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Palavra do leitor

Francis August Schaeffer (1912 – 1984)

Como é que eu sei que é verdade o que eu creio, e como posso saber que sei que é verdade? Quem viveu a década de 60 sabe do que estou falando, foi ele um dos maiores apologistas Evangélicos. Seu herdeiro filial é L’Abri e seus filhos, nenhum deles bastardo, duplicam mundo afora seu DNA.

Uma das marcas de Schaeffer era expor a irracionalidade e contracultura da época. Schaeffer se foi e o desespero continua; claro, nunca disse que propunha soluções para tudo; nunca foi um pensador de primeira linha; não é citado em notas de rodapé na academia.

Seus herdeiros espremem-no para ver se conseguem fazer dele o que nunca desejou ser. Nem como pessoa. Guilherme de Carvalho me dá a impressão de fazer isso.

Ouvi Schaeffer uma única vez quando morava nos Estados Unidos. Ouvi-lo pessoalmente guarda a mesma proporção de grandeza em seus livros. Ele e Edith. Tinham enorme capacidade de traduzir conceitos complicados em linguagem acessível.

Escreveu com coerência, paixão, sobretudo zelo missionário, experiência pessoal e profundo interesse em apologética, de tal forma que L´Abri permanece até hoje como expressão disso.

Francis era um ‘pressuposicionalista’, mas no sentido de um Arquimedes de Siracusa: formação evangélica sólida (filosófica, não) dando-se-lhe um ponto, ele moveria a terra. A esposa fez-lhe dobradinha.

Ambos sustentaram a impossibilidade de se manter coerência filosófica (e teológica), quando se perde o fundamento. Novidade isso? Sistema nenhum se sustenta. E foi com esse tipo de bordão ‘pressuposicionalista’ que navegou brilhantemente em seus escritos pela música, artes, filosofia e teologia.

Passear pelo Louvre com ele a tiracolo faz enorme sentido. Visitar Auschwitz com suas interpretações da história pode fazer sentido para muitos.

Ideias têm consequências (Schaeffer)? Tem. Ricardo Gondim, reverberando muito de noções ‘anti-teísticas’ (no sentido empregado pelos tradicionalistas e ortodoxos contra ele) pede trégua (AQUI). A coisa está barra pesada por lá.

Imaginando se Gondim fosse o Boff entre os Evangélicos ‘liberais’, mutatis mutandis, Schaeffer seria o Dooyeweerd para os ‘ortodoxos’ (brasileiros), com o critério 'abaixo da linha do equador'.

Schaeffer, porém, não ‘salvaria’ nem Gondim nem Boff. Schaeffer nunca foi especialista em filosofia nem teologia. Foi homem de seu tempo e no contexto americano da época.

Foi um "prático" em filosofia e teologia até o ponto em que as duas áreas conduzissem o ouvinte a Cristo. Seu conhecimento em ambas tinha em vista revelar possíveis erros filosóficos que errassem o alvo, Cristo.

É por essa razão que a combinação Schaeffer-Dooyeweerd no blog aqui do Guilherme de Carvalho soma em alguns pontos: soma para a CAUSA, dele, Carvalho.

O holandês é herdeiro da mais fina cepa de uma tradição de oito séculos de pensar (filosofia/teologia) na Europa continental com ênfase, no caso de Dooyeweerd, na tradição Reformada (com “R”), sobretudo em um momento político e institucional único na Holanda que nunca mais se repetiu em lugar algum no mundo!

Schaeffer foi um Americano que brilhou, apontando os resultados trágicos da década de 60. Carvalho tenta ‘adaptá-los’. Dooyeweerd é seminal, Schaeffer não. Carvalho ‘constrói’ um ‘Frankenstein’.

Entender Dooyeweerd exige uma geração de estudos teológicos, filosóficos e humanísticos. Quem não dominar línguas e teologia europeia, pode esquecer. Para apreciar Schaeffer, basta um bom estágio em um dos centros L’Abri.

Por Reformada (“R”) em Dooyeweerd não me refiro à contrafação teológica ‘reformada’ na teologia da IPB, via Mackenzie. Lá a Reforma é herdeira do ‘bible belt’ americano.

Faço um "casamento" aqui para entender as razões pelas quais nós, brasileiros, sempre "olhamos para fora", como diz Roberto Mangabeira Unger (AQUI).

"Casamento" no sentido de imitar tentativas, que os alemães chamam de "Weltanschung" (como se olhássemos de uma nave espacial para terra azul), como se fosse a ideia alemã para nós aqui uma ferramenta teológica. Exemplifico.

Todas as vezes que expressões como "teologia latino-americana" aparecem, o apelo é para algo unificador, "latino". Ao final, o resultado é um unicórnio e o consequente desperdício de ideias, tempo e recursos.

Carvalho tenta outra saída: junta dois homens brilhantes em um "experimento" (teológico) que vivifique a herança reformada (sem o “R”), ainda que superior à IPB, mas abaixo da linha do equador. Falta-lhe percepção acadêmica.

Os tempos, porém, mudaram. A roda da história não volta.

A menos que Schaeffer e Dooyeweerd deixem de ser "fotocopiados" no sentido de se buscar neles receita de "bolo teológico em país tropical", continuar-se-á engolir palavras complicadas, canhões de neologismos, textos longos e inconsequentes como nos textos escolásticos do Carvalho, mais para provocar destravo de ideias mal geridas na forma de supositórios textuais.
P - RN
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