Palavra do leitor
- 11 de julho de 2021
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Máscaras que tiram nossa identidade e liberdade
No sentido metafórico, o uso de "máscara" costuma ser associado a alguém fingido ou hipócrita, aludindo a uma pessoa com "dupla-personalidade", "vida-dupla" e comportamentos dissimulados, uma mera fraude humana.
Nas apresentações teatrais da Grécia antiga, cada pessoa tinha sua máscara de atuação, conhecida como persona, que dava vida ao personagem em questão. Essas máscaras recortadas em formatos de rostos humanos escondiam os reais indivíduos representados por uma aparência enganosa. Daí a construção etimológica do termo "pessoa".
Em certo sentido, todos os indivíduos possuem diferentes personas (máscaras sociais). Não só na vida de atrizes e atores, pessoa e personagem costumam fundir-se em apenas um. Ao falarmos sobre máscara e personalidade, deveríamos nos lembrar de que as pessoas raramente são aquilo que aparentam.
Se o aparente corajoso pode ocultar um grande covarde, o humorista ou palhaço pode esconder um profundo depressivo, assim como muitos moralistas escondem seu lado depravado e animal. Como lemos na letra "Coerência" do Grupo Logos: "Os olhos não enxergam lá dentro /E a alma é um mistério profundo/ E só quem a criou conhece bem perto/ E por isso, toda a aparência, pode ser doente/ E nem sempre, o que se sente pode ser mostrado".
Personalidades "mascaradas", em certos contextos se fazem indispensáveis como, por exemplo, o policial que se disfarça de criança ao teclar virtualmente com um pedófilo visando prendê-lo (ou mesmo atuar infiltrado numa "ação controlada" para prender bandidos de uma organização criminosa) ou escritores que usaram pseudônimos para protegerem-se na publicação, deixando em suas obras um legado inestimável.
Segundo Martinho Lutero, os homens usam máscaras para se esconder, enquanto Deus usa máscara para se revelar. Nesse sentido, enquanto os seres humanos usam máscaras para praticarem o mal ou comunicar uma mensagem falsa, Deus usa máscaras para revelar-se em amor e salvação.
Lendo o livro intitulado Inteligência Humilhada (Jonas Madureira), o capítulo que tratou sobre "Autoconhecimento" atraiu bastante minha atenção. Diferente das abordagens costumeiras de psicólogos de variadas vertentes, Jonas analisa os conceitos de alterreferência, egorreferência e teorreferência, apresentando este último como o caminho para o verdadeiro autoconhecimento.
A alterreferência diz respeito às pessoas que vivem para agradar outras, suprimindo sua real personalidade ou identidade com o objetivo de serem aceitas. A egorreferência representa o comportamento daqueles que escolhem viver como bem desejam, independentemente da opinião pública, mesmo contrariando convenções sociais, religiosas ou familiares, ainda que de forma legal. Já a teorreferência é centrada numa vida em harmonia com o reconhecimento da vontade de Deus e sintonizada com Seus propósitos para Suas criaturas, segredo da verdadeira felicidade, satisfação e sentido da vida.
Como seres sociáveis que somos, faz parte de nossa natureza a interação interpessoal recíproca, mas a carência por apreciação alheia, pode causar uma dependência insaciável, levando muitos a atuarem como personagens no palco da ilusão e teatro de suas existências, a fim de receberem aplausos e mimos de aprovação como oxigênio de suas vidas.
Numa estrofe da canção "Todos são iguais", o músico João Alexandre escreveu: "Quem faz da vida um faz de contas, só se engana e não se encontra porque fingir não é viver; quem procura liberdade nunca foge da verdade porque fugir não é viver...". Eis uma perfeita definição de umas das disfuncionalidades da alterreferência.
No caso da egorreferência, essa postura frente à vida reflete bem o espírito de nosso tempo, onde o prazer está acima de tudo e "nada está errado se te faz feliz" (creem). Se as condutas dos indivíduos egorreferentes não são aprovadas socialmente, dizem eles para todos: "Dane-se" (eufemismo). Para estes, o que importa é o hedonismo inconsequente, libertino, desenfreado, licencioso e suicida.
Mas alterreferência e egorreferência erram o alvo por mirarem o outro (alter) como senhor do sentido de suas vidas ou o seu próprio ego (eu) como venerável deus.
Oxalá a humanidade desejasse reviver a experiência de personagens bíblicos (Davi, Abraão etc.) que receberam de Deus o maior elogio ou aprovação que um mortal poderia receber. Do patriarca Jó, temos de Deus a seguinte afirmação: [...] Ninguém há na Terra tão íntegro e reto como ele, Meu servo, homem que se desvia do mal (Jó 1:8). Algo semelhante ocorreu com Natanael ao Jesus encontrá-lo e lhe dizer: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo (Jo 1:47).
Na busca por identidade, liberdade e valorização, alterreferência é mímica desesperada e egorreferência é um hedonismo suicida. Mas como escreveu C. S. Lewis, "é quando me viro para Cristo e me rendo à Sua personalidade que pela primeira vez começo a ter minha própria e real personalidade". E aí, já não preciso de máscaras, encenação ou aplausos para ser alguém. Amém.
