Palavra do leitor
- 07 de agosto de 2014
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Judeus e palestinos: e eu com isso?
Há alguns anos, logo após me formar em Agronomia, decidi passar uma temporada em Israel. A um profissional recém-formado era e é um sonho poder conhecer/participar das atividades agrícolas em um país que desenvolveu as melhores tecnologias de irrigação e utilização da terra porque tudo é pouco e limitado. Diz-se que a necessidade é a mãe de todas as invenções.
Naquele tempo, eu já havia me convertido e tinha intensa atividade na faculdade com a ABU e em minha igreja. Mas, curiosamente, isso não pesou tanto na minha decisão – embora, sim, eu lembrasse que estaria na terra mítica e que tantas vezes recriei na mente em minhas leituras da Bíblia. Após um ano de planejamento e espera, cheguei a Israel. Naquele tempo havia atentados em ônibus com muita frequência. Lixeiras eram usadas para disfarçar pacotes-bomba. Eu mesmo estive num lugar em Tel-Aviv no qual, dois dias depois, um pacote suspeito explodiu.
Numa viagem, ao subir de Tel-Aviv para Jerusalém, vi no fundo de um abismo dezenas de bandeirolas de Israel. Alguém me explicou que dias antes ocorrera um atentado. Um palestino atacou o motorista e o forçou a jogar o carro no precipício. Morreu mais de uma dezena de pessoas. Uma bandeira para cada morto.
A maior parte do tempo, porém, vivi no campo. Entre um Kibutz e um Moshav. O Kibutz estava perto de Sderot, cidade que mais recebe foguetes do Hamas, que naquela época não existia como entidade política. Gaza já era terra de medos para qualquer visitante. No Moshav, em pleno deserto do Neguev, algumas vezes tivemos que nos recolher e não sair para o campo, porque haviam acontecido ataques, isolados, mas ataques. Um assassinato de um agricultor. Um movimento hostil.
A gente meio que se acostuma. Mas meu olhar era de estrangeiro. Várias vezes conversei com palestinos, cada qual com seu inglês macarrônico. Acho que todos demonstravam verdadeira alegria por conhecer um brasileiro. Queriam saber de futebol, claro, mas logo para mim que sabia pouco mais que eles. Perguntavam pela Amazônia e tantas outras coisas, mas sempre eram afáveis. Gente comum. Um vendedor. Um camponês que vinha de ônibus da Cisjordânia para trabalhar nos plantios israelenses. O recrudescer das hostilidades, aos poucos, acabou com essa fonte de renda por medo dos dois lados. No meio, a imensa maioria de famílias, pessoas simples, que só queriam e querem viver.
Mas se recebi simpatia de judeus e palestinos, senti o gosto do desprezo e da arrogância religiosa de um jovem judeu ortodoxo. Ousei sentar ao seu lado no ônibus. Era o único lugar disponível. Ele imediatamente levantou e ficou em pé. Ri por dentro meio que estarrecido pela atitude do rapaz.
É verdade, fui perguntado por que gostava dos israelenses e ouvi “benzonai” de parte a parte. Cada qual queria me colocar do seu lado certo. Vi israelenses amaldiçoarem palestinos. Eu simplesmente dizia que não tinha por que odiar ninguém. Fiz amigos dos dois lados. Vi gente triste e ressentida dos dois lados. Ouvi histórias de traições, de pessoas que ensinam seus filhos a odiarem sem saber o porquê. Vi cartilhas do jardim de infância com caricaturas de judeus sendo afogados no mar. Eu não tinha ideia de quanto ódio estava plantado na Terra Santa. Que lugar terrível!
Desde então, tudo ficou muitíssimo pior. Amei os dois lados porque os vi em sua humanidade, tão parecida à minha. Então, um ato ridículo da diplomacia brasileira desencadeia fervorosas defesas em favor de Israel. Particularmente por parte dos evangélicos. Ora, esta diplomacia petista não se confunde com o país, embora momentaneamente o represente. Do mesmo modo que o Hamas não representa aos palestinos. É sobejamente conhecido que o fazem à força da expropriação da vontade das pessoas, da coerção religiosa. O que (ainda) me surpreende é que as reações do nosso lado sejam igualmente tortas e extremadas.
Orar pela paz de Jerusalém (Israel) se confunde com a inação ou silêncio pela morte de milhares de pessoas? Simpatizar com Israel pede nossa cegueira com sua violência? É nosso dever escarafunchar quem tem razão? E temos como dar razão para qualquer dos lados? A história é problema de Deus. As pessoas, nossos semelhantes em sofrimento e dor, são nosso problema. E digo: o palestino desesperado e desprezado bem como o israelita amedrontado e cansado de guerra.
Um caminho que inclui a mulher sírio-fenícia, o samaritano, o romano, o grego, o gentio, o homem e a mulher – nem a circuncisão ou a incircuncisão são coisa alguma – é o do olhar de Jesus – pareceu piegas, eu sei – é sua atitude de tolerância e acolhimento. Desafio todos os que se posicionaram unilateralmente ao lado de Israel ou os que só veem palestinos como vítimas, que conheça os dois lados. Não o conhecimento das peregrinações deslumbradas que tocam o muro como se fosse a porta do céu, que carregam folhas de oliveiras, terra e água do Jordão como se fossem sagrados.
