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Palavra do leitor

Não é preciso um Deus para criar o universo?

Em sua vastidão e enorme complexidade cósmica, o universo apresenta-nos dois grandes mundos: o macro e o micro. Se por um lado incontáveis galáxias com centenas de bilhões de estrelas confrotam as limitações de qualquer astrônomo; por outro, temos as minúsculas células, átomos e moléculas desafiando ao mais nobre cientista ou pesquisador.

Basicamente, as muitas teorias que buscam explicar a origem do universo e da vida, se resumem em dois pensamentos: ou as coisas foram criadas por um Deus preexistente; ou vieram a existir aleatoriamente.

Ao contemplarmos o formidável céu estrelado de uma noite escura ou admirarmos a simetria e harmonia das belezas naturais é natural extasiar-nos e ao mesmo tempo indagar-nos: de onde procede tudo isso?

Talvez tenha sido por isso que numa de suas músicas o compositor Gilberto Apolinário escreveu: "Olhando o universo eu posso compreender a tua grandeza, meu Criador; em cada detalhe, eu tenho convicção que não foi o acaso que me formou..." Mas há que duvide disso, chegando a afirmar que ”não é preciso um Deus para criar o universo”.

Num livro recente intitulado THE GRAND DESIGN (Bantam, 2010), Stephen Hawking e Leonard Mlodinow descartam abertamente a hipótese de um Deus Criador. Pelo título do livro, nota-se ironia e provocação não somente ao teísmo mas à própria filosofia. Segundo eles, a Filosofia teria (tradicionalmente) primazia às questões relacionadas ao surgimento do universo e da natureza da realidade, porém, estaria agora morta! Os cientistas, então, “se tornaram os portadores da tocha da descoberta em nossa busca pelo conhecimento" afirmam.

Sendo que a ciência pretende estudar a natureza e submetê-la à investigação e experimentação, seria coerente incluir ou mesmo admitir a ideia de um Deus metafísico?

Michael Behe, autor de "A caixa preta de Darwin", em outro contexto, diz que "a preocupação é que se o sobrenatural fosse admitido como explicação(...)seria invocado com frequência para explicar numerosas coisas que na realidade têm explicação natural".

Apelar para Deus sempre que encontramos dificuldades em explicar a natureza é amiúde referido como "o Deus das brechas", "o Deus das lacunas" ou deus ex machina (em latim, no sentido de "Deus da máquina"). Essa última expressão refere-se à um ator que no teatro grego representava um deus vindo do céu-- por meio de um instrumento semelhante à um guindaste-- para cima do palco a fim de solucionar dificuldades extremas.

Apesar de não aceitar a presença do sobrenatural e tentar explicar tudo pelos mecanismos naturais, os cientistas costumam substituir o sobrenatural (Deus) por outros métodos equivalentes ao sobrenatural--hipóteses especulativas sobre fenomênos irrepetíveis há milhões de anos, por exemplo.

Na tentativa de explicar de explicar os complexos fenômenos primordiais, tem sido apresentado muitas vezes uma suposta “recriação do ambiente primitivo”, como já foi divulgado pelas revistas "Veja" e "Superinteressante".

Desmistificando essa tendência, o coordenador do Instituto de Cosmologia e Astrofísica da USP, doutor Mário Novello, disse em 2008 ao Folha de São Paulo: "Não é verdade que recriaremos as condições iniciais do universo em laboratórios".

Muitos cientistas tem aderido ao movimento denominado de Planejamento Inteligente (Intelligent Design, em inglês). Mesmo sem declarar haver um Criador, eles demostram que existe evidências suficientes de planejamento na natureza, o que sugere um planejador; e, se há leis que regem o universo, existe também um Legislador, confirmam.

Por mais que alguns cientistas optem por excluir o conceito de um Criador em suas pesquisas, isso não confirma a inexistência dEle. Se pelos métodos científicos fossem comprovadas a existência ou inexistência de Deus, só haveria um grupo de cientistas: crentes ou descrentes. No entanto, a comunidade científica é composta por ateus, cristãos, agnósticos e etc.

Ao contrário de Hawking,no campo das ciências físicas e da Matemática existe um número considerável de pesquisadores favoráveis ao conceito de um Deus ou organizador do universo. Destacam-se entre esses nomes: Paul Davies, Arthur Peacock(falecido em 2006) e John Polkinghorne.

Segundo Polkighorne,Deus não somente criou o universo mas também sustém e é ativo no mesmo. Já Peacocke, afirma que a realidade última do Cosmos é Deus. Paul Davies, por fim, diz que "a ciência oferece um caminho mais seguro para Deus do que a religião".

Embora Hawking tivesse admitido a possibilidade de um Deus na racionalidade das leis matemáticas (quando escreveu o livro "Uma breve História do tempo"), ultimamente, suas declarações têm sido exatamente o contrário. Agora ele acredita que as equações matemáticas das leis físicas que regem o universo são o suficiente para ele existir.

Que em meio aos cálculos, Hawking, ouça Wolô Pires e Silvestre Kulhmann a cantar:"aprendei a tabuada sem complexo de doutor, pois jamais uma coisa criada é maior que o Criador".
- BA
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