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Palavra do leitor

Karl Marx nas trilhas da Graça

"aceitar o suborno representa enxovalhar e denegrir a própria condição de ser humano'"

Somos partícipes de uma economia volátil. Seja direta ou indiretamente. Somos envoltos pela atmosfera de uma cultura narcisita e estropiada.

Somos fascinados pelos discursos preconizadores de uma ética utilitária e, parafraseando um termo assaz manuseado pelo filósofo Immanuel Kant, coisificadora do outro.

Somos os espelhos de uma sociedade arraigada numa defesa férrea e colossal dos meus direitos. Somos os mosaicos de uma pós-modernidade embevecida e inebriada pelo progresso como sucedâneo incontestável a efeito de resolver os viscerais problemas da humanidade.

Somos tantos somos e confesso não conseguir, com maestria, elencá-los e discorrê-los.Muito embora tamanha restrição, estive recentemente num trabalho garimpador pelos manuscritos de Karl Marx.

O ressoar desse ícone do pensamento humano e protagonista por apontar profundas e pontiagudas ambiguidades da sociedade capitalista e imantada peloas engrenagens da ética burguesa.

De início, uma série concomitante de evangélicos iram torcer o nariz e aventaram um descalabro, uma afronta e uma falta de senso e postura tecer uma interconexão entre Marx e a Graça. Ora, afinal de contas, quantos apologistas, militantes e engajados propaladores do ateísmo tem naquele uma espécie de apóstolo fundeador de suas teses, definições e objeções.

Devo reconhecer o quanto esse autor foi e tem sido o canal veiculador para a sustentabilidade dos opositorews e execradores de qualquer vertente cristã. Ater-me-ei, então, resumidamente, a desenhar a panorâmica de um Karl Marx plasmado por uma dimensão luterana e de teor pietista.

Vale dizer, quando na eminência de alçar a cadeira de professor de teologia, adentrou em outros horizontes. Não podemos olvidar, a linhagem judaica acabou por desencadear a incidência de perseguições e discriminações.

Indo aos manuscristos de Karl Marx merecem uma acurada elocubração, em virtude de atacar, sim e sim, um cristianismo imiscuído a usura, a espoliação e a banalização do ser humano (em ressalva, de homens, mulheres, crianças submetidos a condições desumanas nas fábricas). Os ataques fervilhantes de Marx perseguiam o por qual motivo da lacuna de uma ortopráxis nos seios da Igreja vigente.

Evidentemente, as suas obras absorveram claras e patentes permeabilidades bíblicas. Caso da figura linguística ''Moloch'', ao cotejá-la com a perniciosidade de transformar o dinheiro num fim em si mesmo.

Agora, uma pergunta não quer nem pode se calar sobre qual tem sido os caminhos trilhados pela Igreja (eu e você, protestantes ou pentecostais, reformados ou episcopais), no despontar do presente Séc. XXI?

Dia-a-dia, os homens descambam na arbitrariedade, na hostilidade, na rudeza, na aridez e sandice da ausência de importância no tocante ao respeito ao outro, a vida e a si mesmo. Ainda não conseguimos dirimir os estigmas da pobreza globalizada, das guerras étnicas, das rusgas entre povos por territórios.

Não por menos, as crises econômicas engendradas pelo cupidez de investidores inconsequentes. A violência alastrada nas metrópoles, as pandemais aterradoras, o mal congênito de usarmos e descartarmos o próximo. Neste ínterim, vejo as decisões de uma igreja evangélica inócua em endossar uma ortopráxis, uma esperança genuína, um amor vivencial.

Em outras palavras, uma salvação aqui no oikos, uma salvação do ethos e da psique, um resgate de uma espiritualidade simples e uma fé inspiradora. Lastimavelmente, a coqueluche de ídolos infestam, infectam e acarretam malefícios nos arraiais evangelicais.

Após as colocações efetuadas, retorno a Marx e aplico a expressão, profusamente corrente em suas obras, fetiche.

De certa maneira, cae como uma luva diante de uma realidade evangelical depauperada, sucateada, enfeixada por anomalias oriundas do sincretismo e paganismo. Basta focarmos para a adoção de amuletos, rosas, mantos e outras parafernálias voltadas a dinamizar a Graça. Mais do que nunca, demandamos vital e peremptoriamente de sermos mais transparentes, abertos, francos e sem reservas diante de Deus e do próximo.

Isto, sem sombra de dúvida, por meio de Cristo. Tão somente assim, alcançaremos um evangelho regido, de per si, por ser compromissado e comprometido. Deveras, alforriado de todas as mazelas geradas pelo clericalismo e eclesiologismo doentido, pelos cismas causados por embates ministeriais.

Ademais, pela promoção de um evangelho coadunando a orto e a práxis, a comunhão da interdependência, a via intensa e incessante de uma geração ancorada no exercício da oração e meditação da palavra.

A intenção do presente texto tem como premissa lançar um convite ao vasculhar a incidência da Graça de Cristo, munida da incumbência de abraçar e afetuosamente umdecer a cultura, o direito, a ética, a política, a teologia, eu e você com vida.
São Paulo - SP
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