Palavra do leitor
- 19 de junho de 2008
- Visualizações: 5796
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Malucos na contramão
A nova moda no Brasil é dirigir na contramão em rodovias de alto tráfego. O que me fez lembrar uma estória:
Na minúscula cozinha enquanto ouvia o rádio a mulher preparava dedicadamente o almoço de domingo para o marido. Ele acabara de sair para pregar em uma das dezenas de igrejas brasileiras em Londres, nas proximidades da Estação de Baker Street. Embora já tivesse pregado no sábado à noite, ele atendia agora o convite de um pastor amigo.
- Agora a situação do trânsito: Atenção e tenham cuidado! Dizia o radialista, obviamente em inglês – um motorista maluco está dirigindo na contramão na Merylebone Road próximo ao Regents Park! A mulher assustada com o alerta pegou imediatamente o celular e contatou o jovem pregador:
- Benzinho, sou eu, tome muito cuidado, acabei de ouvir no Rádio que tem um maluco dirigindo na contramão aí pra onde você tá indo!
Ela mal pode ouvir do outro lado da linha a voz sôfrega do benzinho em meio às buzinas:
- Um maluco? Que nada! São muitos... E todos na contramão!
Quando você dirige na contramão, você corre risco de vida. O fluxo missionário correu tradicionalmente e volumosamente do hemisfério norte para o sul. Não só por razões da fé, mas também ou principalmente financeiras. As moedas valem mais aqui do que lá (no terceiro mundo). O envio e sustento de missionários pelas nações ricas é, não somente mais barato, mas economicamente viável.
O fluxo do saber tem também uma direção. Como impérios capitalistas ou simplesmente antigos colonizadores as nações européias tem pouco o que aprender com a América Latina – embora isso não seja verdade, é o que está na cabeça deles e o que é pior, também na nossa. Querer ensinar algo para o europeu culto é mesmo nadar contra a maré!
Além disso, a Europa já vivenciou coisas tão esquisitas com o cristianismo que escolheu relegá-lo a peça de museu, a livro empoeirado de biblioteca, a ópera bonita, mas vista e entendida só por poucos: uma arte obsoleta que não tem mais nada a oferecer ao dia a dia do cidadão comum. Pregar o Evangelho aqui, quase que não é anunciar boas novas, mas sim ficar revolvendo defuntos e trazer à tona as “más velhas”: como inquisição, guerras religiosas, cruzadas e debates filosóficos ultrapassados.
Por essas e outras razões, ser um missionário no velho continente é ser como um maluco dirigindo na contramão.
Jens, um amigo do norte da Alemanha, me contava que quando mais novo pensava em ser padre, pois para ele essa seria a melhor maneira de viver para Deus, tendo em vista a carência que o país enfrenta de jovens vocacionados. De fato, ele me relatou esses dias, o novo padre da paróquia que sua mãe participa é um africano.
Há dez anos me aventurei também nessa perigosa missão. Por um chamado e convicção do Senhor da Seara, saí da América do Sul e vim trazer a Palavra de Deus para a Europa dos nossos pais.
Me consola saber que não sou o único e que, afinal de contas, qual cristão autêntico não está sujeito a viver na contramão do presente século?
Na minúscula cozinha enquanto ouvia o rádio a mulher preparava dedicadamente o almoço de domingo para o marido. Ele acabara de sair para pregar em uma das dezenas de igrejas brasileiras em Londres, nas proximidades da Estação de Baker Street. Embora já tivesse pregado no sábado à noite, ele atendia agora o convite de um pastor amigo.
- Agora a situação do trânsito: Atenção e tenham cuidado! Dizia o radialista, obviamente em inglês – um motorista maluco está dirigindo na contramão na Merylebone Road próximo ao Regents Park! A mulher assustada com o alerta pegou imediatamente o celular e contatou o jovem pregador:
- Benzinho, sou eu, tome muito cuidado, acabei de ouvir no Rádio que tem um maluco dirigindo na contramão aí pra onde você tá indo!
Ela mal pode ouvir do outro lado da linha a voz sôfrega do benzinho em meio às buzinas:
- Um maluco? Que nada! São muitos... E todos na contramão!
Quando você dirige na contramão, você corre risco de vida. O fluxo missionário correu tradicionalmente e volumosamente do hemisfério norte para o sul. Não só por razões da fé, mas também ou principalmente financeiras. As moedas valem mais aqui do que lá (no terceiro mundo). O envio e sustento de missionários pelas nações ricas é, não somente mais barato, mas economicamente viável.
O fluxo do saber tem também uma direção. Como impérios capitalistas ou simplesmente antigos colonizadores as nações européias tem pouco o que aprender com a América Latina – embora isso não seja verdade, é o que está na cabeça deles e o que é pior, também na nossa. Querer ensinar algo para o europeu culto é mesmo nadar contra a maré!
Além disso, a Europa já vivenciou coisas tão esquisitas com o cristianismo que escolheu relegá-lo a peça de museu, a livro empoeirado de biblioteca, a ópera bonita, mas vista e entendida só por poucos: uma arte obsoleta que não tem mais nada a oferecer ao dia a dia do cidadão comum. Pregar o Evangelho aqui, quase que não é anunciar boas novas, mas sim ficar revolvendo defuntos e trazer à tona as “más velhas”: como inquisição, guerras religiosas, cruzadas e debates filosóficos ultrapassados.
Por essas e outras razões, ser um missionário no velho continente é ser como um maluco dirigindo na contramão.
Jens, um amigo do norte da Alemanha, me contava que quando mais novo pensava em ser padre, pois para ele essa seria a melhor maneira de viver para Deus, tendo em vista a carência que o país enfrenta de jovens vocacionados. De fato, ele me relatou esses dias, o novo padre da paróquia que sua mãe participa é um africano.
Há dez anos me aventurei também nessa perigosa missão. Por um chamado e convicção do Senhor da Seara, saí da América do Sul e vim trazer a Palavra de Deus para a Europa dos nossos pais.
Me consola saber que não sou o único e que, afinal de contas, qual cristão autêntico não está sujeito a viver na contramão do presente século?
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
- 19 de junho de 2008
- Visualizações: 5796
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados