Palavra do leitor
- 02 de janeiro de 2023
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Nem oito, nem oitenta – nem liberalismo, nem legalismo
"Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão" (Gálatas 5:1).
"Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor" (Gálatas 5:13).
A epístola aos Gálatas é considerada a carta da liberdade cristã frente ao legalismo dos judaizantes que quase arrastaram alguns incautos para aquilo que Apóstolo Paulo denominara de "outro evangelho". O legalismo é a crença de que basta a observância externa, meticulosa e detalhista da Lei Mosaica para que alguém possa obter a salvação. Havia mais de 365 mandamentos a serem obedecidos. Logo, o legalismo se tornara um fardo pesado demais para pessoas simples seguirem à risca. O legalismo farisaico abrangia quase todas áreas e setores da vida: trabalho, casamento, alimentação e rituais religiosos.
No tempo de Jesus o ponto central do legalismo era a questão do dogma sabático. Sob hipótese nenhuma poderia alguém trabalhar no sábado. Vedação que se estendia a todos os familiares: mulheres, filhos, empregados e animais. No tempo de Paulo e dessa carta em particular, o acento do legalismo recai sobre a circuncisão, um ritual de aliança da família com Deus e de inserção do indivíduo no povo de Deus.
Tanto o sábado, quanto a circuncisão, tinham, inicialmente, um simbolismo claro. O sábado era um dia de descanso e da memória da criação. A circuncisão um ritual de iniciação. Com o passar do tempo, no entanto, o que era para ser um símbolo de libertação transformou-se num instrumento de opressão religiosa e legalista, esvaziando-se de sua finalidade.
O legalismo engana, pois aparenta ser uma expressão de piedade, santidade e reverência a Deus, mas pode dar margem à vaidade, orgulho e a pretensão de superioridade espiritual, o que é um desastre para o crente. Igualmente perigoso, é o extremo oposto do legalismo: o liberalismo. Liberalismo é uma palavra polissêmica e abrange liberalismo político, econômico e teológico. O liberalismo do qual falo aqui é o liberalismo moral e ético.
Para evitar esse perigo, Paulo mostra que a liberdade tem que ser usada com responsabilidade: "Não use da liberdade para dar ocasião da carne pecar" (Gl.5:13). Se liberdade cristã for usada sem responsabilidade, entraremos no terreno do "vale tudo" ou ainda da ideia de que "é proibido proibir". Liberdade sem limites é uma ameaça a própria liberdade, uma vez que não se obedeçam às normas, tácitas ou explícitas, convencionadas ou positivadas num código, a convivência humana é impossível.
Por um viés mais teológica, pode-se falar de graça preciosa e graça barata. Há uma banalização e barateamento da graça no liberalismo moral. Eu diria que é até um abuso da graça, baseado na premissa bíblica de que "onde abundou pecado superabundou a graça" (Rm.5:20). Como se esse versículo fosse uma licença para uma vida pecaminosa. Mas longe de defender tal ideia, o Apóstolo Paulo, nos versículos seguintes, faz uma pergunta retórica: "Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?" (Rm. 6:1). Ao que ele mesmo responde com um categórico não: "De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rm. 6:2). A nova vida do crente é uma morte para o pecado. De modo que, essa morte, representa, paradoxalmente, a vida.
A libertinagem é a falência dos absolutos morais exarados nas Escrituras Sagradas. Por outro lado, o legalismo é uma confiança exagerada na justiça e méritos próprios. Ambos atentam contra o evangelho da graça. O legalismo por ignorar a graça e o liberalismo por abusar dela. O legalismo infla o nosso ego e o liberalismo mata a referência da moral cristã. O mesmo Jesus que disse à mulher adúltera "nem eu te condeno", foi aquele quem disse "vai e não peques mais". A graça é de graça, mas não é barata, pois custou o alto preço da morte sacrificial e expiatória de Jesus e exige do discípulo o negar a si mesmo e seguir o Mestre, vivendo assim como Ele viveu. A graça é preciosa.
