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Palavra do leitor

Igreja x Seminaristas: Relacionamento nem sempre tranquilo

Há alguns dias voltava do seminário junto com outros três seminaristas a quem dava carona, e em dado momento passamos a conversar sobre o referido tema, o que me motivou a escrever algumas considerações. Pensei sobre a minha própria situação e sobre a de vários seminaristas que conheço que nem sempre vivem uma relação amistosa com suas igrejas e pastores, o que graças a Deus não é o meu caso.

É fato que a realidade de muitos vocacionados em suas igrejas locais e denominações não é muito confortável, sendo que muitas vezes nesse relacionamento falta compreensão, aceitação reconhecimento e sobram desconfianças, rancores e incompreensão.

Mas afinal, restaram algumas indagações de cunho prático que me atrevo a tentar responder, segundo as experiências que o Senhor me tem permitido conhecer na vida academico-teológica.

O que é um Seminarista ?

É um servo de Deus e membro de uma igreja local que por ela teve reconhecido seu chamado e vocação, que foi discipulado pela sua liderança (uma espécie de pré-teológico) a fim de que tenha, ele próprio e a sua igreja a certeza de que “vale a pena o investimento” e assim, por essa mesma igreja, seja enviado a um seminário para obter o preparo teológico necessário para sua ordenação, sendo sustentado e acompanhado durante todo este processo, pastoreado de perto, recebendo oportunidades para praticar seus dons e demonstrar os conhecimentos acadêmicos recebidos.

O que “não é” um Seminarista ?

Um servo de Deus que, por livre iniciativa, procurou um seminário teológico a fim de aprimorar-se no conhecimento bíblico, sem contudo, contar com o envio e apoio de uma igreja local (no máximo uma carta de apresentação, já que é obrigatório). Chamo este irmão em Cristo de "estudante de teologia" e é sobre a condição desses vocacionados que quero gastar algum tempo.

Algo que não podemos negar é a realidade de muitos servos de Deus que estão vivendo situações como essa, não recebem qualquer apoio de suas igrejas, aliás, são por elas, e consequentemente seus pastores muitas vezes ignorados. Por vezes são considerados como uma "ameaça" ao pastor, visto que, em muitos casos, estes não têm preparo teológico formal e não têm a visão dessa necessidade.

Ainda hoje muitas igrejas torcem o nariz para um seminarista e para o estudo teológico, chegando ao absurdo de dizer, em tom espiritual, que "A letra mata", reflexo do grande analfabetismo teológico de nossos líderes que em muitas ocasiões pregam a necessidade de carisma nem sempre acompanhado de caráter, despojando o ministério pastoral da sacralidade que a Bíblia lhe outorga.

Negligenciar a formação de seus obreiros é descuidar de algo fundamental, o que no futuro poderá trazer conseqüências desagradáveis, por conta de uma liderança fraca e com poucas condições de responder aos anseios de uma comunidade local e de uma sociedade permeada pelos pressupostos da pós-modernidade (relativismo moral e teológico, imediatismo, consumismo etc.).

Um ministro precisa ter espírito crítico, ser experimentado nas doutrinas bíblicas a fim de "estar sempre preparado para responder com mansidão e temor a qualquer um que pedir a razão da esperança que há em nós" (1Pe 3.15). Ele precisa ser amado, acolhido e reconhecido por sua igreja local, a qual necessariamente deve participar de sua formação.

Não é toa que, durante a sua preparação teológica formal, no ambiente acadêmico, ao ter contato com a diversidade, muitos estudantes de teologia deixam sua igreja local ou até mesmo sua denominação, pois acabam enxergando "gramas mais verdes" em outras pastagens, locais onde obtém o reconhecimento do chamado.

Já há muito tempo tenho uma posição pessoal e sinceramente creio que bíblica acerca do papel da igreja local no sustento de seus vocacionados: Ainda que o seminarista seja suficientemente abastado para pagar seus estudos, a igreja deve contribuir, ao menos com parte dos custos de seu curso. Isso estabelecerá um relacionamento tal em que a igreja terá o direito de cobrar desempenho acadêmico e cooperação nos trabalhos eclesiásticos e ao mesmo tempo o aluno se sentirá parte de um time (considero o segundo motivo o mais importante).

Finalmente, enxergo essa relação tal qual a de um pai que encaminha seu filho a escola. Suas obrigações não terminam na matrícula, elas permanecem até a formatura passando por todos os estágios da formação (reuniões, controle de freqüência, apoio nos trabalhos...).

É, pelo visto, para muitos, há um longo caminho a ser percorrido...

Deus nos ajude.
São Paulo - SP
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