Palavra do leitor
- 27 de abril de 2023
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Há lições que somente a dor pode ensinar
Os versículos de três a cinco do primeiro capítulo de Rute me fazem lembrar daquela parte da história de Jó, aquela em que uma notícia ruim sucede uma outra notícia ruim em um ciclo que nos angustia somente de ler.
Elimeleque morreu longe de casa. Malom e Quiliom, seus filhos, morreram anos depois sob a mesma condição. Uma tragédia. Paremos um pouco para refletirmos sobre a dor de Noemi. A morte estava no encalço de sua casa. Fugiram da morte em Belém para encontrá-la em Moabe. Para Noemi, só lhe ficaram as duas noras. Parece pouco. E, aos olhos humanos é. No entanto, o remanescente com que o Senhor costuma nos presentear sempre é suficiente. Uma leitura inicial pode fazer parecer com que Rute e Orfa, as noras, sejam pesos para uma velha e amargurada viúva. Entretanto, os capítulos seguintes mostrarão que uma delas era um verdadeiro presente.
Mas falemos sobre isso depois. Quero explorar um pouco mais a temática da dor e do sofrimento de Noemi, ou o que costumo chamar de Getsêmani pessoal. É uma expressão que tomei emprestada com Brennan Manning: "Quando a tragédia acontece, e não conseguimos ouvir nada além do som da agonia; quando a coragem foge pela janela, e o mundo parece ser um lugar hostil e ameaçador, é hora de passar pelo nosso Getsêmani pessoal." Manning usa a expressão como referência ao momento de dor e sofrimento que Jesus teve no jardim do Getsêmani (Mt 26:36-45; Mc 14:32-42; Lc 11:39-46).
Noemi sofre, mas a vida segue. Quando o dia mau chega, é preciso fazer uma escolha: entregar os pontos ou seguir em frente. Noemi escolhe seguir e, talvez, o que a tenha motivado foi ter ouvido que a fartura havia retornado para a Casa do Pão, ou seja, a fome já não era uma realidade em Belém. A terra da promessa continuava sendo a terra da promessa.
A boa notícia renovou suas esperanças. E isso é fundamental quando o dia mau bate à porta. É importante que estejamos próximos de pessoas que, em vez de acrescentarem peso à nossa dor, têm boas notícias para compartilhar e reacendem nossas esperanças em Deus e em nós mesmos. Mesmo no dia mau, a bondade do Senhor é presente.
Geralmente, os colapsos conduzem a notáveis avanços. Há lições que somente a dor pode ensinar. Sua decisão de seguir em frente está registrada de forma simples, porém profunda, no versículo seis do primeiro capítulo: "decidiu voltar... para a sua terra". Noemi decidiu voltar para a terra da promessa, regressar para a vontade de Deus. Se com o erro de Elimeleque aprendemos a importante lição de permanecer onde Deus mandou, com o acerto de Noemi, aprendemos a também preciosa lição de regressar para onde Ele mandou.
Não era uma decisão fácil. Certamente, Noemi pensou em como seria recebida, em como as notícias sobre as mortes de seu esposo e filhos seriam comentadas, em como seria regressar para Belém com as mãos vazias e, agora, com duas mulheres que dependeriam dela em uma terra a que não pertenciam. Já no caminho de volta, Noemi para e decide que é melhor que suas noras fiquem. Seus argumentos são válidos (1:8,11-13) e, ainda que sob alguma resistência, Orfa decide retornar, não sem chorar. E é nesse ponto da narrativa que encontramos os versículos mais famosos do livro, repetidos dia após dia em incontáveis cerimônias de casamento (1:16,17). Rute estava decidida a seguir com a sogra. Orfa viu em Noemi uma sogra, enquanto Rute enxergou uma figura materna.
Noemi havia dito que o seu Deus voltou sua mão contra ela (1:13). Não havia certeza de que seriam acolhidas. Rute só tinha duas coisas em que se agarrar: a notícia de que havia alimento em Belém e a companhia de sua sogra. Uma promessa e uma companhia. Isso foi o suficiente. Certamente, seu coração estava inquieto, quem sabe ainda em luto por seu esposo, com dúvidas, temores, mas ela decidiu seguir com Noemi - "Aonde fores irei".
O texto bíblico não indica quais foram seus reais motivos, o que é prontamente explorado por pregadores apressados. Somente uma coisa posso afirmar: para Rute, estar com sua sogra em uma terra estrangeira e recomeçar do zero era melhor que permanecer com sua parentela e com seus deuses em sua terra natal. Há uma lição de lealdade aqui. Rute decidiu trocar Moabe por Belém porque não abandonaria aquela que a recebeu, porque entendeu seu lugar de serviço e de suporte e porque é melhor ficar ao lado de quem tem
promessas.
