Palavra do leitor
- 07 de dezembro de 2007
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Ganhar tudo e perder o essencial
E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da cobiça; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus. E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma (Lc 12.15. 21 e Mc 8.34-26).
O ser humano é movido à ambição. Na medida certa, faz do individuo um empreendedor. A ambição por si só não é danosa. Era ambição de Cristo cumprir a missão que o Pai lhe dera, ou seja, morrer numa Cruz e ressuscitar para salvação de todo aquele que crê. "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou" (Jo 5.30).
Era ambição de Paulo correr a carreira que lhe estava proposta, cumprir a missão de levar o evangelho aos gentios, fazer Cristo conhecido e formado naqueles que evangelizava e doutrinava. "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" (At 20.24).
Era ambição de Davi levantar o templo do Senhor. "E pôs-se o rei Davi em pé, e disse: Ouvi-me, irmãos meus, e povo meu; em meu coração propus eu edificar uma casa de repouso para a arca da aliança do Senhor e para o estrado dos pés do nosso Deus, e eu tinha feito o preparo para a edificar" (1 Cr 28.2). E a de Salomão ser sábio para conduzir o povo. "Dá-me, pois, agora, sabedoria e conhecimento, para que possa sair e entrar perante este povo; pois quem poderia julgar a este tão grande povo" (2 Cr 1.10).
A ambição leva o indivíduo a conquista de seus sonhos, a busca de um ideal, dá um sentido para a vida. Mas, como tudo em nós, a tênue linha entre a ambição e a cobiça é muito, muito fina. Jesus com muita propriedade na parábola do homem rico, diz que: a pessoa não é aquilo que possui!
Entretanto nos vivemos numa sociedade que valoriza aquilo que se possui e não o que se é. Não apenas riqueza, mas, também, beleza, inteligência, intelectualidade, poder. A gênese do crime e da violência é exatamente esta, a cobiça de ter e ser alguém por aquilo que se possui. Os noticiários televisivos mostraram os grandes barões do tráfico em mansões valiosíssimas, com dinheiro escondido nas paredes e até no quintal. O exemplo contemporâneo da parábola que Jesus contou em Lucas 12. A necessidade de se ganhar fama a qualquer custo na mídia ao ponto do enlouquecimento e da perda de valores éticos é outra demonstração de como a cobiça pode levar o homem a se apartar de si mesmo.
Todos nos perguntamos quando vemos casos de corrupção porque um juiz de direito se deixa levar por uma mesada de 12 ou 20 mil reais? O que se passa na mente de um homem quando propõe a uma nação eternizar-se no poder através de um mandato praticamente vitalício? Nessas horas há de se pensar que Hitler e seus desvarios de raça pura e poder absoluto não são fatos pontuais. Mas, se de um lado um dirigente embebido no poder quer ficar para sempre nele, outro, se acredita dono do mundo de tal forma que pode invadir um país a pretexto de luta contra o terrorismo e democracia, matar até mesmo os seus compatriotas.
Nessa parábola Jesus mostra a tolice de se basear a vida naquilo que se possui, porque o terreno é transitório e para a eternidade não tem valor. Em Marcos, Jesus, vai além dizendo que aquele que quiser vir após Ele deve perder a sua vida, para na verdade ganhá-la. Finaliza: O que adianta ganhar o mundo inteiro e perder sua alma. Profundo como sempre Jesus estava falando de eternidade, mas, também da vida presente.
A ambição do ter faz o homem perder a si mesmo, causa a morte da alma. E o homem sem alma é aquele incapaz de ter compaixão e misericórdia. Um individuo sem alma vive da amargura de lutar para manter o seu ter todos os dias, mesmo que isso custe tudo o mais, os amigos, o amor, a família. O homem da alma morta humilha sem pestanejar porque precisa disso para sentir forte, por isso mata com palavras, atitudes, armas... Ele é severo, duro, perfecionista, diz toda a verdade (franqueza) com o absoluto prazer de causar dor no outro. Porque o sofrimento do outro alivia de forma doentia o seu. Ele tem prazer em fazer outros sofrerem, mesmo que diga que não. É bom, mas de uma bondade egoísta que na verdade está a serviço de "fazê-lo bom e admirado por sua bondade" Suas ações nunca estão desvinculadas do firme propósito de ser o centro das atenções, de ser para si e nunca para o outro.
