Normalismo e a reflexão de uma negociação cristã na política

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O artigo "normalista" da edição Edição 323 Março-Abril 2010 sobre "esquerda", algumas experiências recentes e o que acontece agora com os professores de São Paulo, me fizeram pensar um pouco sobre o que vem a ser uma "postura de negociação cristã na política".

Posso estar equivocado, mas ainda assim arrisco a reflexão. Peço desculpas se este texto parecer também "normalista", pois de forma alguma tenho todas as respostas, não sou missionário de ideias, as boas já vem convertidas do Trono do Pai, assim sendo, eu é que me converto à elas.

Para sentar em uma mesa de negociação política é preciso primeiro ter convicção e postura frente ao que se acredita, ter noção clara frente as contradições que se apresentam, se não é apenas o primeiro passo para a cooptação. Quando já se fez tanta negociação, de forma que o negociador perdeu contato com o objeto negociado, é sinal de que nem se sabe mais qual é o negócio em questão, a negociação é agora o grande objetivo. Permanecer negociando, significa desta forma, continuar ocupando espaço de poder, um objetivo em si mesmo.

Já vi assessores de políticos voarem de helicóptero para cima e para baixo, obviamente em negociação, sem se lembrar que, para voar aos céus tem que sair do chão primeiro. Parece obvio, mas para negociar politicamente tem que ter o que negociar, alguns negociam o próprio objetivo na falta ou descaso à convicções mais profundas.

Também a questão do com quem se negocia, está intimamente ligada ao que se negocia. Penso que ainda existe uma visão macro da política, mesmo que muitos valorizem em demasiado o micro-espaço de decisão. Como será sentar à mesa para discutir a escola pública com representantes de um partido que recebeu dinheiro do lobby das escolas particulares? Para que e para quem serve uma escola pública, "gratuita" (pagamos impostos para isso) e de qualidade?

O desenvolvimento de qualidade do ensino público seria uma tristeza para as escolas privadas. Quem fica feliz com a escola tecnicista?

Agora, me postar radicalmente contrário a como outro ser humano age, não me dá razão para odiá-lo, e nisto, para mim, consiste uma postura cristã, não querer para ele o mesmo mal com que inflige ao mais fraco.

"Mateus 5:44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;"

Para sintetizar, lembro Freire quando cita na Pedagogia do Oprimido:

"E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos seus opressores."

Não vejo sectarismo nisto. Se esta é uma postura de esquerda? Isto é socialismo? Todas as vezes que, minimamente agi assim, foi a denominação que recebi de outras pessoas, que por sinal oprimiam a outros, inclusive a mim mesmo.

Espero que um dia, quando me rotularem, utilizem a expressão cristão. Não nego as anteriores, mas me identifico melhor com esta.

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