Elimeleque morreu longe de casa. Malom e Quiliom, seus filhos, morreram anos depois sob a mesma condição. Uma tragédia. Paremos um pouco para refletirmos sobre a dor de Noemi. A morte estava no encalço de sua casa. Fugiram da morte em Belém para encontrá-la em Moabe. Para Noemi, só lhe ficaram as duas noras. Parece pouco. E, aos olhos humanos é. No entanto, o remanescente com que o Senhor costuma nos presentear sempre é suficiente. Uma leitura inicial pode fazer parecer com que Rute e Orfa, as noras, sejam pesos para uma velha e amargurada viúva. Entretanto, os capítulos seguintes mostrarão que uma delas era um verdadeiro presente.
Mas falemos sobre isso depois. Quero explorar um pouco mais a temática da dor e do sofrimento de Noemi, ou o que costumo chamar de Getsêmani pessoal. É uma expressão que tomei emprestada com Brennan Manning: "Quando a tragédia acontece, e não conseguimos ouvir nada além do som da agonia; quando a coragem foge pela janela, e o mundo parece ser um lugar hostil e ameaçador, é hora de passar pelo nosso Getsêmani pessoal." Manning usa a expressão como referência ao momento de dor e sofrimento que Jesus teve no jardim do Getsêmani (Mt 26:36-45; Mc 14:32-42; Lc 11:39-46).
Noemi sofre, mas a vida segue. Quando o dia mau chega, é preciso fazer uma escolha: entregar os pontos ou seguir em frente. Noemi escolhe seguir e, talvez, o que a tenha motivado foi ter ouvido que a fartura havia retornado para a Casa do Pão, ou seja, a fome já não era uma realidade em Belém. A terra da promessa continuava sendo a terra da promessa.
A boa notícia renovou suas esperanças. E isso é fundamental quando o dia mau bate à porta. É importante que estejamos próximos de pessoas que, em vez de acrescentarem peso à nossa dor, têm boas notícias para compartilhar e reacendem nossas esperanças em Deus e em nós mesmos. Mesmo no dia mau, a bondade do Senhor é presente.
Geralmente, os colapsos conduzem a notáveis avanços. Há lições que somente a dor pode ensinar. Sua decisão de seguir em frente está registrada de forma simples, porém profunda, no versículo seis do primeiro capítulo: "decidiu voltar... para a sua terra". Noemi decidiu voltar para a terra da promessa, regressar para a vontade de Deus. Se com o erro de Elimeleque aprendemos a importante lição de permanecer onde Deus mandou, com o acerto de Noemi, aprendemos a também preciosa lição de regressar para onde Ele mandou.
Não era uma decisão fácil. Certamente, Noemi pensou em como seria recebida, em como as notícias sobre as mortes de seu esposo e filhos seriam comentadas, em como seria regressar para Belém com as mãos vazias e, agora, com duas mulheres que dependeriam dela em uma terra a que não pertenciam. Já no caminho de volta, Noemi para e decide que é melhor que suas noras fiquem. Seus argumentos são válidos (1:8,11-13) e, ainda que sob alguma resistência, Orfa decide retornar, não sem chorar. E é nesse ponto da narrativa que encontramos os versículos mais famosos do livro, repetidos dia após dia em incontáveis cerimônias de casamento (1:16,17). Rute estava decidida a seguir com a sogra. Orfa viu em Noemi uma sogra, enquanto Rute enxergou uma figura materna.
Noemi havia dito que o seu Deus voltou sua mão contra ela (1:13). Não havia certeza de que seriam acolhidas. Rute só tinha duas coisas em que se agarrar: a notícia de que havia alimento em Belém e a companhia de sua sogra. Uma promessa e uma companhia. Isso foi o suficiente. Certamente, seu coração estava inquieto, quem sabe ainda em luto por seu esposo, com dúvidas, temores, mas ela decidiu seguir com Noemi - "Aonde fores irei".
O texto bíblico não indica quais foram seus reais motivos, o que é prontamente explorado por pregadores apressados. Somente uma coisa posso afirmar: para Rute, estar com sua sogra em uma terra estrangeira e recomeçar do zero era melhor que permanecer com sua parentela e com seus deuses em sua terra natal. Há uma lição de lealdade aqui. Rute decidiu trocar Moabe por Belém porque não abandonaria aquela que a recebeu, porque entendeu seu lugar de serviço e de suporte e porque é melhor ficar ao lado de quem tem
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