Palavra do leitor
- 13 de novembro de 2014
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Formas de Promoção Humana: Promover pela Assistência
Há diversas formas de promover o desenvolvimento, crescimento, amadurecimento e empoderamento dos seres humanos. Nestas próximas semanas vamos apresentar algumas delas, com suas virtudes e defeitos.
A forma mais antiga e com maior presença na tradição cristã é a promoção do necessitado através da assistência. Ou seja, há um necessitado e um compadecido.
O primeiro é o indigente, o abandonado, o desprezado, o desempregado, o doente, o faminto.
O compadecido entende que promover o necessitado é providenciar recursos financeiros, materiais, sociais e culturais: saúde, abrigo, socorro, alimento, vestuário, habitação, infraestrutura, serviços, consolo. No meio evangélico, o texto do grande julgamento (Mt 25) é um fortalecedor desta visão de promoção humana.
A atuação assistencialista habitualmente ocorre através de uma instituição que trabalha a partir de objetivos explícitos ou implícitos que norteiam a captação e o uso dos recursos. Objetivos e recursos são tão interligados que um influencia o outro. A instituição é a controladora dos recursos, determinando onde e como serão empregados. A instituição também é que escolhe os valores que nortearão a percepção da necessidade.
"Os compadecidos socorrem os necessitados por sentimentos de caridade, de humanismo, de obrigação religiosa, de mitigar sua omissão diante das disparidades sociais etc. Eles dão testemunho de sua fé pelo amor ao próximo, simbolizado pela mão estendida em ajuda ao necessitado...A prática da promoção humana assistencialista reforça os laços que unem a humanidade e ressalta o dever cristão de ser um bom samaritano."
O relacionamento entre o necessitado e o compadecido é unidirecional; o necessitado recebe em função do ter. Aquele que tem, ou controla os meios de ter, dá aquilo que lhe sobra.
Ao lado das virtudes (universalidade de cuidado, real auxílio em situações limites, redução da fome, da miséria, do índice de violência e suicídio, por exemplo) há vícios que não podem ser ignorados.
As estruturas que geram solidão, doença, fome, desemprego, abandono não são enfrentadas. Racionalmente apela-se a Jo 12.8 ("os pobres sempre tereis convosco") para justificar o não enfrentamento destas estruturas.
O compadecido não corre riscos, pode aliviar o sofrimento alheio sossegadamente, e sem aprofundar o diálogo. E ele não é o necessitado, não vivenciou sua história - por mais que ame o necessitado, o compadecido não é um deles, é um estranho!
Racionalmente o compadecido organiza seu pensamento dentro da "certeza" de que a sociedade está no caminho certo, que o desenvolvimento social e econômico reverterá, a longo prazo, as situações que dão à luz o necessitado. É estranho ao evangélico este pensamento, que não se harmoniza com a visão pessimista que as Escrituras têm da sociedade humana corrompida e pecadora...
O poema de Carlos Drummond de Andrade faz pensar:
"A suntuosa Brasília, a esquálida Ceilândia contemplam-se. Qual delas falará primeiro? Que tem a dizer ou a esconder uma em face da outra? Que mágoas, que ressentimentos prestes a saltar da goela coletiva e não se exprimem? Por que Ceilândia fere o majestoso orgulho da flórea capital? Por que Brasília resplandece ante a pobreza exposta dos barracos de Ceilândia, em silêncio, as gêmeas criações do bom brasileiro?"
do livro "Promoção humana - princípios e práticas numa perspectiva cristã", de Frances O'Gorman, Edições Paulinas.
publicado originalmente em http://sadorcas.blogspot.com.br/
A forma mais antiga e com maior presença na tradição cristã é a promoção do necessitado através da assistência. Ou seja, há um necessitado e um compadecido.
O primeiro é o indigente, o abandonado, o desprezado, o desempregado, o doente, o faminto.
O compadecido entende que promover o necessitado é providenciar recursos financeiros, materiais, sociais e culturais: saúde, abrigo, socorro, alimento, vestuário, habitação, infraestrutura, serviços, consolo. No meio evangélico, o texto do grande julgamento (Mt 25) é um fortalecedor desta visão de promoção humana.
A atuação assistencialista habitualmente ocorre através de uma instituição que trabalha a partir de objetivos explícitos ou implícitos que norteiam a captação e o uso dos recursos. Objetivos e recursos são tão interligados que um influencia o outro. A instituição é a controladora dos recursos, determinando onde e como serão empregados. A instituição também é que escolhe os valores que nortearão a percepção da necessidade.
"Os compadecidos socorrem os necessitados por sentimentos de caridade, de humanismo, de obrigação religiosa, de mitigar sua omissão diante das disparidades sociais etc. Eles dão testemunho de sua fé pelo amor ao próximo, simbolizado pela mão estendida em ajuda ao necessitado...A prática da promoção humana assistencialista reforça os laços que unem a humanidade e ressalta o dever cristão de ser um bom samaritano."
O relacionamento entre o necessitado e o compadecido é unidirecional; o necessitado recebe em função do ter. Aquele que tem, ou controla os meios de ter, dá aquilo que lhe sobra.
Ao lado das virtudes (universalidade de cuidado, real auxílio em situações limites, redução da fome, da miséria, do índice de violência e suicídio, por exemplo) há vícios que não podem ser ignorados.
As estruturas que geram solidão, doença, fome, desemprego, abandono não são enfrentadas. Racionalmente apela-se a Jo 12.8 ("os pobres sempre tereis convosco") para justificar o não enfrentamento destas estruturas.
O compadecido não corre riscos, pode aliviar o sofrimento alheio sossegadamente, e sem aprofundar o diálogo. E ele não é o necessitado, não vivenciou sua história - por mais que ame o necessitado, o compadecido não é um deles, é um estranho!
Racionalmente o compadecido organiza seu pensamento dentro da "certeza" de que a sociedade está no caminho certo, que o desenvolvimento social e econômico reverterá, a longo prazo, as situações que dão à luz o necessitado. É estranho ao evangélico este pensamento, que não se harmoniza com a visão pessimista que as Escrituras têm da sociedade humana corrompida e pecadora...
O poema de Carlos Drummond de Andrade faz pensar:
"A suntuosa Brasília, a esquálida Ceilândia contemplam-se. Qual delas falará primeiro? Que tem a dizer ou a esconder uma em face da outra? Que mágoas, que ressentimentos prestes a saltar da goela coletiva e não se exprimem? Por que Ceilândia fere o majestoso orgulho da flórea capital? Por que Brasília resplandece ante a pobreza exposta dos barracos de Ceilândia, em silêncio, as gêmeas criações do bom brasileiro?"
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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