Palavra do leitor
- 14 de fevereiro de 2008
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Fé, expressão e cultura
A nação brasileira é uma nação mestiça e sincrética em suas práticas religiosas, uma nação presenteada com uma rica flora e fauna, uma nação multicor. Uma nação que possui um pouco de cada uma das civilizações que por aqui chegaram, como diz Gilberto Freyre, "todo brasileiro, mesmo o mais claro e louro, traz consigo, em sua alma, quando não no corpo também (…) a sombra, ou ao menos a marca de nascença do índio ou do negro" (FREYRE, apud: HAHN, 1989, p.53).
Os negros foram transportados da África para o Brasil em porões de navios. Eles eram amontoados, mal-alimentados, sofriam castigos e eram mantidos em completa promiscuidade. Muitos morriam na viagem, somente os mais fortes conseguiam chegar em terras brasileiras; a força deles foram o preço de sua escravidão.
Os escravos assistiram à chegada dos primeiros protestantes, viram suas crenças, costumes e fé, contudo os primeiros protestantes que aqui chegaram viam o negro apenas como uma indispensável força de trabalho, barata e muito rentável.
Apesar da riqueza que a religião de origem africana possui, ela nunca conseguiu influenciar a religiosidade protestante que se instalou no Brasil, de traços europeu e norte-americano.
Até os dias de hoje, muitas igrejas protestantes conhecidas como históricas, não permitem que em seus cultos sejam utilizados instrumentos musicais ou ritmos que não sejam os trazidos pela tradição européia e norte-americana. O som do piano e do órgão é a música considerada a mais apreciada por Deus. Os ritmos, os sons de atabaques, tambores, chocalhos, são elementos profanos e pecaminosos, por originarem-se da cultura, e serem usados nos cultos afros, considerados inferiores e demoníacos. Esta visão tem suas raízes ideológicas na idéia de branqueamento que associava o negro a tudo o que é mau, feio e ruim, e o branco ao bom, bonito e perfeito.
Até mesmo a igreja pentecostal, de origem negra, não valorizou a beleza da cultura afro-brasileira, pois a sua mentalidade será a mesma das igrejas históricas: a de igreja estrangeira. Desta forma, além de ter aversão a tudo que é católico, vai também ojerizar todas as manifestações culturais brasileiras, indígenas e negras que vão ser confundidas com as manifestações católicas, logo consideradas ímpias, mundanas, diabólicas.
Este conservadorismo exacerbado se estendeu por décadas e influenciou significativamente na formação de gerações completamente alienadas da arte e da cultura, de maneira geral, causando danos incalculáveis a cultura afro-descendente, que sofreu um processo de aculturação dentro dessas denominações, resultando em desvalorização, descaracterização e perca de identidade da cultura negra nas igrejas históricas e pentecostais.
As igrejas de tradição protestante evangélica, tanto históricos, como pentecostais, contribuíram para que a situação de discriminação e marginalização dos negros no Brasil fossem por tanto tempo perpetuadas. Esta é uma dívida que temos que tentar contornar. Daí a idéia de uma liturgia de afirmação às raízes étnicas e culturais afro-descendentes, com o intuito de fazer valer o respeito cultural tão fundamental para a construção de uma sociedade igualitária, livre e democrática.
As Políticas de Ações Afirmativas possui o objetivo de reparar ou minimizar os danos historicamente causados aos afro-descendentes brasileiro, compensando-os no presente, pelos obstáculos que seus membros enfrentam, por motivo da discriminação e marginalização a que esses foram submetidos no passado.
Uma liturgia para o negro é proporcionar um espaço de integração, reconciliação e harmonização, como acontece no terreiro de culto africano, espaço por excelência onde todas as pessoas, homens e mulheres, brancos, negros e amarelos, meninos e velhos, se reúnem em contato direto com a natureza, reconciliando-se com o Criador. São celebrações espontâneas, que foge da rigidez e simetria dos cultos tradicionais; não são livrescas, mas oral, sem explicações excessivas; ao som do atabaque, que para cultura negra é um instrumento sagrado, e muita dança.
Propomos uma Liturgia negra que vá além do instrumental–o que seria simples expressão folclórica–que assuma de fato os elementos culturais negros, alicerçada na vitória de Cristo, antecipando as alegrias da libertação.
