Palavra do leitor
- 25 de fevereiro de 2012
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Investigando a intenção
Ouvi recentemente em uma palestra sobre liderança, promovida pela empresa onde trabalho, uma frase que me é muito familiar: “Quem quiser ser líder deve ser primeiro servidor. Se você quiser liderar, deve servir”. Quando vi no rodapé do slide que a referencia estava sendo atribuída a Jesus, entendi o porquê de a frase me ser tão familiar.
Então, comecei a refletir sobre o assunto... É correto usar frases atribuídas a Jesus com intenções extra-espirituais? É honesto isso? Estaríamos distorcendo a frase de Jesus? Qual deve ser nossa posição diante dessa distorção?
Comecei a estudar e criticar o caso... O emprego da palavra ‘líder’- quando a tradução literal seria “maior” ou “mais importante”- deixa claro o tom tendencioso da frase. Outro erro da frase é o que chamo de desvio de propósito textual. Este segundo erro é caracterizado por distorcer propositalmente o sentido de um texto na intenção de embasar uma linha de raciocínio próprio.
A semelhança entre a frase apresentada como sendo de Jesus e a registrada na Bíblia, no livro de Mateus 23.11, se lidas despercebidas, passam a impressão de igualdade no sentido e propósito. Porem, em uma leitura cuidadosa e investigativa nota-se algumas diferenças importantes; vamos listar três:
1. Acréscimo de palavras – na frase original de Jesus, o objetivo principal da frase era advertir seus discípulos quanto à hipocrisia dos atos de “bondade” dos fariseus. Na frase apresentada pelo palestrante, o acréscimo das palavras ‘quiser’ e ‘deve’ mudam o propósito central da frase.
2. Objetivo – Jesus estava formando um caráter em seus ouvintes. Ele visava advertir seus ouvintes a respeito do mal da hipocrisia. A frase citada na palestra é usada como parte de uma ferramenta de trabalho que visa construir uma liderança capaz de apresentar resultados positivos, e com fins lucrativos.
3. A quem se dirigiu – a frase de Jesus, - registrada em Mateus 23.11- foi dirigida a uma multidão (v.1), pessoas de diferente nível social e intelectual, pessoas que nada tinham de importante para oferecer. A frase usada na palestra, e atribuída a Cristo, foi dirigida a um grupo especifico (escolhido), pessoas com “vocação” para liderança, à “elite” de um grupo.
James C. Hunter e Cristo: modelos de liderança (?)
Em palestras sobre liderança, o nome de James Hunter é quase obrigatoriamente citado. Por isso, acredito ser necessário fazer uma comparação dos conceitos de liderança difundidos por Hunter (ainda que seja uma comparação breve) Com os de Cristo. (Quem se interessar pelo pensamento de Hunter, indico os seus livros: “O Monge e o Executivo” e “Como se Tornar um líder Servidor”; e quem se interessar pelo pensamento de Cristo, indico: “Bíblia Sagrada”, particularmente os evangelhos; e também, “Nem Monge, Nem Executivo”, de Paul Freston)
Entre os conceitos de liderança de Hunter e de Cristo, existem diferenças colossais. O foco do conceito de liderança servidora de Hunter é reger conflitos horizontais, de homem para homem. O seu propósito é estabelecer uma hierarquia voluntaria com base na motivação que uma liderança servidora pode causar. Seus conceitos têm sido adotados por lideranças em organizações e empresas por acreditarem que, com seus conceitos, poderão extrair dos seus colaboradores o que eles têm de melhor. A hierarquia aqui trabalha para construir coisas, e usa os relacionamentos como ferramenta para isso!
Em contraste com a hierarquia voluntaria de Hunter, Cristo, em Mateus 23.11, apresenta um modelo de liderança que encoraja as pessoas a ver o próximo (no caso irmão) como igual (v. 8). Neste modelo, o propósito principal da hierarquia não é servir um mestre, superior ou líder, mas participar de um reino onde não há espaço para extração, mas comunhão. Aqui, a hierarquia trabalha para construir relacionamentos!
Voltando a refletir sobre as frases... Para entendermos melhor o erro de usar frases com o sentido distorcido, vamos inverter as coisas, vamos usar uma frase de Hunter para tentar explicar um ensino bíblico. O apostolo Paulo disse: “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz ”. Se usassemos a frase de Hunter “O homem não nasce líder, ele se torna líder” para tentar descrever o ensino bíblico, teríamos que distorcê-la. Seria tentar fundamentar um pensamento que difere no propósito e sentido. Foi isso que a frase do palestrante me pareceu fazer. Não parece uma comparação sem cabimento? E na verdade é!
Com sua frase, Hunter deseja ensinar que um homem nasce desprovido da habilidade de liderar, mas pode desenvolver essa habilidade ao longo da vida. Da mesma forma, Paulo, ensina que um homem nasce desprovido de habilidade para ser ‘filho da luz’, contudo, ganha a oportunidade de desenvolver essa habilidade. Mas, mesmo com essas semelhanças, é difícil notar qualquer “irmandade” entre as intenções dos dois.
Comecei chegar a algumas conclusões... A intenção de Deus difere em tudo da humana, nós nos preocupamos com coisas terrenas, passageiras, enquanto Deus tem a visão do todo. Sua palavra reflete o seu caráter eterno e seu amor altruísta. Não podemos transformar (ou aceitar que transformem) palavras com tão alto padrão divino em tão baixo padrão mercadológico.
Não somente a troca de palavras pode distorcer uma frase; a colocação e a “contextualização” de uma frase isolada podem muitas vezes desfigurar o seu sentido original.
