Palavra do leitor
- 11 de julho de 2009
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G8, G5, Saramago e a morte da justiça
Alguns dos homens mais poderosos do mundo se reuniram nessa última quarta-feira (8/7) na cidade de L'Aquila, na Itália, e mesmo considerando que os dois grupos se encontraram separadamente um do outro, um assunto permeou suas pautas: a PÓS-CRISE da economia mundial que está dando, segundo eles, alguns sinais "animadores".
Frente a isso uma coisa é certa: esses grupos estão mais preocupados com a continuidade, ou a constituição de uma nova configuração da globalizada economia capitalista, ou o nome que venha a ter - que está mais para os ‘poderosos da terra’ – eles próprios, do que para os filhos da terra que perecem cada dia em suas necessidades primárias para a sua própria subsistência.
Com isso, não demos mais ouvidos a essas baboseiras engravatadas e envoltas em sutilezas de um discurso aparentemente aliviador para os pobres desgraçados da terra, que debaixo do topo da pirâmide social, política e econômica, mas bem debaixo mesmo, ou seria, a própria base dessa pirâmide (?), são desnudados e mortos não somente por esses grupos, mas também pela nossa negligência em não exercitar a militância em prol da justiça de um Reino que é baseado em uma nova realidade (U-topos), realidade esta que não é conivente com essa indecência pregada pelos grandes senhores, mas é uma realidade que já pode ser vivida pela práxis do evangelho de justiça militante para esse mundo.
Assim, parafraseando o texto de José Saramago, que foi lido na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial do ano de 2002, chamo a atenção de todos aqueles, que sendo meus pares na responsabilidade de expansão dessa nova realidade, fecham seus olhos para uma ‘adoração’ alienada enquanto que a justiça é preterida e amordaçada:
Começarei contando em brevíssimas palavras um fato notável da vida marginalizada de todos os desgraçados e esfomeados da terra, sejam eles das Américas, Ásia, África ou de onde for ouvido o seu clamor. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral que pode ser extraída não terá de esperar o fim do relato, pois saltará sem demora para a nossa vergonha.
Estavam os habitantes em suas casas ou trabalhando em suas atividades rotineiras, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja.
Naqueles piedosos tempos (estamos falando de um tempo não muito distante) onde os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente o som dos finados, e isso, sim, era surpreendente, pois aparentemente não havia ninguém da cidadezinha que se encontrasse em vias de... Saíram, portanto, as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os seus afazeres, e em pouco tempo estavam todos reunidos na porta da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar.
O sino ainda tocou por alguns minutos mais, e finalmente calou-se. Instantes depois a porta da igreja se abriu e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o homem que normalmente tocava o sino, o sineiro, e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas quem morreu?", tornaram os vizinhos a perguntar, e o home respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que aconteceu?
Aconteceu que um ganancioso senhor do lugar (algum senhor do grupo do G8, G5... não sei ao certo) andava já faz um tempo mudando as cercas que demarcavam as terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do filho da terra, que se tornava, a terra, mais e mais reduzida a cada avançada da cerca.
O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu se queixar às autoridades, mas que autoridades?, e pedir proteção da justiça. Mas tudo sem resultado, a espoliação continuou.
Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma cidadezinha tem o exato tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem exceção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido...
Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta... (continua)
http://roberas.blogspot.com/
Frente a isso uma coisa é certa: esses grupos estão mais preocupados com a continuidade, ou a constituição de uma nova configuração da globalizada economia capitalista, ou o nome que venha a ter - que está mais para os ‘poderosos da terra’ – eles próprios, do que para os filhos da terra que perecem cada dia em suas necessidades primárias para a sua própria subsistência.
Com isso, não demos mais ouvidos a essas baboseiras engravatadas e envoltas em sutilezas de um discurso aparentemente aliviador para os pobres desgraçados da terra, que debaixo do topo da pirâmide social, política e econômica, mas bem debaixo mesmo, ou seria, a própria base dessa pirâmide (?), são desnudados e mortos não somente por esses grupos, mas também pela nossa negligência em não exercitar a militância em prol da justiça de um Reino que é baseado em uma nova realidade (U-topos), realidade esta que não é conivente com essa indecência pregada pelos grandes senhores, mas é uma realidade que já pode ser vivida pela práxis do evangelho de justiça militante para esse mundo.
Assim, parafraseando o texto de José Saramago, que foi lido na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial do ano de 2002, chamo a atenção de todos aqueles, que sendo meus pares na responsabilidade de expansão dessa nova realidade, fecham seus olhos para uma ‘adoração’ alienada enquanto que a justiça é preterida e amordaçada:
Começarei contando em brevíssimas palavras um fato notável da vida marginalizada de todos os desgraçados e esfomeados da terra, sejam eles das Américas, Ásia, África ou de onde for ouvido o seu clamor. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral que pode ser extraída não terá de esperar o fim do relato, pois saltará sem demora para a nossa vergonha.
Estavam os habitantes em suas casas ou trabalhando em suas atividades rotineiras, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja.
Naqueles piedosos tempos (estamos falando de um tempo não muito distante) onde os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente o som dos finados, e isso, sim, era surpreendente, pois aparentemente não havia ninguém da cidadezinha que se encontrasse em vias de... Saíram, portanto, as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os seus afazeres, e em pouco tempo estavam todos reunidos na porta da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar.
O sino ainda tocou por alguns minutos mais, e finalmente calou-se. Instantes depois a porta da igreja se abriu e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o homem que normalmente tocava o sino, o sineiro, e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas quem morreu?", tornaram os vizinhos a perguntar, e o home respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que aconteceu?
Aconteceu que um ganancioso senhor do lugar (algum senhor do grupo do G8, G5... não sei ao certo) andava já faz um tempo mudando as cercas que demarcavam as terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do filho da terra, que se tornava, a terra, mais e mais reduzida a cada avançada da cerca.
O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu se queixar às autoridades, mas que autoridades?, e pedir proteção da justiça. Mas tudo sem resultado, a espoliação continuou.
Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma cidadezinha tem o exato tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem exceção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido...
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