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Palavra do leitor

Loucura ou excentricidade

"O vazio da massa faz da loucura uma excentricidade!"...

"o poço
espelho mouco
reflexo fissurado
líquido amniótico

gélido, anômalo, mordaz;

o poço
fundo insidioso,
topo irreal,
lodo na alma;

o poço
epicentro do nada
eco das desculpas
palco de corpos

mutilados, ressuscitados e abortados;

o poço
silencioso
invadido

pedras
estilhaçam
as almas

adormecidas
em folhas
de pele
humana, profana e insana;

o poço
o topo fundo do lodo
o lodo límido da incógnita
o soturno da loucura e do normal!"...

Os olhos furtivos abrem num movimento uniforme e sintomático. A face da incógnita adquire a dimensão de músculos em entrechoque. A dualidade externada na pele de lágrimas e silêncio. Não dá para negar, uma história de escaninhos repletos de ressentimentos e sonhos lúgubres.

Enfim, no último dia 25 de Junho de 2009, não sei com precisão o horário, tudo cessou.

As especulações e ilações, deveras, são, agora, partes de uma figura enredada por equívocos, unanimidades, agruras, sofrimentos e por ai vai.

Afinal de contas, quais poderiam ser os comentários mais argutos sobre Michael Jackson?

Sem descambar na jocosidade, na depauperização infame, ater-mei-ei a desfiar pormenores desdobramentos de uma infância permeada por um pai tiranocida e sádico.

Os filhos nem sequer foram poupados das suas aspirações megalomaníacas pelo sucesso.

Para tanto, submeteu-os a uma facínora e despótica ditadura de ensaios, hostilidades, arbitrariedades e injurias.

Eis o seu lema e a sua insignia:

- Não aos limites!

No mais ínfimo deslize, as reprimendas eram inexoráveis, as palavras eivadas de atrocidades.

Não bastasse, a sombra de uma mãe enfronhada por sua religiosidade orfã de viço, de esperança e de resignação.

É bem verdade, o outrora patinho feio veio a ser a galinha de ovos de ouro.

De repente, o menino tão e assaz abjetado pelo pater, tornou-se em um ícone, passou a ser um paradigma de fascínio e contemplação. Semelhantes a outras personalidades, virou moda, difundiu um modelo a ser copiado e adotado.

No entanto, o tempo traz a conotação da passagem e Michel não escapou dessa sina.

Da sina de ser vetusto!

O ostracismo, a certeza de ser uma imagem paradoxal no álbum da família, o envelhecimento dos passos e ser, por fim, visto como uma caricatura antíquada.

Neste ciclo da vida, escândalos de envolvimento em casos de pedofilia, de cultivar hábitos estranhos, de forjar casamentos, de uma vã tentativa de renascer das cinzas e outras anomalias.

De fato, restaram dívidas, filhos sem um referencial salutar de paternidade e as especulações da morte precoce.

Então, ao folhear a história de Absalão arrisquei uma conexão com Michael.

Vale dizer, dos filhos de Davi, Absalão trilhou pelas tensões lancinantes e laceradoras da aceitação, do por que deve ser assim, desse jeito, dessa forma...

Os olhos persuasivos. A beleza selvagem. Os cabelos parecidos com uma manada de búfalos. A robutez e intemperança da liberdade e outros apanágios que o tornavam num ícone, num paradigma, num referencial...

Mormente tudo isso, lá no fundo havia uma alma de farsas e contentamentos fugazes.

Sem sombra de dúvida, alcançou vitórias e até destronou o próprio pai, demonstrou ser o dono do pedaço.

No entanto, não foi absolvido da sina da vida. Tetricamente, no surto avassalador de uma batalha, culminou nos braços gélidos e nebulosos da morte.

Tanto Absalão quando Michael foram estigmatizados por dimensões familiares atulhadas de palavras mordazes, de emoções adoecidas, de traumas soterrados, de culpas e condenações por todos os lados.

Olhar para Absalão me faz perceber uma alma com as fraturas expostas, com a infância e puberdade numa estarrecedora tentativa de encontrar descanso.

No discorrer dessas ponderações, fico na fronteira e sinto uma impotência no tocante a estabelecer um veredicto desses personagens.

Confesso, o quão sôfrego e maléfico representa a escolha por não sermos imbuídos da esperança e do amor oriundos da Graça Salvífica, Cristo Jesus.
São Paulo - SP
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