Por Isaac Vieira de Araújo
"Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor" (Gálatas 5:13).
A epístola aos Gálatas é considerada a carta da liberdade cristã frente ao legalismo dos judaizantes que quase arrastaram alguns incautos para aquilo que Apóstolo Paulo denominara de "outro evangelho". O legalismo é a crença de que basta a observância externa, meticulosa e detalhista da Lei Mosaica para que alguém possa obter a salvação. Havia mais de 365 mandamentos a serem obedecidos. Logo, o legalismo se tornara um fardo pesado demais para pessoas simples seguirem à risca. O legalismo farisaico abrangia quase todas áreas e setores da vida: trabalho, casamento, alimentação e rituais religiosos.
No tempo de Jesus o ponto central do legalismo era a questão do dogma sabático. Sob hipótese nenhuma poderia alguém trabalhar no sábado. Vedação que se estendia a todos os familiares: mulheres, filhos, empregados e animais. No tempo de Paulo e dessa carta em particular, o acento do legalismo recai sobre a circuncisão, um ritual de aliança da família com Deus e de inserção do indivíduo no povo de Deus.
Tanto o sábado, quanto a circuncisão, tinham, inicialmente, um simbolismo claro. O sábado era um dia de descanso e da memória da criação. A circuncisão um ritual de iniciação. Com o passar do tempo, no entanto, o que era para ser um símbolo de libertação transformou-se num instrumento de opressão religiosa e legalista, esvaziando-se de sua finalidade.
O legalismo engana, pois aparenta ser uma expressão de piedade, santidade e reverência a Deus, mas pode dar margem à vaidade, orgulho e a pretensão de superioridade espiritual, o que é um desastre para o crente. Igualmente perigoso, é o extremo oposto do legalismo: o liberalismo. Liberalismo é uma palavra polissêmica e abrange liberalismo político, econômico e teológico. O liberalismo do qual falo aqui é o liberalismo moral e ético.
Para evitar esse perigo, Paulo mostra que a liberdade tem que ser usada com responsabilidade: "Não use da liberdade para dar ocasião da carne pecar" (Gl.5:13). Se liberdade cristã for usada sem responsabilidade, entraremos no terreno do "vale tudo" ou ainda da ideia de que "é proibido proibir". Liberdade sem limites é uma ameaça a própria liberdade, uma vez que não se obedeçam às normas, tácitas ou explícitas, convencionadas ou positivadas num código, a convivência humana é impossível.
Por um viés mais teológica, pode-se falar de graça preciosa e graça barata. Há uma banalização e barateamento da graça no liberalismo moral. Eu diria que é até um abuso da graça, baseado na premissa bíblica de que "onde abundou pecado superabundou a graça" (Rm.5:20). Como se esse versículo fosse uma licença para uma vida pecaminosa. Mas longe de defender tal ideia, o Apóstolo Paulo, nos versículos seguintes, faz uma pergunta retórica: "Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?" (Rm. 6:1). Ao que ele mesmo responde com um categórico não: "De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rm. 6:2). A nova vida do crente é uma morte para o pecado. De modo que, essa morte, representa, paradoxalmente, a vida.
A libertinagem é a falência dos absolutos morais exarados nas Escrituras Sagradas. Por outro lado, o legalismo é uma confiança exagerada na justiça e méritos próprios. Ambos atentam contra o evangelho da graça. O legalismo por ignorar a graça e o liberalismo por abusar dela. O legalismo infla o nosso ego e o liberalismo mata a referência da moral cristã. O mesmo Jesus que disse à mulher adúltera "nem eu te condeno", foi aquele quem disse "vai e não peques mais". A graça é de graça, mas não é barata, pois custou o alto preço da morte sacrificial e expiatória de Jesus e exige do discípulo o negar a si mesmo e seguir o Mestre, vivendo assim como Ele viveu. A graça é preciosa.
Por Isaac Vieira de Araújo
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