Palavra do leitor
- 28 de agosto de 2013
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Infabilidade Bíblica e Inerrância Papal
Não foi com muito esforço que intui esses dias e tuitei que,
“a inerrância bíblica era a versão gospel da infabilidade papal”.
Como católico e evangélico que já fui, sei muito bem sobre o que estou dizendo. E espero que as expressões não sejam em absoluto desconhecidas ao amigo leitor ou leitora.
Todos nós estamos também cansados de saber que, como sobre tudo nessa vida, também sobre essas duas expressões poderíamos escrever uma biblioteca inteira sem jamais esgotarmos o assunto. Por isso serei breve, objetivo e depois tirarei meu time de campo para ir cuidar do que realmente interessa.
Então estamos todos de comum acordo que ao ouvir essa ou aquela, ainda que fosse pela primeira vez, a grande maioria das pessoas, teria uma noção não muito longe do real, original, ou mais aceito sentido delas:
Nem a Bíblia nem o santo Papa falham em assuntos de fé.
Se não, vejamos - imaginemos esse diálogo:
- A óstia é o corpo de Cristo.
- Quem disse?
- O papa.
- Então tem que ser verdade.
- Maria subiu aos céus e a mãe de Deus.
- Quem disse?
- O papa tal no século tal.
- Então é isso.
- Deus é trindade.
- Não está assim literal na Bíblia, mas um papa já opinou sobre o assunto...
- Então é.
- Jesus ressuscitou ao terceiro dia.
- Quem disse?
- A Bíblia e o papa.
- Ponto final, pra que discutir?
- A salvação é pela graça e não pelas obras.
- Há controvérsias...
- Mas a Bíblia é clara!
- Então é verdade.
- Mas acho que o papa faria alguns adendos...
- Então leve os adendos em consideração.
E a lista vai ad infinitum: transar de camisinha é pecado, pagar o dízimo é uma obrigação, bebida alcoólica é proibido, ir à missa ou ao culto aos domingos é uma obrigação, aborto é pecado, pornografia é pecado, avareza é pecado, pedofilia é pecado, dar esmolas é uma virtude, comer carne na semana santa… etc, etc, etc.
A crença do povo será ora marcada pela autoridade de um ou pela da outra.
Afinal o sacerdócio universal de todos os crentes é na prática limitado pelo sacerdócio clerical de quem sobre ele governa. E isso não é de todo ruim.
Mas afinal, a Bíblia e o Papa não erram nunca em assuntos de crença (ou fé)?
Você pode acreditar no que você bem quiser. Não estou aqui para me infiltrar em seu relacionamento com seu Deus. O que faço é quase que uma meditação particular (que torno pública) e uma espécie de desabafo – sobre essa função da internet como válvula de escape preciso ainda escrever. Mas para responder a pergunta acima temos que ser bem francos e corajosos para encarar outras:
A quem interessa (ou interessou) esses dois dogmas?
No princípio não foi assim. Ninguém disse a Noé, a Abraão ou a Moisés, a Bíblia é inerrante! Ninguém falou a Davi, a Paulo ou a Timóteo, o Papa é infalível.
O jogo é um jogo de poder, de dominância, de autoridade e até de responsabilidade. Às vezes, não nego, até necessário e benigno. Mas quantas vezes não se tornou hostil e cruel?
Para ir fechando essa minha meditação fico com dois pontos:
1. Adoro a Bíblia, creio em tudo que está ali escrito. Creio na unção que Deus nos dá para aprender e extrair dali lições fundamentais para a vida. Essa mesma unção também nos mostra o que na Bíblia não pode ser aceito como correto. Talvez O Espírito use até mesmo a Bíblia para apontar a contradição... ou talvez a unção use outro instrumento, a razão, o coração, ou outra pessoa, ou uma experiência qualquer, natural ou sobrenatural. Pois essa mesma unção fornece-nos um número infinito de fontes. Até mesmo, pasmem, livros seculares (e de autores que nem cristãos são).
2. Respeito a autoridade espiritual humana (de quem se faz digno de respeito). Ainda que a Bíblia dirá em certo lugar que não é necessário que ninguém nos ensine e que a unção nos basta. Entendo que tenho muito que aprender. Às vezes sou levado individualmente ou em meio à comunidade na qual estou inserido a colocar de lado uma visão própria para tentar enxergar certo assunto sob a perspectiva dessa autoridade. Nessa submissão, que às vezes é natural, que às vezes é forçada pelas circunstâncias, posso ser abençoado e aprender muito. Mas estou consciente da fabilidade dessa autoridade, ainda quando ela, antes da pregação, ore para que Deus use seus lábios. Sei da fabilidade dessa autoridade, ainda que ela seja apoiada por todo um aparato ritual e institucional.
E assim finalizo com a idéia de que Deus quer um relacionamento direto com seus filhos, sem intermediários, sem boletins, sem correios, sem mensageiros. Quando necessários ele pode até se valer dos tais – o que porém não invalidará o mão a mão, o olho no olho de Cristo com suas ovelhas. O falar do Criador direto ao ouvido de sua criatura. Então qual o valor de se fixar uma autoridade (infalível) além da já estabelecida por Deus na pessoa do Jesus ressuscitado? Não sei... Talvez nenhum mesmo.