Nas apresentações teatrais da Grécia antiga, cada pessoa tinha sua máscara de atuação, conhecida como persona, que dava vida ao personagem em questão. Essas máscaras recortadas em formatos de rostos humanos escondiam os reais indivíduos representados por uma aparência enganosa. Daí a construção etimológica do termo "pessoa".
Em certo sentido, todos os indivíduos possuem diferentes personas (máscaras sociais). Não só na vida de atrizes e atores, pessoa e personagem costumam fundir-se em apenas um. Ao falarmos sobre máscara e personalidade, deveríamos nos lembrar de que as pessoas raramente são aquilo que aparentam.
Se o aparente corajoso pode ocultar um grande covarde, o humorista ou palhaço pode esconder um profundo depressivo, assim como muitos moralistas escondem seu lado depravado e animal. Como lemos na letra "Coerência" do Grupo Logos: "Os olhos não enxergam lá dentro /E a alma é um mistério profundo/ E só quem a criou conhece bem perto/ E por isso, toda a aparência, pode ser doente/ E nem sempre, o que se sente pode ser mostrado".
Personalidades "mascaradas", em certos contextos se fazem indispensáveis como, por exemplo, o policial que se disfarça de criança ao teclar virtualmente com um pedófilo visando prendê-lo (ou mesmo atuar infiltrado numa "ação controlada" para prender bandidos de uma organização criminosa) ou escritores que usaram pseudônimos para protegerem-se na publicação, deixando em suas obras um legado inestimável.
Segundo Martinho Lutero, os homens usam máscaras para se esconder, enquanto Deus usa máscara para se revelar. Nesse sentido, enquanto os seres humanos usam máscaras para praticarem o mal ou comunicar uma mensagem falsa, Deus usa máscaras para revelar-se em amor e salvação.
Lendo o livro intitulado Inteligência Humilhada (Jonas Madureira), o capítulo que tratou sobre "Autoconhecimento" atraiu bastante minha atenção. Diferente das abordagens costumeiras de psicólogos de variadas vertentes, Jonas analisa os conceitos de alterreferência, egorreferência e teorreferência, apresentando este último como o caminho para o verdadeiro autoconhecimento.
A alterreferência diz respeito às pessoas que vivem para agradar outras, suprimindo sua real personalidade ou identidade com o objetivo de serem aceitas. A egorreferência representa o comportamento daqueles que escolhem viver como bem desejam, independentemente da opinião pública, mesmo contrariando convenções sociais, religiosas ou familiares, ainda que de forma legal. Já a teorreferência é centrada numa vida em harmonia com o reconhecimento da vontade de Deus e sintonizada com Seus propósitos para Suas criaturas, segredo da verdadeira felicidade, satisfação e sentido da vida.
Como seres sociáveis que somos, faz parte de nossa natureza a interação interpessoal recíproca, mas a carência por apreciação alheia, pode causar uma dependência insaciável, levando muitos a atuarem como personagens no palco da ilusão e teatro de suas existências, a fim de receberem aplausos e mimos de aprovação como oxigênio de suas vidas.
Numa estrofe da canção "Todos são iguais", o músico João Alexandre escreveu: "Quem faz da vida um faz de contas, só se engana e não se encontra porque fingir não é viver; quem procura liberdade nunca foge da verdade porque fugir não é viver...". Eis uma perfeita definição de umas das disfuncionalidades da alterreferência.
No caso da egorreferência, essa postura frente à vida reflete bem o espírito de nosso tempo, onde o prazer está acima de tudo e "nada está errado se te faz feliz" (creem). Se as condutas dos indivíduos egorreferentes não são aprovadas socialmente, dizem eles para todos: "Dane-se" (eufemismo). Para estes, o que importa é o hedonismo inconsequente, libertino, desenfreado, licencioso e suicida.
Mas alterreferência e egorreferência erram o alvo por mirarem o outro (alter) como senhor do sentido de suas vidas ou o seu próprio ego (eu) como venerável deus.
Oxalá a humanidade desejasse reviver a experiência de personagens bíblicos (Davi, Abraão etc.) que receberam de Deus o maior elogio ou aprovação que um mortal poderia receber. Do patriarca Jó, temos de Deus a seguinte afirmação: [...] Ninguém há na Terra tão íntegro e reto como ele, Meu servo, homem que se desvia do mal (Jó 1:8). Algo semelhante ocorreu com Natanael ao Jesus encontrá-lo e lhe dizer: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo (Jo 1:47).
Na busca por identidade, liberdade e valorização, alterreferência é mímica desesperada e egorreferência é um hedonismo suicida. Mas como escreveu C. S. Lewis, "é quando me viro para Cristo e me rendo à Sua personalidade que pela primeira vez começo a ter minha própria e real personalidade". E aí, já não preciso de máscaras, encenação ou aplausos para ser alguém. Amém.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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