‘teologia’ Cristã, na vertente ultraconservadora, fundamentalista, dispensacionalista e ultra-ortodoxa é ‘ler’ de ponta-a-ponta os dois Testamentos como história (‘Historisch’, para os Alemães) --- fazendo a ‘leitura’ tanto quanto possível de modo a não distinguir fatos ‘históricos’ e, pior, numa sequência linear só. Vejam um exemplo comparativo.
‘Heil Als Geschichte’ é o título de um livro de Oscar Cullmann. Uma das teses é, o ‘mar’ que se ‘abre’ em Êxodo ('abrir' não é fato histórico: não existe mar e não abriu coisa nenhuma) só tem valor se vier acompanhado de uma Palavra (kerigma) de interpretação. O ‘mar’ que se ‘abre’ é somente ‘Heilsgeschichte’ (‘supra história’). Não interessa a Cullmann se o mar abriu ou não. Mas interessa a Palavra (kerigma) de fé desse 'abrir'. Esse é o kerigma do ‘mar que abriu e tragou os Egípcios’ e salvou o povo: a ação de Deus na história. Cullmann acha difícil juntar ‘fatos’ que não são fatos para substanciar a fé.
Não gostou? Muitos não gostam! Nem eu. Mas uma coisa eu definitivamente não tolero: a ‘teologia’ a 'historia' de que Israel, país com assento na ONU é, por algum estalar de dedos ‘teológico’, o povo de Deus.
Israel é república democrática parlamentarista com 7,9 milhões de pessoas, sendo 5,9 milhões de Judeus. Os Árabes constituem o segundo maior grupo étnico. O sistema judicial combina tradições do sistema Inglês, direito Romano e a Torá.
Se você achar que o Estado de Israel é o cumprimento das profecias dos Testamentos, eu tenho uma sugestão a fazer-lhe: peça a palavra e informe isso ao Knesset e a Suprema Corte de Israel!
Volto a Huntington, deixo de lado os embusteiros dispensacionalistas, jogo no lixo a ‘leitura’ sob o olhar ideológico (Balfour, Aranha) e vou direto a Huntington.
Até o André Comte-Sponville reconhece, “O que resta[ria] do Ocidente cristão, quando ele já não é [fosse] mais cristão”? O Cristianismo é crucial!
‘Primavera Árabe’? Os bananas e os dispensacionalistas acham que agora a ‘democracia’, o ‘estado de direito’, as ‘instituições fundantes’ do mundo Ocidental vingarão profeticamente. Me engana que eu gosto!
O livro O CHOQUE DE CIVILIZAÇOES E A RECOMPOSIÇAO DA ORDEM MUNDIAL é uma descrição da geopolítica do pós-guerra fria. Tese central: os conflitos depois do fim da guerra fria teriam sido resultados mais de diferenças culturais e menos ideológicas.
Durante a chamada Guerra Fria, se o conflito entre o Ocidente (democrático) e o Leste (comunista) fora ideológico, o período seguinte seria entre civilizações, isto é, conflito cultural. As guerras não mais seriam travadas entre Estados, mas entre culturas, a Ocidental e a Oriental, por exemplo. Entendo!
Depois do 9/11 em Nova York (que alguns bananas chamam de ‘mito’), a ênfase anterior do poder de impérios teria cedido lugar ao religioso. Contrário a Estados e etnias, o conflito seria cultural, sustenta o livro. Legal!
Estados-Nação continuariam atores poderosos, mas os principais conflitos ocorreriam entre civilizações (culturas) que dominariam a política global. Congele isso tudo por um momento. Retroceda um pouco.
JOHN NELSON DARBY (1800-1882)
Já ouviu falar? Foi um ‘teólogo' aloprado que interpretou a bíblia no seu sentido mais literal/gramatical possível. Ganhou a reputação de ‘intérprete profético’, propaganda teológica do Seminário Teológico de Dallas e Universidade Bob Jones, bem como por Hal Lindsey e Tim LaHaye. Lembram-se?
