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Palavra do leitor

Garimpeiros do pecado

Quando li o artigo "Contra quem Davi pecou", pude notar a tendência que temos em garimpar pecado. No caso de Davi, a maioria sabe que os pecados cometidos foram o adultério e o assassinato. Mas o autor conseguiu tornar isso numa lista de 10 pecados! Na verdade, tenho certeza que se "garimpássemos" mais, certamente encontraríamos um número absurdamente maior de pecados. Somos experts na arte de apontar erros.

Não apenas o alheio, o nosso próprio também. Mas, a custo de quê? Quantas vezes, em nossas orações, demoramo-nos tanto em confessarmos nossos pecados, 
destrinchamos os nossos erros, tal qual o autor do artigo fez com os de Davi? Quando finalmente acabamos de fazer tal recordação, já não resta nenhum vigor para, sequer, adorar a Deus. Porém, se sobra algum, usamos o mesmo para adorar a Deus acompanhados de uma arrogância que, nas entrelinhas, quer dizer o seguinte: "Agora que eu mesmo já me limpei, sou digno de falar contigo, oh Deus Santo!" Mas, se não estou enganado, esse mesmo Deus Santo foi Aquele que disse que nossos atos de justiça são como trapo de imundícia. Não entendo, portanto, de onde tiramos a idéia de que temos a capacidade de confessarmos, limparmo-nos o suficiente, de modo que seja digna a nossa entrada no Santo dos santos. Não é boa essa jactância.

Outros, de tão oprimidos que são por essa prática da confissão, adiam o quanto podem, o momento em que deverão se colocar perante o Rei e terão de recordar as suas faltas diante dEle. Não buscam mais a Deus por prazer, mas por temor.No entanto, Deus não nos deu espírito de ESCRAVIDÃO para estarmos, novamente, em temor(Rm 8:15).

Lembro-me bem da passagem de João cap. 13, quando o Mestre foi lavar os pés dos discípulos. Pedro pensava que a atitude mais HUMILDE que poderia tomar, era não deixar que o Senhor o limpasse: " Nunca me lavarás os pés". Mas como na era da graça, tudo é surpreendente: "Replicou-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo". Não sei se a Igreja realmente entende o que é a graça trazida por Cristo e espalhada por seus discípulos. Não sei nem se entende quando Lutero disse:"Não haverá justiça em nós se antes nossa justiça própria não sucumbir e perecer". Como Pedro, pensamos que nós mesmos é que temos de nos limpar, para então entrarmos na presença de Deus, mas o que Cristo diz é exatamente o oposto: Se Eu não te limpar, não terás comunhão comigo. Aquele que já foi banhado - pela lavagem da palavra - não precisa limpar nada, a não ser os pés. E era dos "pés" que Ele próprio queria cuidar. 

Talvez por influência católica, associamos o texto de I João 1:9 com o ato repetitivo de confissão, quando, na verdade, a palavra grega significa "Admitir" ou ainda "Concordar". Basta entender um pouco de Língua Portuguesa, para perceber que o nono versículo é uma resposta ao anterior. No oitavo o apóstolo afirma que"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos." Já no nono: "Mas se concordarmos, admitirmos que temos pecado Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." enquanto isso, no versículo 7, onde se lê: "mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado", temos a palavra "purifica" que, no grego, expressa uma ação que acontece, essa sim, REPETIDAMENTE.
A bem da verdade, a atitude mais humilde que podemos ter diante de Deus é confiar na purificação, feita uma vez por todas, por seu Filho, honrando assim seu sacrifício: "O justo viverá pela fé".

No cap. 10 de Hebreus, nos versículos 2 e 3 fica claro que, o ato de recordação de pecados cabe àqueles que NÃO foram purificados, de uma vez por todas, de seus pecados. Não é o nosso caso. 

Em seguida, após dizer que, com tal oferta, aprefeiçoou para sempre os que estão sendo santificados (v. 14), indica que o próprio Espírito Santo é testemunha disso (vv. 15-17). Ora, só pode existir testemunho daquilo que já ocorreu!

A partir do verso 19, o autor nos convoca, cientes-agora- dessas verdades, a entrar, sem medo, no Santo dos santos, confiados no Sangue de Jesus, o novo caminho que Ele nos abriu. E nos lembra que:" tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque FIEL é aquele que fez a PROMESSA"( Hb. 10: 21-23). Quanto mais recordamos o nosso pecado, mais o fortificamos, e nos vemos vítimas dessa armadilha, tal qual Paulo (Rm 7:7ss). Desperdiçamos o maior dom que Deus nos deu, o da justiça (Rm 4:6 e 5:17), enquanto poderíamos usar todo nosso vigor para viver a justiça do Filho de Deus. Quanto tempo gastamos pensando no pecado? Cristo morreu "levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados" I Pedro 2:24.
Franco Da Rocha - SP
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