Assim se luta na sociedade, faz-se qualquer coisa, homens honrados, criminosos, todos movidos pelo ter e mortos em sua alma. A alma morta suplica por vida! Quer contato e verdade, quer acima de tudo ter Deus como seu supremo bem, mas, os celeiros maiores e cada vez mais cheios sufocam seu grito. E assim a doença aparece, a depressão, ansiedade, o descontrole, a bulimia, a anorexia, a psicose, o transtorno bipolar, as inseguranças, as lembranças ruins, os rancores profundos, as iras incontidas, o desrespeito, a incredulidade, o sarcasmo e o cinismo. A alma morta. E assim andam pelas ruas pensando-se vivos, mas, melancolicamente mortos.
Mas, a maior tristeza, pode você pensar, que almas mortas vivem entre aqueles que se dizem nascidos novamente em Cristo. Assim, entre aqueles que deveriam fazê-lo o centro de tudo, vivem os que querem fazê-lo o centro da sua ambição de ter. Não é à toa que a teologia da prosperidade encontrou terreno fértil para se estabelecer nas igrejas evangélicas.
E o evangelho hoje propagado mais e mais é o de se ter e não ser. É o evangelho de grandes ambições, de príncipes, reis, filhos do Dono do mundo, de abençoados, de vitoriosos, de campeões, da riqueza material, do carro do ano, dos saudáveis nunca doentes, dos milagres, dos que nunca sofrem e só possuem alegria, dos que são cabeça e não calda.... Um evangelho de almas mortas, onde não se vê o brilho de Cristo e não se percebe a diferença com o ímpio.
Pessoas que ganharam tudo e perderam o essencial da vida! O prazer de viver, a alegria do encontro, a amizade desinteressada, a conversa alegre e banal, o chorar junto, o reconhecer no outro aquele para quem se vive, e acima de tudo o viver na centralidade de Cristo, tendo o prazer de ser servo, instrumento de benção, veiculo do amor, da luz, do poder e da energia viva do Espírito.
Diz João Alexandre na música "Jogou, Venceu", do álbum família, 2004:
Quem pensa somente em si
Quer ganhar um jogo que já perdeu!
Quem sabe abrir mão de si
Compreendeu a vida,
Jogou, venceu!
Quem joga fora é aquele que realmente venceu!
O ser humano é movido à ambição. Na medida certa, faz do individuo um empreendedor. A ambição por si só não é danosa. Era ambição de Cristo cumprir a missão que o Pai lhe dera, ou seja, morrer numa Cruz e ressuscitar para salvação de todo aquele que crê. "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou" (Jo 5.30).
Era ambição de Paulo correr a carreira que lhe estava proposta, cumprir a missão de levar o evangelho aos gentios, fazer Cristo conhecido e formado naqueles que evangelizava e doutrinava. "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" (At 20.24).
Era ambição de Davi levantar o templo do Senhor. "E pôs-se o rei Davi em pé, e disse: Ouvi-me, irmãos meus, e povo meu; em meu coração propus eu edificar uma casa de repouso para a arca da aliança do Senhor e para o estrado dos pés do nosso Deus, e eu tinha feito o preparo para a edificar" (1 Cr 28.2). E a de Salomão ser sábio para conduzir o povo. "Dá-me, pois, agora, sabedoria e conhecimento, para que possa sair e entrar perante este povo; pois quem poderia julgar a este tão grande povo" (2 Cr 1.10).
A ambição leva o indivíduo a conquista de seus sonhos, a busca de um ideal, dá um sentido para a vida. Mas, como tudo em nós, a tênue linha entre a ambição e a cobiça é muito, muito fina. Jesus com muita propriedade na parábola do homem rico, diz que: a pessoa não é aquilo que possui!
Entretanto nos vivemos numa sociedade que valoriza aquilo que se possui e não o que se é. Não apenas riqueza, mas, também, beleza, inteligência, intelectualidade, poder. A gênese do crime e da violência é exatamente esta, a cobiça de ter e ser alguém por aquilo que se possui. Os noticiários televisivos mostraram os grandes barões do tráfico em mansões valiosíssimas, com dinheiro escondido nas paredes e até no quintal. O exemplo contemporâneo da parábola que Jesus contou em Lucas 12. A necessidade de se ganhar fama a qualquer custo na mídia ao ponto do enlouquecimento e da perda de valores éticos é outra demonstração de como a cobiça pode levar o homem a se apartar de si mesmo.
