Palavra do leitor
- 16 de outubro de 2009
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Jesus, o bêbado e eu
Falar que as pessoas são medidas pelo sucesso, pelo êxito, pelos padrões sócio-econômicos, é chover no molhado. Porém, outro dia andando na rua deparei-me com uma cena, infelizmente muito comum, que me instigou a refletir um pouco sobre o tema. Vi um homem cambaleante totalmente bêbado que se agarrava as paredes de uma loja. A julgar pela maneira que ele balançava, parecia que todo o planeta estava sob o mais poderoso dos terremotos. Quando o ébrio percebeu que por um momento eu olhava para ele, disse a esmo a seguinte frase: - Todo mundo só fica olhando prás cachaça queu tomo, mas ninguém vê uss tombu queu levo! Foi dessa forma que ele falou. Uma frase comum, repetida nos bares. Porém, aquela fala, naquele momento, me constrangeu.
Fez-me pensar como nos tornamos juízes um dos outros à medida que o outro vai se dissipando a nossa frente, à medida que o vemos como menos favorecido que nós. É nessa hora que notamos, sob uma análise mais profunda, que nosso julgamento do alheio se dá a partir dos nossos valores e não a partir do real estado e necessidade do outro. Como olharíamos a um bêbado antes da embriaguês? Como o julgaríamos ao vê-lo enquanto estava sóbrio e com roupas limpas? Somos tremendamente circunstanciais em nossos pareceres. Todos sabemos sobre a miséria espalhada em nosso país e no mundo, todos sabemos que muitos dos nossos semelhantes padecem. Então, por que de forma seletiva, nos importamos mais com uns do que com outros?
Por que não nos abalamos tanto com o genocídio de 1994 em Ruanda, como ficamos abalados em 2001 com os atentados de 11 de Setembro? Não indiferente a outros grandes traumas na humanidade, uso esses dois momentos por causa da contemporaneidade dos fatos. Em Ruanda, em 100 dias, morreram 800 mil (média de 8 mil por dia), no 11 de Setembro em um dia morreram aproximadamente 3 mil pessoas. Qual das duas calamidades teve maior repercussão na chamada "Comunidade Internacional"? Sem dúvida o episódio em solo norte-americano. É óbvio, que não queremos medir o peso desses dois momentos, pois ambos foram terríveis, mas sim chamar atenção para o diferente grau de importância dada entre dois períodos, não tão distantes em termos de poder de exposição da mídia internacional, ou seja, não foi por falta de recursos informativos, que o mundo falou e se "importou" mais com o 11 de Setembro.
Nós, seres humanos, mesmo não admitindo, nos encontramos desumanizados ou em processo de desumanização. Avaliamos a dor e/ou condição do outro a partir de nós mesmos, a partir dos pressupostos que são construídos em nós por uma sociedade, que incentiva a permanecência no senso comum. Aonde tudo já nos chega mastigado, onde já pensaram por nós. E nos entregam tudo já empacotado e pronto para o consumo, entretenimentos, ideologias, valores, padrões estéticos e etc... Daí, nos indignarmos pelas coisas que nos mandam indignar, nos alegramos pelas coisas que nos mandam alegrar, valorizamos o que nos mandam valorizar. Você pode até dizer que não é bem assim, mas é! Creio que há algo inato na natureza rebelada do ser humano: pensamos em nós primeiro e todos os nossos pontos de vista nascem do ego para fora, do eu para o outro. E isso desde o nascimento. Que o filósofo me perdoe, mas não creio que nasçamos como tabulas rasas, folhas de papel em branco. Não ignorando o que diz a psicologia quanto às fases cognitivas da criança, já nascemos com tendências egocêntricas e hedonistas. Há uma base inicial já distorcida em relação ao "projeto original" de Deus para os homens, que precisa ser consertada senão tudo o que for construído sobre ela estará longe do ideal. Esse é um ponto. Outra coisa a ser dita é que o nosso julgamento nunca é imparcial, desprovido de influências externas. Ele sempre estará impregnado daquilo que valorizamos e buscamos durante a nossa jornada de vida - aqui me afino com o filósofo (risos).
Sabem, eu tenho aprendido que somos imitadores por natureza, o mimetismo é próprio dos homens. Influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Isso não precisa ser mudado, só existe Um que é cem por cento original. O problema está nos exemplos que temos recebido, nos valores absorvidos, que além de moldarem as nossas motivações e atitudes, as colocam sob um princípio capital: "Sempre olhar para o outro a partir de si próprio". Ou seja, não só nascemos assim, mas somos motivados a permanecer assim! O outro não é o que é de fato, ele é o que eu penso sobre ele. E, o que eu penso sobre ele é ditado por uma sociedade cada vez mais imediatista e egoísta, que só se importa com aquele que pode lhe trazer "retorno". A educação, o afeto familiar, até as religiões, servem para trazerem um pouco de luz em meio a essas trevas. Porém, não são suficientes. Porque tais valores são emanações de uma fonte maior e inesgotável, que não permanecem por muito tempo se não estiverem em conexão direta com ela.