Darby é o pai de o ‘dispensacionalismo’. Parte dessa ‘teologia’ é a crença no destino dos Judeus e o restabelecimento do Reino de Israel. Resulta na visão de que o Estado de Israel hoje é o broto da ‘enxertia’ do ‘povo de Deus’ na ‘videira’ em cumprimento às profecias. Lorota!
C. I. Scofield deu um toque surrealista às ideias de Darby. Seriam 7 as dispensações (da Criação ao Juízo Final). Graças a isso que picuinhas milenaristas juntaram-se ao influente fundamentalismo Cristão nos Estados Unidos e no Brasil. Congela de novo!
BALFOUR (1917) E OSVALDO ARANHA (1947)
A carta do Ministro das Relações Exteriores, o Inglês Arthur James Balfour, ao Barão Rothschild declarava que Sua Majestade via com enorme carinho o estabelecimento na Palestina de uma pátria para o povo Judeu.
Osvaldo E. de S. Aranha (1894-1960), Brasileiro de Alegrete (RS), diplomata, foi o maior lobista para a criação do Estado de Israel. Foi chefe da delegação Brasileira na ONU e Presidente da Assembleia Geral em 1947, ano em que o atual Estado de Israel foi criado, estabelecendo assim a tradição de abertura da Assembleia por um Brasileiro. Ano passado foi Dilma Rousseff. Discurso sem cor e cheiro.
AMARRAÇÃO FINAL: HUNTINGTON, DARBY E ARANHA
Sempre houve uma tentativa em estabelecer um elo entre as narrativas do Velho Testamento (Abrahão), passando pelo Novo (conversão de Paulo), o Império Romano (destruição do templo), a Diáspora, Nazismo (Holocausto, Shoah) até aos nossos dias com a presente criação de Israel.
Uma das características da ‘teologia’ Cristã, na vertente ultraconservadora, fundamentalista, dispensacionalista e ultra-ortodoxa é ‘ler’ de ponta-a-ponta os dois Testamentos como história (‘Historisch’, para os Alemães) --- fazendo a ‘leitura’ tanto quanto possível de modo a não distinguir fatos ‘históricos’ e, pior, numa sequência linear só. Vejam um exemplo comparativo.
‘Heil Als Geschichte’ é o título de um livro de Oscar Cullmann. Uma das teses é, o ‘mar’ que se ‘abre’ em Êxodo ('abrir' não é fato histórico: não existe mar e não abriu coisa nenhuma) só tem valor se vier acompanhado de uma Palavra (kerigma) de interpretação. O ‘mar’ que se ‘abre’ é somente ‘Heilsgeschichte’ (‘supra história’). Não interessa a Cullmann se o mar abriu ou não. Mas interessa a Palavra (kerigma) de fé desse 'abrir'. Esse é o kerigma do ‘mar que abriu e tragou os Egípcios’ e salvou o povo: a ação de Deus na história. Cullmann acha difícil juntar ‘fatos’ que não são fatos para substanciar a fé.
Não gostou? Muitos não gostam! Nem eu. Mas uma coisa eu definitivamente não tolero: a ‘teologia’ a 'historia' de que Israel, país com assento na ONU é, por algum estalar de dedos ‘teológico’, o povo de Deus.
Israel é república democrática parlamentarista com 7,9 milhões de pessoas, sendo 5,9 milhões de Judeus. Os Árabes constituem o segundo maior grupo étnico. O sistema judicial combina tradições do sistema Inglês, direito Romano e a Torá.
Se você achar que o Estado de Israel é o cumprimento das profecias dos Testamentos, eu tenho uma sugestão a fazer-lhe: peça a palavra e informe isso ao Knesset e a Suprema Corte de Israel!
Volto a Huntington, deixo de lado os embusteiros dispensacionalistas, jogo no lixo a ‘leitura’ sob o olhar ideológico (Balfour, Aranha) e vou direto a Huntington.
Até o André Comte-Sponville reconhece, “O que resta[ria] do Ocidente cristão, quando ele já não é [fosse] mais cristão”? O Cristianismo é crucial!
‘Primavera Árabe’? Os bananas e os dispensacionalistas acham que agora a ‘democracia’, o ‘estado de direito’, as ‘instituições fundantes’ do mundo Ocidental vingarão profeticamente. Me engana que eu gosto!
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