Todos nos perguntamos quando vemos casos de corrupção porque um juiz de direito se deixa levar por uma mesada de 12 ou 20 mil reais? O que se passa na mente de um homem quando propõe a uma nação eternizar-se no poder através de um mandato praticamente vitalício? Nessas horas há de se pensar que Hitler e seus desvarios de raça pura e poder absoluto não são fatos pontuais. Mas, se de um lado um dirigente embebido no poder quer ficar para sempre nele, outro, se acredita dono do mundo de tal forma que pode invadir um país a pretexto de luta contra o terrorismo e democracia, matar até mesmo os seus compatriotas.
Nessa parábola Jesus mostra a tolice de se basear a vida naquilo que se possui, porque o terreno é transitório e para a eternidade não tem valor. Em Marcos, Jesus, vai além dizendo que aquele que quiser vir após Ele deve perder a sua vida, para na verdade ganhá-la. Finaliza: O que adianta ganhar o mundo inteiro e perder sua alma. Profundo como sempre Jesus estava falando de eternidade, mas, também da vida presente.
A ambição do ter faz o homem perder a si mesmo, causa a morte da alma. E o homem sem alma é aquele incapaz de ter compaixão e misericórdia. Um individuo sem alma vive da amargura de lutar para manter o seu ter todos os dias, mesmo que isso custe tudo o mais, os amigos, o amor, a família. O homem da alma morta humilha sem pestanejar porque precisa disso para sentir forte, por isso mata com palavras, atitudes, armas... Ele é severo, duro, perfecionista, diz toda a verdade (franqueza) com o absoluto prazer de causar dor no outro. Porque o sofrimento do outro alivia de forma doentia o seu. Ele tem prazer em fazer outros sofrerem, mesmo que diga que não. É bom, mas de uma bondade egoísta que na verdade está a serviço de "fazê-lo bom e admirado por sua bondade" Suas ações nunca estão desvinculadas do firme propósito de ser o centro das atenções, de ser para si e nunca para o outro.
Assim se luta na sociedade, faz-se qualquer coisa, homens honrados, criminosos, todos movidos pelo ter e mortos em sua alma. A alma morta suplica por vida! Quer contato e verdade, quer acima de tudo ter Deus como seu supremo bem, mas, os celeiros maiores e cada vez mais cheios sufocam seu grito. E assim a doença aparece, a depressão, ansiedade, o descontrole, a bulimia, a anorexia, a psicose, o transtorno bipolar, as inseguranças, as lembranças ruins, os rancores profundos, as iras incontidas, o desrespeito, a incredulidade, o sarcasmo e o cinismo. A alma morta. E assim andam pelas ruas pensando-se vivos, mas, melancolicamente mortos.
Mas, a maior tristeza, pode você pensar, que almas mortas vivem entre aqueles que se dizem nascidos novamente em Cristo. Assim, entre aqueles que deveriam fazê-lo o centro de tudo, vivem os que querem fazê-lo o centro da sua ambição de ter. Não é à toa que a teologia da prosperidade encontrou terreno fértil para se estabelecer nas igrejas evangélicas.
E o evangelho hoje propagado mais e mais é o de se ter e não ser. É o evangelho de grandes ambições, de príncipes, reis, filhos do Dono do mundo, de abençoados, de vitoriosos, de campeões, da riqueza material, do carro do ano, dos saudáveis nunca doentes, dos milagres, dos que nunca sofrem e só possuem alegria, dos que são cabeça e não calda.... Um evangelho de almas mortas, onde não se vê o brilho de Cristo e não se percebe a diferença com o ímpio.
Pessoas que ganharam tudo e perderam o essencial da vida! O prazer de viver, a alegria do encontro, a amizade desinteressada, a conversa alegre e banal, o chorar junto, o reconhecer no outro aquele para quem se vive, e acima de tudo o viver na centralidade de Cristo, tendo o prazer de ser servo, instrumento de benção, veiculo do amor, da luz, do poder e da energia viva do Espírito.
Diz João Alexandre na música "Jogou, Venceu", do álbum família, 2004:
Quem pensa somente em si
Quer ganhar um jogo que já perdeu!
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