Ah, como aquele homem embriagado me ensinou! Ele me fez ver aquilo que Jesus não cansa de ensinar-me e eu insisto em não aprender! Mais feliz, muito mais feliz é aquele dá, do que o que recebe. Deus nos fez como canais de seu incessante favor. Recebemos dele e passamos ao outro, para que as preocupações sobre o que fazer com o acúmulo não nos devore e nos transforme em devoradores. Mas, isso não se aprende em discursos - os socialistas bem que tentaram. Sem uma mudança no âmago, na estrutura central do ser, no máximo seremos como rochas á beira-mar, apesar de toda resistência, com dia e hora marcados para serem moldadas pela força das ondas. O bêbado sem querer me fez ver, que a diferença entre ele e eu poderia ser meramente cronológica, que de certa forma, sem uma mudança visceral de caráter e valores, todos chegamos ao mesmo buraco. Uns mais depressa outros mais devagar. Ele me fez ver, que sem uma base transformada, sem uma mudança radical, sem um novo nascimento de alma, mente e coração, todos os meus atos ou intenções de bondade, não passarão de vernizes, que tentam disfarçar a feia face do egocentrismo que há em mim.
Jesus veio ao mundo para efetuar essa mudança, a fim de que, sob a certeza de seus cuidados, tenhamos atitudes altruístas sem a espera de recompensas. Para que haja uma metanóia (total mudança espiritual e intelectual), completa em nossas vidas. Para, que possamos ver nossa real condição, aquilo que os olhos carnais não enxergam, revelando o quanto pobres e miseráveis somos. Para nos fazer clamar por socorro, por misericórdia. Veio nos dar uma nova base, uma rocha firme sobre onde construiremos edifícios eternos. A fim de que, o que venha a ser erigido, não se corrompa. Para, que ao contrário do que aconteciam antes, as lutas e provações em meio a uma multidão alienada e corrompida, só sirvam para fortalecer ainda mais as nossas convicções, aumentando a compaixão e o amor pelos outros. Pois, diante de nós se abrirá um mundo novo, de infindáveis possibilidades.
Antes eu sonhava com o dia em que estaria no céu junto com minha família, amigos e longe desse "mundo sem solução". Hoje, sobre um cenário mais amplo, mais integral. Sonho com um reino lindo, que já começa aqui e se perpetua na gloriosa eternidade. Nesse novo sonho, eu ainda vejo minha família, meus amigos, meus irmãos. Mas, além disso, percebo que há nele uma maior definição, Jesus não é mais aquela figura nós ares distante das demais. Ele é alguém que está no centro de uma numerosa multidão. Há mais zoom no nesse sonho. Posso ver a face das pessoas, como elas são, posso ver que Jesus é muito mais lindo de perto. E ao insistir em mirá-lo, o que vejo me emociona. Percebi que sob a amplitude de uma luz intensa, lá estavam, no meu sonho renovado, Jesus, o bêbado e eu.
Fez-me pensar como nos tornamos juízes um dos outros à medida que o outro vai se dissipando a nossa frente, à medida que o vemos como menos favorecido que nós. É nessa hora que notamos, sob uma análise mais profunda, que nosso julgamento do alheio se dá a partir dos nossos valores e não a partir do real estado e necessidade do outro. Como olharíamos a um bêbado antes da embriaguês? Como o julgaríamos ao vê-lo enquanto estava sóbrio e com roupas limpas? Somos tremendamente circunstanciais em nossos pareceres. Todos sabemos sobre a miséria espalhada em nosso país e no mundo, todos sabemos que muitos dos nossos semelhantes padecem. Então, por que de forma seletiva, nos importamos mais com uns do que com outros?
Por que não nos abalamos tanto com o genocídio de 1994 em Ruanda, como ficamos abalados em 2001 com os atentados de 11 de Setembro? Não indiferente a outros grandes traumas na humanidade, uso esses dois momentos por causa da contemporaneidade dos fatos. Em Ruanda, em 100 dias, morreram 800 mil (média de 8 mil por dia), no 11 de Setembro em um dia morreram aproximadamente 3 mil pessoas. Qual das duas calamidades teve maior repercussão na chamada "Comunidade Internacional"? Sem dúvida o episódio em solo norte-americano. É óbvio, que não queremos medir o peso desses dois momentos, pois ambos foram terríveis, mas sim chamar atenção para o diferente grau de importância dada entre dois períodos, não tão distantes em termos de poder de exposição da mídia internacional, ou seja, não foi por falta de recursos informativos, que o mundo falou e se "importou" mais com o 11 de Setembro.