“a inerrância bíblica era a versão gospel da infabilidade papal”.
Como católico e evangélico que já fui, sei muito bem sobre o que estou dizendo. E espero que as expressões não sejam em absoluto desconhecidas ao amigo leitor ou leitora.
Todos nós estamos também cansados de saber que, como sobre tudo nessa vida, também sobre essas duas expressões poderíamos escrever uma biblioteca inteira sem jamais esgotarmos o assunto. Por isso serei breve, objetivo e depois tirarei meu time de campo para ir cuidar do que realmente interessa.
Então estamos todos de comum acordo que ao ouvir essa ou aquela, ainda que fosse pela primeira vez, a grande maioria das pessoas, teria uma noção não muito longe do real, original, ou mais aceito sentido delas:
Nem a Bíblia nem o santo Papa falham em assuntos de fé.
Se não, vejamos - imaginemos esse diálogo:
- A óstia é o corpo de Cristo.
- Quem disse?
- O papa.
- Então tem que ser verdade.
- Maria subiu aos céus e a mãe de Deus.
- Quem disse?
- O papa tal no século tal.
- Então é isso.
- Deus é trindade.
- Não está assim literal na Bíblia, mas um papa já opinou sobre o assunto...
- Então é.
- Jesus ressuscitou ao terceiro dia.
- Quem disse?
- A Bíblia e o papa.
- Ponto final, pra que discutir?
- A salvação é pela graça e não pelas obras.
- Há controvérsias...
- Mas a Bíblia é clara!
- Então é verdade.
- Mas acho que o papa faria alguns adendos...
- Então leve os adendos em consideração.
E a lista vai ad infinitum: transar de camisinha é pecado, pagar o dízimo é uma obrigação, bebida alcoólica é proibido, ir à missa ou ao culto aos domingos é uma obrigação, aborto é pecado, pornografia é pecado, avareza é pecado, pedofilia é pecado, dar esmolas é uma virtude, comer carne na semana santa… etc, etc, etc.
A crença do povo será ora marcada pela autoridade de um ou pela da outra.
Afinal o sacerdócio universal de todos os crentes é na prática limitado pelo sacerdócio clerical de quem sobre ele governa. E isso não é de todo ruim.
Mas afinal, a Bíblia e o Papa não erram nunca em assuntos de crença (ou fé)?
Você pode acreditar no que você bem quiser. Não estou aqui para me infiltrar em seu relacionamento com seu Deus. O que faço é quase que uma meditação particular (que torno pública) e uma espécie de desabafo – sobre essa função da internet como válvula de escape preciso ainda escrever. Mas para responder a pergunta acima temos que ser bem francos e corajosos para encarar outras:
A quem interessa (ou interessou) esses dois dogmas?
No princípio não foi assim. Ninguém disse a Noé, a Abraão ou a Moisés, a Bíblia é inerrante! Ninguém falou a Davi, a Paulo ou a Timóteo, o Papa é infalível.
O jogo é um jogo de poder, de dominância, de autoridade e até de responsabilidade. Às vezes, não nego, até necessário e benigno. Mas quantas vezes não se tornou hostil e cruel?
Para ir fechando essa minha meditação fico com dois pontos:
1. Adoro a Bíblia, creio em tudo que está ali escrito. Creio na unção que Deus nos dá para aprender e extrair dali lições fundamentais para a vida. Essa mesma unção também nos mostra o que na Bíblia não pode ser aceito como correto. Talvez O Espírito use até mesmo a Bíblia para apontar a contradição... ou talvez a unção use outro instrumento, a razão, o coração, ou outra pessoa, ou uma experiência qualquer, natural ou sobrenatural. Pois essa mesma unção fornece-nos um número infinito de fontes. Até mesmo, pasmem, livros seculares (e de autores que nem cristãos são).
2. Respeito a autoridade espiritual humana (de quem se faz digno de respeito). Ainda que a Bíblia dirá em certo lugar que não é necessário que ninguém nos ensine e que a unção nos basta. Entendo que tenho muito que aprender. Às vezes sou levado individualmente ou em meio à comunidade na qual estou inserido a colocar de lado uma visão própria para tentar enxergar certo assunto sob a perspectiva dessa autoridade. Nessa submissão, que às vezes é natural, que às vezes é forçada pelas circunstâncias, posso ser abençoado e aprender muito. Mas estou consciente da fabilidade dessa autoridade, ainda quando ela, antes da pregação, ore para que Deus use seus lábios. Sei da fabilidade dessa autoridade, ainda que ela seja apoiada por todo um aparato ritual e institucional.
E assim finalizo com a idéia de que Deus quer um relacionamento direto com seus filhos, sem intermediários, sem boletins, sem correios, sem mensageiros. Quando necessários ele pode até se valer dos tais – o que porém não invalidará o mão a mão, o olho no olho de Cristo com suas ovelhas. O falar do Criador direto ao ouvido de sua criatura. Então qual o valor de se fixar uma autoridade (infalível) além da já estabelecida por Deus na pessoa do Jesus ressuscitado? Não sei... Talvez nenhum mesmo.
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