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Palavra do leitor

Maquete

A palavra "maquete" tem uma importância fundamental para os arquitetos. De certo, cheguei a essa conclusão, após conversar com um amigo arquiteto. Desde logo, simplesmente me valho das observações extraídas e arrisco desatar as cordas para uma livre, sincera e aberta reflexão sobre o nosso ser.

Para tanto, faço da ilustração de sermos uma maquete, ao qual traz uma gama de cômodos, com a intenção de descrever a realidade de nossa vida, de nossa história.

Então, começo pelo cômodo, ou pode ser o espaço, ou a sala ou outra nomenclatura apropriada, do acolhimento, da aceitação, da inclusão, do encontro, das boas – vindas e aqui enfatizo o quanto nossos relacionamentos tem agregado, tem acrescido e tem resgatado a dignidade, o valor do semelhante? Diga – se de passagem, por meio da prática de atos e atitudes.

Ora, deveríamos questionar, sem qualquer restrição:

- Os relacionamentos do qual faço e sou parte tem me proporcionado ser uma pessoa melhor, me dado a oportunidade para amadurecer e aprender; tenho decidido ser uma influência benéfica ou, tão somente, permaneço, porque não tenho a coragem para estabelecer uma mudança?

Digo isso, em decorrência de se o cômodo do acolher, da aceitação, da inclusão e do encontro não abrir suas vias para isso, tristemente, estaremos numa espécie de simbiose doentia, num ajuntamento, numa covardia para não enfrentar e romper com incertezas, inseguranças, dúvidas e acusações que nos afastam de nós mesmos e do próximo.

Atentemos, o cômodo do acolher nos prepara o da convivência, pelo qual os relacionamentos tendem a se enraizar e alicerçar, a se manifestarem com maior intensidade, maior confronto e maior condição de sermos lapidados, apurados e acurados.

Nota – se, esses cômodos podem demonstrar a dimensão de nossa vontade, de nossos desejos, de nossas paixões, de onde se encontra verdadeiramente o nosso coração.

Eis o cômodo da satisfação, da busca por reconhecimento, por aceitação, por conquista, por inclusão e por aprovação.

Cabe salientar, esses cômodos espelham o nosso ser e o que, efetivamente, nos move a determinados atos e atitudes.

Não seria melhor abrir o jogo e declaramos nossas autênticas intenções?

Agora, se o fizermos, será que ocorreria o acolher?

Nessa linha de raciocínio, adentramos no cômodo da imaginação, dos sonhos, dos ideais, dos idealismos, dos pensamentos e, enfim, de sua biblioteca, o seja, melhor dito, de suas memórias e lembranças, dos livros nas estantes, ou seja, das cicatrizes do passado.

Ultimamente, tenho me deparado com a tentativa de arremedar esse cômodo, ou de queimá – ló, ou de o lacrar, ou se desfazer de tudo, por meio dos cultos de maldiçoes hereditários que mais se assemelham a sessões de regressões adaptadas levianamente ao evangelho de Cristo.

Quantos ao colocar os pés nesse cômodo, sutilmente, não lançam a seguinte pergunta:

- Não poderia ter sido tudo diferente?

- Vamos lá, não poderia ter sido diferente e não ocorrido esse abuso sexual, esse estupro, essa traição, esse abandono, essa perda, essa falência e por ai vai?

Sabe, como esse cômodo acompanha cada um de nós e, mesmo assim, a Graça Jesus não vem com uma varinha mágica, não vem colocar um esparadrapo, não passa uma tinta para esconder nada.

Talvez não obteremos respostas para tudo, ma Sua plenitude não lacra o cômodo e em vez disso nos ajuda a olhar para ele e sem se sentir o pior dos seres e resgatar o ser livre para que se for necessário chorar, assim o farei para recomeçar a vida e isto envolve não fazer do passado um fardo e muito menos, do futuro, um martírio, uma cobrança, uma acusação, um não se esqueça.

Sem hesitar, o alinhar desses cômodos objetivam o remover das vozes acusatórias que denigrem nosso coração, ou seja, o cômodo da intimidade outrora empoeirado, agora demonstra o quanto você é importante, é singular, é um ser voltado para o viver, sensível aos dias do outono (da espera), do verão (dos confrontos e das colisões), do inverno (da solidão e dos por quais razões), da primavera (dos recomeços) e, em meio a toda essa dinâmica cíclica da vida, com suas vicissitudes, suas tensões, suas contradições, suas oposições e seus não (s) e sim (s), a Graça Jesus não limita a tirar a poeira, mas soprar a esperança a qual nos faz ir a direção da vida.

Por tais abordagens, essas maquetes nos traz o cômodo da descarga, incumbido de deixar os mortos enterrarem seus mortos, de acionar a confissão, de deixar a caçamba com as quinquilharias ser levado e desentupir as artérias para o surgir das mudanças, dos recomeços, de que ainda posso amar, dançar, respirar, conquistar, perdoar, servir, chorar, brincar, beijar, namorar e prosseguir para o alvo, dar gargalhadas, de submergir em direção a ressurreição dos encontros.

Que tal ser livre, compreender que nem sempre seremos dez em tudo e de não incorrer de ser medíocre para ser aceito, de ser liberto de uma religiosidade de eventos, de programas.
São Paulo - SP
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