Jesus e os números (parte 1)

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Jesus afirma que o Reino dos céus foi inaugurado pela pregação do Evangelho. Disse isto numa parábola (Mt. 13.3-8; 18-23). Um semeador saiu a semear e dos frutos de seu trabalho contabilizou: uma semente produziu 30, outra 60 e outra 100 por um. Jesus está falando de números, portanto está preocupado com resultados. Ele é o chefe e exige que seus funcionários cumpram suas metas. Se não, vão todos para o inferno. O lugar daqueles que não foram pastores nem membros de megaigrejas.

Eu entendo porque certos colegas dão tanta importância a números. Nesta sociedade, neste eon, números erguem e/ou derrubam. Estatísticas. Vivemos numa sociedade global que gira em torno dos números. Senão, vejamos. Alguém levanta um número: "crescemos 2% ao ano". Então, passa a criticar nosso pequeno crescimento e baixa o porrete na denominação (com classe, claro). E daí? O que isto significa? Que somos incompetentes? Que perdemos o bonde da história? Que a doutrina é rígida demais para os padrões hodiernos? Que não entendemos o afã de Deus em conquistar todas as almas do mundo? Que precisamos estudar e copiar os métodos de crescimento do islã?

Meses atrás ouvi um conferencista pentecostal dizer que teve um sonho no qual foi levado até um galpão branco enorme. Dizendo estar com a esposa, revelou que o lugar era o céu. Contudo, sentiu uma grande tristeza e começou a chorar. A esposa não entendeu o porquê do estado de ânimo do pregador-sonhador, uma vez que estavam no lar celestial. “Não vê, mulher?”, indignado pergunta – certamente com lágrimas nos olhos, “estamos no céu e ele está vazio!”. Bem, o resto da baboseira tem a ver com ofertas para que ele consiga encher o grande galpão branco.

Curioso é que anos antes, ouvi algo parecido de outro líder pentecostal de uma igreja em Boston – EUA. Disse ele ter tido uma visão na qual entrava na sala do Trono e viu a Trindade Santa reunida e em silêncio. Jesus estava cabisbaixo. Mas quando Ele viu que era o tal pastor quem abria a porta, exclamou: “Fulano, ainda bem que você chegou para completar a minha obra!”. Nem a denominação dele aturou o indefectível. Algum tempo depois de tanta heresia, sua denominação o excluiu. Uma coisa é certa: esse camarada é bastante corajoso (pra não dizer cara-de-pau). Mas é o fenômeno de avivamento confundido com números.

Deus deve estar bastante triste com o insucesso de Seu Reino. Deve se consolar com as grandes e bilionárias igrejas. Ele deve olhar para as igrejas pequenas e pensar: “Não foi para isto que enviei meu Filho!” O pastorzinho, então, está em maus lençóis. Deve ser burro ou retrógrado ou antipático ou deve ter algum problema sexual... E “pastorzinho” aqui é referência ao ínfimo número de ovelhas de seu rebanhozinho. Não tem nada a ver com sua vida espiritual e sua grande luta para manter seu pequeno rebanho fiel a Deus. Mas parece que Deus realmente tem uma grande paciência com estes coitados. Quem sabe se eles não vão contratar as franquias dos grandes pastores? Quem sabe, eles vão pesquisar mais para “afiar o machado” e fazer mais do que somente orar, dedicar-se e pregar mensagens sólidas?

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Opinião do leitor