Palavra do leitor
- 11 de setembro de 2014
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Niilismo eclesiástico: uma análise sobre os desigrejados
Por: Idauro Campos.
No ano de 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou os dados censitários de uma ampla análise desenvolvida pelo POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), onde, entre outros temas, avaliou a performance da religiosidade do brasileiro. Na pesquisa foi apontada que, em termos de identidade religiosa, o grupo que mais cresceu foi dos que se declararam “sem religião”. Algo surpreendente no Brasil, que sempre se orgulhou de ser o “o maior país católico do mundo”. Além disso, outro dado divulgado e que muito chamou a atenção, foi a identificação de um ator social até bem pouco tempo inexistente no extrato religioso em nosso território: o evangélico nominal, isto é, sem vínculo eclesiástico, ou, como ficou conhecido, desigrejado. De acordo com o IBGE, já são mais de quatro milhões de evangélicos em tal situação. São cristãos protestantes, identificados com as doutrinas fundamentais de fé cristã (creem, portanto, no nascimento virginal de Cristo, na sua morte expiatória, na ressurreição, na Segunda Vinda e na vida eterna aos fiéis; celebram a Ceia e passam pelas águas do batismo), mas que se recusam a congregar, pois não acreditam mais na necessidade e relevância da igreja institucional.
A amostragem dos dados que comprovam o fenômeno chamou a atenção da mídia cristã especializada e também da secular , pois, historicamente era conhecido no que tange ao comportamento dos evangélicos no Brasil, que duas características sobressaíam: o hábito da leitura da Bíblia e a pertença eclesiástica. Contudo, com a revelação do contingente impressionante de desigrejados , a noção e o valor da pertença entre os evangélicos já vem sendo questionada, aproximando-se, portanto, dos católicos nominais, despertando a curiosidade de pesquisadores das Ciências da Religião e dos próprios órgãos de imprensa.
A Repercussão
Assim que os dados foram divulgados, uma série de reportagens, livros e sites começou a circular, tentando entender o fenômeno. A Revista Cristianismo Hoje, prestigiada publicação cristã e braço brasileiro da Christianity Today, publicou duas matérias sobre o assunto . Até aí, nada surpreendente, visto ser natural que um periódico cristão de linha protestante repercutisse um assunto que atinge em cheio a realidade eclesiástica no Brasil. Entretanto, as Revistas Isto É e Época (esta última de responsabilidade das Organizações Globo) e também o importante jornal Folha de São Paulo, publicaram matérias sobre o assunto, evidenciando a importância do movimento para a compreensão do fenômeno religioso brasileiro. Editoras cristãs também entraram em cena, propondo reflexões sobre a tendência e, como não poderia ser diferente em tempos virtuais, sites e blogs também resolveram contribuir e/ ou tumultuar o debate.
O Histórico da Repercussão no Brasil
a) Augustus Nicodemus Lopes publica no blog Tempora-Mores, em abril de 2010, um artigo intitulado “Os Desigrejados” e populariza tanto o conceito quanto o uso do termo no Brasil. Início de minha pesquisa.
b) Maurício Zágari publica em 2010, na Revista Cristianismo Hoje, artigo intitulado: “Decepcionados com a Igreja”.
c) Em 2010 a Revista Época publica matéria de capa (A Nova Reforma Protestante) com evangélicos insatisfeitos com os modelos tradicionais de igreja.
d) Jornal Folha de São Paulo publica, em 2011, matéria intitulada “Cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas”.
e) Revista Isto É publica, em 2011, matéria de capa “O Novo Retrato da Fé no Brasil” – nomadismo religioso.
f) Sites como Genizah e Púlpito Cristão multiplicam o assunto nas redes sociais.
Um Fenômeno Mundial (pós-modernidade)
Há no mundo contemporâneo uma crise de pertença, sobretudo, religiosa. Nos Estados Unidos da América (a maior nação protestante do mundo) e na Europa (berço das mais conhecidas denominações cristãs, como as Igrejas Anglicana, Luterana, Presbiteriana, Batista, Congregacional e Metodista, Exército da Salvação, entre outras) a marcha dos desigrejados é um fenômeno conhecido e discutido. Obras importantes e outras polêmicas já vieram a lume, visando esclarecer e ou polemizar a questão. Portanto, longe de ser um movimento isolado manifesto apenas em nosso país, o que vem ocorrendo é uma expressão nacional de uma onda de deserção institucional de grandes proporções que alcança o mundo inteiro, consequência, sem dúvida, da pós-modernidade que questiona e relativiza afirmações e conteúdos antes considerados absolutos e inegociáveis, gerando, assim, desencaixe em todas as esferas da sociedade, atingindo todas as expressões institucionais: partidos políticos, sistemas de governo, utopias, convenções familiares, casamento, religião, igrejas e etc., pois, conforme denunciou Zygmunt Bauman, “as estruturas estão se decompondo em face dos Tempos Líquidos” .