Naquele tempo, eu já havia me convertido e tinha intensa atividade na faculdade com a ABU e em minha igreja. Mas, curiosamente, isso não pesou tanto na minha decisão – embora, sim, eu lembrasse que estaria na terra mítica e que tantas vezes recriei na mente em minhas leituras da Bíblia. Após um ano de planejamento e espera, cheguei a Israel. Naquele tempo havia atentados em ônibus com muita frequência. Lixeiras eram usadas para disfarçar pacotes-bomba. Eu mesmo estive num lugar em Tel-Aviv no qual, dois dias depois, um pacote suspeito explodiu.
Numa viagem, ao subir de Tel-Aviv para Jerusalém, vi no fundo de um abismo dezenas de bandeirolas de Israel. Alguém me explicou que dias antes ocorrera um atentado. Um palestino atacou o motorista e o forçou a jogar o carro no precipício. Morreu mais de uma dezena de pessoas. Uma bandeira para cada morto.
A maior parte do tempo, porém, vivi no campo. Entre um Kibutz e um Moshav. O Kibutz estava perto de Sderot, cidade que mais recebe foguetes do Hamas, que naquela época não existia como entidade política. Gaza já era terra de medos para qualquer visitante. No Moshav, em pleno deserto do Neguev, algumas vezes tivemos que nos recolher e não sair para o campo, porque haviam acontecido ataques, isolados, mas ataques. Um assassinato de um agricultor. Um movimento hostil.
A gente meio que se acostuma. Mas meu olhar era de estrangeiro. Várias vezes conversei com palestinos, cada qual com seu inglês macarrônico. Acho que todos demonstravam verdadeira alegria por conhecer um brasileiro. Queriam saber de futebol, claro, mas logo para mim que sabia pouco mais que eles. Perguntavam pela Amazônia e tantas outras coisas, mas sempre eram afáveis. Gente comum. Um vendedor. Um camponês que vinha de ônibus da Cisjordânia para trabalhar nos plantios israelenses. O recrudescer das hostilidades, aos poucos, acabou com essa fonte de renda por medo dos dois lados. No meio, a imensa maioria de famílias, pessoas simples, que só queriam e querem viver.
Mas se recebi simpatia de judeus e palestinos, senti o gosto do desprezo e da arrogância religiosa de um jovem judeu ortodoxo. Ousei sentar ao seu lado no ônibus. Era o único lugar disponível. Ele imediatamente levantou e ficou em pé. Ri por dentro meio que estarrecido pela atitude do rapaz.
É verdade, fui perguntado por que gostava dos israelenses e ouvi “benzonai” de parte a parte. Cada qual queria me colocar do seu lado certo. Vi israelenses amaldiçoarem palestinos. Eu simplesmente dizia que não tinha por que odiar ninguém. Fiz amigos dos dois lados. Vi gente triste e ressentida dos dois lados. Ouvi histórias de traições, de pessoas que ensinam seus filhos a odiarem sem saber o porquê. Vi cartilhas do jardim de infância com caricaturas de judeus sendo afogados no mar. Eu não tinha ideia de quanto ódio estava plantado na Terra Santa. Que lugar terrível!
Desde então, tudo ficou muitíssimo pior. Amei os dois lados porque os vi em sua humanidade, tão parecida à minha. Então, um ato ridículo da diplomacia brasileira desencadeia fervorosas defesas em favor de Israel. Particularmente por parte dos evangélicos. Ora, esta diplomacia petista não se confunde com o país, embora momentaneamente o represente. Do mesmo modo que o Hamas não representa aos palestinos. É sobejamente conhecido que o fazem à força da expropriação da vontade das pessoas, da coerção religiosa. O que (ainda) me surpreende é que as reações do nosso lado sejam igualmente tortas e extremadas.
Orar pela paz de Jerusalém (Israel) se confunde com a inação ou silêncio pela morte de milhares de pessoas? Simpatizar com Israel pede nossa cegueira com sua violência? É nosso dever escarafunchar quem tem razão? E temos como dar razão para qualquer dos lados? A história é problema de Deus. As pessoas, nossos semelhantes em sofrimento e dor, são nosso problema. E digo: o palestino desesperado e desprezado bem como o israelita amedrontado e cansado de guerra.
Um caminho que inclui a mulher sírio-fenícia, o samaritano, o romano, o grego, o gentio, o homem e a mulher – nem a circuncisão ou a incircuncisão são coisa alguma – é o do olhar de Jesus – pareceu piegas, eu sei – é sua atitude de tolerância e acolhimento. Desafio todos os que se posicionaram unilateralmente ao lado de Israel ou os que só veem palestinos como vítimas, que conheça os dois lados. Não o conhecimento das peregrinações deslumbradas que tocam o muro como se fosse a porta do céu, que carregam folhas de oliveiras, terra e água do Jordão como se fossem sagrados.
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