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Palavra do leitor

Marisa Lobo: uma cristã perseguida por sua fé?

A psicóloga Marisa Lobo está sob pressão do Conselho Regional de Psicologia ao qual está jurisdicionada (1). Ela foi convocada para tomar ciência de acusações de desvio ético profissional feitas por ativistas homossexuais e ateus: fazer proselitismo evangélico através do seu trabalho como psicóloga e defender posturas preconceituosos em relação aos homossexuais enquanto psicóloga.

Marisa se diz vítima de perseguição religiosa. Será?

Certamente nossos conselhos profissionais não são compostos por anjos destituídos de opiniões e agendas individuais; ao avaliarem o comportamento ético profissional o fazem com algum viés pessoal; ao interpretarem os códigos de deontologia existem opções filosóficas subsidiando esta atividade; não são corporativistas ao extremo para ignorar os clamores da sociedade multifacetada sobre o comportamento profissional de seus inscritos.

O episódio parece ter como fonte de informação a própria Marisa, e as falas atribuídas a ela mesma e ao CRP-8 são do seu próprio relato, sem o contexto no qual foram geradas. Nesta data, a página da instituição (2) não se manifesta sobre o assunto (como é de se esperar em uma atuação legal de um conselho regional).

Há óbvias questões legais envolvidas sobre as quais nada é possível falar por falta de informações.

O mote parecer ser o posicionamento de Marisa a respeito da homossexualidade, em desacordo com o estabelecido por resolução do Conselho Federal de Psicologia em 1999 (3): ação profissional não discriminatória, luta pelo desaparecimento da estigmatização daqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas, não consideração da homossexualidade como doença, não direcionamento destes a tratamentos não solicitados, não colaboração com eventos e serviços que proponham a cura da homossexualidade.

Esta resolução foi alvo de ação judicial infrutífera (4).

A situação de Marisa Lobo não é inédita. A psicóloga Rosângela Justino foi punida (5) pelo CRP-5 pela mesma razão – e Marisa acompanha o blog da Rosângela (6).

Marisa foi intimada a reformar suas páginas na internet (7 e 8) em consonância com os ditames da resolução acima. Segundo o divulgado (9), ela não o fará, pois caso o fizesse, negaria sua identidade como psicóloga cristã.

Serão todos os outros psicólogos cristãos apóstatas? Por que apenas Marisa e Rosângela enfrentam problemas ético profissionais? Será a psicologia ciência de segunda categoria, incapaz de auxiliar aqueles que a procuram sem o auxílio da fé cristã? Segundo outra fonte (10), Marisa teria relatado: 

“Quando mandei que me dessem um exemplo de cura da dependência química só pela ajuda psicológica, ficaram em silêncio, eu disse que conheço centenas de casos, falei das estatísticas das comunidades e serviços que trabalham a fé, e dos meus 15 anos de trabalho na área vendo os milagres da transformação, apenas por dar essa oportunidade as mães e usuários de saberem que existe um Deus que pode tirá-los desse lixo que a psicologia não tem conseguido. Claro que a situação ficou mais crítica.”

Arrisco alinhavar algumas ideias:

- Há uma confusão generalizada sobre o que é pregar o Evangelho. Grupos estão em luta aberta contra o que chamam de "ditadura gay-nazista" e tomam um ponto focal, a sexualidade, como o cerne da mensagem da cruz, "que Jesus Cristo veio salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". Confundem discipulado de novos cristãos com cristianização da sociedade, ou, dito de outra forma, o Reino de Deus é para ser imposto a todos, mesmo contra a vontade de todos. Exemplo maior, Júlio Severo (11), elogiado em um blog (12) como o "primeiro exilado da ditadura gay brasileira". O blog em questão é um dos acompanhados por Marisa (será por acaso?)

- Falta a Marisa no mínimo jogo de cintura: onde está a prudência das serpentes e a simplicidade das pombas, recomendação que Jesus deu aos Seus discípulos ao enviá-los como ovelhas entre os lobos (Mt 10.16)

- A página pessoal, psicologia cristã, a apresenta como profissional da psicologia, vende seus livros, fala de sua agenda junto a igrejas evangélicas, divulga entrevistas concedidas e seu curso sobre dependência química. A quem ela serve: à pessoa ou as ideias por ela defendidas? Qual a necessidade de publicar sua identidade profissional junto com estas ideias? para dar-lhes credibilidade e respeitabilidade?

- Como ela está sendo questionada diretamente sobre o cumprimento de uma resolução do seu Conselho Federal (quem, além da Rosângela Justino, desafiou sua legalidade?) dizer-se vítima de perseguição religiosa é deturpar os fatos. Há, certamente, um conflito entre a sua ideia de como deve ser o exercício profissional de uma pessoa com convicção religiosa e o órgão que disciplina este exercício profissional que se destina a todos os brasileiros, teístas ou não. Novamente pergunto: todos os outros psicólogos cristãos são apóstatas e covardes?

Nota: As referências de 1 a 12 estão em crerpensar.blogspot.com
Belo Horizonte - MG
Textos publicados: 83 [ver]

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