Os Números do Fenômeno no Mundo:
Continua na próxima semana...
No ano de 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou os dados censitários de uma ampla análise desenvolvida pelo POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), onde, entre outros temas, avaliou a performance da religiosidade do brasileiro. Na pesquisa foi apontada que, em termos de identidade religiosa, o grupo que mais cresceu foi dos que se declararam “sem religião”. Algo surpreendente no Brasil, que sempre se orgulhou de ser o “o maior país católico do mundo”. Além disso, outro dado divulgado e que muito chamou a atenção, foi a identificação de um ator social até bem pouco tempo inexistente no extrato religioso em nosso território: o evangélico nominal, isto é, sem vínculo eclesiástico, ou, como ficou conhecido, desigrejado. De acordo com o IBGE, já são mais de quatro milhões de evangélicos em tal situação. São cristãos protestantes, identificados com as doutrinas fundamentais de fé cristã (creem, portanto, no nascimento virginal de Cristo, na sua morte expiatória, na ressurreição, na Segunda Vinda e na vida eterna aos fiéis; celebram a Ceia e passam pelas águas do batismo), mas que se recusam a congregar, pois não acreditam mais na necessidade e relevância da igreja institucional.
A amostragem dos dados que comprovam o fenômeno chamou a atenção da mídia cristã especializada e também da secular , pois, historicamente era conhecido no que tange ao comportamento dos evangélicos no Brasil, que duas características sobressaíam: o hábito da leitura da Bíblia e a pertença eclesiástica. Contudo, com a revelação do contingente impressionante de desigrejados , a noção e o valor da pertença entre os evangélicos já vem sendo questionada, aproximando-se, portanto, dos católicos nominais, despertando a curiosidade de pesquisadores das Ciências da Religião e dos próprios órgãos de imprensa.
A Repercussão
Assim que os dados foram divulgados, uma série de reportagens, livros e sites começou a circular, tentando entender o fenômeno. A Revista Cristianismo Hoje, prestigiada publicação cristã e braço brasileiro da Christianity Today, publicou duas matérias sobre o assunto . Até aí, nada surpreendente, visto ser natural que um periódico cristão de linha protestante repercutisse um assunto que atinge em cheio a realidade eclesiástica no Brasil. Entretanto, as Revistas Isto É e Época (esta última de responsabilidade das Organizações Globo) e também o importante jornal Folha de São Paulo, publicaram matérias sobre o assunto, evidenciando a importância do movimento para a compreensão do fenômeno religioso brasileiro. Editoras cristãs também entraram em cena, propondo reflexões sobre a tendência e, como não poderia ser diferente em tempos virtuais, sites e blogs também resolveram contribuir e/ ou tumultuar o debate.
O Histórico da Repercussão no Brasil
a) Augustus Nicodemus Lopes publica no blog Tempora-Mores, em abril de 2010, um artigo intitulado “Os Desigrejados” e populariza tanto o conceito quanto o uso do termo no Brasil. Início de minha pesquisa.
b) Maurício Zágari publica em 2010, na Revista Cristianismo Hoje, artigo intitulado: “Decepcionados com a Igreja”.
c) Em 2010 a Revista Época publica matéria de capa (A Nova Reforma Protestante) com evangélicos insatisfeitos com os modelos tradicionais de igreja.
d) Jornal Folha de São Paulo publica, em 2011, matéria intitulada “Cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas”.
e) Revista Isto É publica, em 2011, matéria de capa “O Novo Retrato da Fé no Brasil” – nomadismo religioso.
f) Sites como Genizah e Púlpito Cristão multiplicam o assunto nas redes sociais.
Um Fenômeno Mundial (pós-modernidade)
Há no mundo contemporâneo uma crise de pertença, sobretudo, religiosa. Nos Estados Unidos da América (a maior nação protestante do mundo) e na Europa (berço das mais conhecidas denominações cristãs, como as Igrejas Anglicana, Luterana, Presbiteriana, Batista, Congregacional e Metodista, Exército da Salvação, entre outras) a marcha dos desigrejados é um fenômeno conhecido e discutido. Obras importantes e outras polêmicas já vieram a lume, visando esclarecer e ou polemizar a questão. Portanto, longe de ser um movimento isolado manifesto apenas em nosso país, o que vem ocorrendo é uma expressão nacional de uma onda de deserção institucional de grandes proporções que alcança o mundo inteiro, consequência, sem dúvida, da pós-modernidade que questiona e relativiza afirmações e conteúdos antes considerados absolutos e inegociáveis, gerando, assim, desencaixe em todas as esferas da sociedade, atingindo todas as expressões institucionais: partidos políticos, sistemas de governo, utopias, convenções familiares, casamento, religião, igrejas e etc., pois, conforme denunciou Zygmunt Bauman, “as estruturas estão se decompondo em face dos Tempos Líquidos” .
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