Nós, seres humanos, mesmo não admitindo, nos encontramos desumanizados ou em processo de desumanização. Avaliamos a dor e/ou condição do outro a partir de nós mesmos, a partir dos pressupostos que são construídos em nós por uma sociedade, que incentiva a permanecência no senso comum. Aonde tudo já nos chega mastigado, onde já pensaram por nós. E nos entregam tudo já empacotado e pronto para o consumo, entretenimentos, ideologias, valores, padrões estéticos e etc... Daí, nos indignarmos pelas coisas que nos mandam indignar, nos alegramos pelas coisas que nos mandam alegrar, valorizamos o que nos mandam valorizar. Você pode até dizer que não é bem assim, mas é! Creio que há algo inato na natureza rebelada do ser humano: pensamos em nós primeiro e todos os nossos pontos de vista nascem do ego para fora, do eu para o outro. E isso desde o nascimento. Que o filósofo me perdoe, mas não creio que nasçamos como tabulas rasas, folhas de papel em branco. Não ignorando o que diz a psicologia quanto às fases cognitivas da criança, já nascemos com tendências egocêntricas e hedonistas. Há uma base inicial já distorcida em relação ao "projeto original" de Deus para os homens, que precisa ser consertada senão tudo o que for construído sobre ela estará longe do ideal. Esse é um ponto. Outra coisa a ser dita é que o nosso julgamento nunca é imparcial, desprovido de influências externas. Ele sempre estará impregnado daquilo que valorizamos e buscamos durante a nossa jornada de vida - aqui me afino com o filósofo (risos).
Sabem, eu tenho aprendido que somos imitadores por natureza, o mimetismo é próprio dos homens. Influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Isso não precisa ser mudado, só existe Um que é cem por cento original. O problema está nos exemplos que temos recebido, nos valores absorvidos, que além de moldarem as nossas motivações e atitudes, as colocam sob um princípio capital: "Sempre olhar para o outro a partir de si próprio". Ou seja, não só nascemos assim, mas somos motivados a permanecer assim! O outro não é o que é de fato, ele é o que eu penso sobre ele. E, o que eu penso sobre ele é ditado por uma sociedade cada vez mais imediatista e egoísta, que só se importa com aquele que pode lhe trazer "retorno". A educação, o afeto familiar, até as religiões, servem para trazerem um pouco de luz em meio a essas trevas. Porém, não são suficientes. Porque tais valores são emanações de uma fonte maior e inesgotável, que não permanecem por muito tempo se não estiverem em conexão direta com ela.
Ah, como aquele homem embriagado me ensinou! Ele me fez ver aquilo que Jesus não cansa de ensinar-me e eu insisto em não aprender! Mais feliz, muito mais feliz é aquele dá, do que o que recebe. Deus nos fez como canais de seu incessante favor. Recebemos dele e passamos ao outro, para que as preocupações sobre o que fazer com o acúmulo não nos devore e nos transforme em devoradores. Mas, isso não se aprende em discursos - os socialistas bem que tentaram. Sem uma mudança no âmago, na estrutura central do ser, no máximo seremos como rochas á beira-mar, apesar de toda resistência, com dia e hora marcados para serem moldadas pela força das ondas. O bêbado sem querer me fez ver, que a diferença entre ele e eu poderia ser meramente cronológica, que de certa forma, sem uma mudança visceral de caráter e valores, todos chegamos ao mesmo buraco. Uns mais depressa outros mais devagar. Ele me fez ver, que sem uma base transformada, sem uma mudança radical, sem um novo nascimento de alma, mente e coração, todos os meus atos ou intenções de bondade, não passarão de vernizes, que tentam disfarçar a feia face do egocentrismo que há em mim.
Jesus veio ao mundo para efetuar essa mudança, a fim de que, sob a certeza de seus cuidados, tenhamos atitudes altruístas sem a espera de recompensas. Para que haja uma metanóia (total mudança espiritual e intelectual), completa em nossas vidas. Para, que possamos ver nossa real condição, aquilo que os olhos carnais não enxergam, revelando o quanto pobres e miseráveis somos. Para nos fazer clamar por socorro, por misericórdia. Veio nos dar uma nova base, uma rocha firme sobre onde construiremos edifícios eternos. A fim de que, o que venha a ser erigido, não se corrompa. Para, que ao contrário do que aconteciam antes, as lutas e provações em meio a uma multidão alienada e corrompida, só sirvam para fortalecer ainda mais as nossas convicções, aumentando a compaixão e o amor pelos outros. Pois, diante de nós se abrirá um mundo novo, de infindáveis possibilidades.
Antes eu sonhava com o dia em que estaria no céu junto com minha família, amigos e longe desse "mundo sem solução". Hoje, sobre um cenário mais amplo, mais integral. Sonho com um reino lindo, que já começa aqui e se perpetua na gloriosa eternidade. Nesse novo sonho, eu ainda vejo minha família, meus amigos, meus irmãos. Mas, além disso, percebo que há nele uma maior definição, Jesus não é mais aquela figura nós ares distante das demais. Ele é alguém que está no centro de uma numerosa multidão. Há mais zoom no nesse sonho. Posso ver a face das pessoas, como elas são, posso ver que Jesus é muito mais lindo de perto. E ao insistir em mirá-lo, o que vejo me emociona. Percebi que sob a amplitude de uma luz intensa, lá estavam, no meu sonho renovado, Jesus, o bêbado e eu.
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