Da nossa parte, quando citarmos alguma frase atribuída a Jesus tenhamos o cuidado de termos a mesma mente de quem a proferiu. Que não sejamos pegos usando a palavra de Deus em vão!
Então, comecei a refletir sobre o assunto... É correto usar frases atribuídas a Jesus com intenções extra-espirituais? É honesto isso? Estaríamos distorcendo a frase de Jesus? Qual deve ser nossa posição diante dessa distorção?
Comecei a estudar e criticar o caso... O emprego da palavra ‘líder’- quando a tradução literal seria “maior” ou “mais importante”- deixa claro o tom tendencioso da frase. Outro erro da frase é o que chamo de desvio de propósito textual. Este segundo erro é caracterizado por distorcer propositalmente o sentido de um texto na intenção de embasar uma linha de raciocínio próprio.
A semelhança entre a frase apresentada como sendo de Jesus e a registrada na Bíblia, no livro de Mateus 23.11, se lidas despercebidas, passam a impressão de igualdade no sentido e propósito. Porem, em uma leitura cuidadosa e investigativa nota-se algumas diferenças importantes; vamos listar três:
1. Acréscimo de palavras – na frase original de Jesus, o objetivo principal da frase era advertir seus discípulos quanto à hipocrisia dos atos de “bondade” dos fariseus. Na frase apresentada pelo palestrante, o acréscimo das palavras ‘quiser’ e ‘deve’ mudam o propósito central da frase.
2. Objetivo – Jesus estava formando um caráter em seus ouvintes. Ele visava advertir seus ouvintes a respeito do mal da hipocrisia. A frase citada na palestra é usada como parte de uma ferramenta de trabalho que visa construir uma liderança capaz de apresentar resultados positivos, e com fins lucrativos.
3. A quem se dirigiu – a frase de Jesus, - registrada em Mateus 23.11- foi dirigida a uma multidão (v.1), pessoas de diferente nível social e intelectual, pessoas que nada tinham de importante para oferecer. A frase usada na palestra, e atribuída a Cristo, foi dirigida a um grupo especifico (escolhido), pessoas com “vocação” para liderança, à “elite” de um grupo.
James C. Hunter e Cristo: modelos de liderança (?)
Em palestras sobre liderança, o nome de James Hunter é quase obrigatoriamente citado. Por isso, acredito ser necessário fazer uma comparação dos conceitos de liderança difundidos por Hunter (ainda que seja uma comparação breve) Com os de Cristo. (Quem se interessar pelo pensamento de Hunter, indico os seus livros: “O Monge e o Executivo” e “Como se Tornar um líder Servidor”; e quem se interessar pelo pensamento de Cristo, indico: “Bíblia Sagrada”, particularmente os evangelhos; e também, “Nem Monge, Nem Executivo”, de Paul Freston)
Entre os conceitos de liderança de Hunter e de Cristo, existem diferenças colossais. O foco do conceito de liderança servidora de Hunter é reger conflitos horizontais, de homem para homem. O seu propósito é estabelecer uma hierarquia voluntaria com base na motivação que uma liderança servidora pode causar. Seus conceitos têm sido adotados por lideranças em organizações e empresas por acreditarem que, com seus conceitos, poderão extrair dos seus colaboradores o que eles têm de melhor. A hierarquia aqui trabalha para construir coisas, e usa os relacionamentos como ferramenta para isso!
Em contraste com a hierarquia voluntaria de Hunter, Cristo, em Mateus 23.11, apresenta um modelo de liderança que encoraja as pessoas a ver o próximo (no caso irmão) como igual (v. 8). Neste modelo, o propósito principal da hierarquia não é servir um mestre, superior ou líder, mas participar de um reino onde não há espaço para extração, mas comunhão. Aqui, a hierarquia trabalha para construir relacionamentos!
Voltando a refletir sobre as frases... Para entendermos melhor o erro de usar frases com o sentido distorcido, vamos inverter as coisas, vamos usar uma frase de Hunter para tentar explicar um ensino bíblico. O apostolo Paulo disse: “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz ”. Se usassemos a frase de Hunter “O homem não nasce líder, ele se torna líder” para tentar descrever o ensino bíblico, teríamos que distorcê-la. Seria tentar fundamentar um pensamento que difere no propósito e sentido. Foi isso que a frase do palestrante me pareceu fazer. Não parece uma comparação sem cabimento? E na verdade é!
Com sua frase, Hunter deseja ensinar que um homem nasce desprovido da habilidade de liderar, mas pode desenvolver essa habilidade ao longo da vida. Da mesma forma, Paulo, ensina que um homem nasce desprovido de habilidade para ser ‘filho da luz’, contudo, ganha a oportunidade de desenvolver essa habilidade. Mas, mesmo com essas semelhanças, é difícil notar qualquer “irmandade” entre as intenções dos dois.
Comecei chegar a algumas conclusões... A intenção de Deus difere em tudo da humana, nós nos preocupamos com coisas terrenas, passageiras, enquanto Deus tem a visão do todo. Sua palavra reflete o seu caráter eterno e seu amor altruísta. Não podemos transformar (ou aceitar que transformem) palavras com tão alto padrão divino em tão baixo padrão mercadológico.
Não somente a troca de palavras pode distorcer uma frase; a colocação e a “contextualização” de uma frase isolada podem muitas vezes desfigurar o seu sentido original.
Da nossa parte, quando citarmos alguma frase atribuída a Jesus tenhamos o cuidado de termos a mesma mente de quem a proferiu. Que não sejamos pegos usando a palavra de Deus em vão!
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