Precisamos, urgentemente, de uma leitura bíblica que desenvolva a cidadania à cultura negra afro-descendente. Para isso, devemos eliminar de uma vez por todas qualquer leitura que condene à população negra a escravidão e fazer uma leitura bíblica que afirme a igualdade de todas as raças e etnias, logo, contra a escravidão de qualquer indivíduo ou grupo étnico.
Este é o momento do negro descobrir e assumir sua negritude e assim, possuir uma nova postura diante de si, da vida e da sociedade refletindo numa fé, revolucionária e transformadora. Possuindo uma releitura bíblica, que percebe a proposta de Deus para a humanidade, onde os negros estão incluídos, poderemos ver Deus, no rosto negro cheio de esperança, esperança de libertação.
Os negros foram transportados da África para o Brasil em porões de navios. Eles eram amontoados, mal-alimentados, sofriam castigos e eram mantidos em completa promiscuidade. Muitos morriam na viagem, somente os mais fortes conseguiam chegar em terras brasileiras; a força deles foram o preço de sua escravidão.
Os escravos assistiram à chegada dos primeiros protestantes, viram suas crenças, costumes e fé, contudo os primeiros protestantes que aqui chegaram viam o negro apenas como uma indispensável força de trabalho, barata e muito rentável.
Apesar da riqueza que a religião de origem africana possui, ela nunca conseguiu influenciar a religiosidade protestante que se instalou no Brasil, de traços europeu e norte-americano.
Até os dias de hoje, muitas igrejas protestantes conhecidas como históricas, não permitem que em seus cultos sejam utilizados instrumentos musicais ou ritmos que não sejam os trazidos pela tradição européia e norte-americana. O som do piano e do órgão é a música considerada a mais apreciada por Deus. Os ritmos, os sons de atabaques, tambores, chocalhos, são elementos profanos e pecaminosos, por originarem-se da cultura, e serem usados nos cultos afros, considerados inferiores e demoníacos. Esta visão tem suas raízes ideológicas na idéia de branqueamento que associava o negro a tudo o que é mau, feio e ruim, e o branco ao bom, bonito e perfeito.
Até mesmo a igreja pentecostal, de origem negra, não valorizou a beleza da cultura afro-brasileira, pois a sua mentalidade será a mesma das igrejas históricas: a de igreja estrangeira. Desta forma, além de ter aversão a tudo que é católico, vai também ojerizar todas as manifestações culturais brasileiras, indígenas e negras que vão ser confundidas com as manifestações católicas, logo consideradas ímpias, mundanas, diabólicas.
Este conservadorismo exacerbado se estendeu por décadas e influenciou significativamente na formação de gerações completamente alienadas da arte e da cultura, de maneira geral, causando danos incalculáveis a cultura afro-descendente, que sofreu um processo de aculturação dentro dessas denominações, resultando em desvalorização, descaracterização e perca de identidade da cultura negra nas igrejas históricas e pentecostais.
As igrejas de tradição protestante evangélica, tanto históricos, como pentecostais, contribuíram para que a situação de discriminação e marginalização dos negros no Brasil fossem por tanto tempo perpetuadas. Esta é uma dívida que temos que tentar contornar. Daí a idéia de uma liturgia de afirmação às raízes étnicas e culturais afro-descendentes, com o intuito de fazer valer o respeito cultural tão fundamental para a construção de uma sociedade igualitária, livre e democrática.
As Políticas de Ações Afirmativas possui o objetivo de reparar ou minimizar os danos historicamente causados aos afro-descendentes brasileiro, compensando-os no presente, pelos obstáculos que seus membros enfrentam, por motivo da discriminação e marginalização a que esses foram submetidos no passado.
Uma liturgia para o negro é proporcionar um espaço de integração, reconciliação e harmonização, como acontece no terreiro de culto africano, espaço por excelência onde todas as pessoas, homens e mulheres, brancos, negros e amarelos, meninos e velhos, se reúnem em contato direto com a natureza, reconciliando-se com o Criador. São celebrações espontâneas, que foge da rigidez e simetria dos cultos tradicionais; não são livrescas, mas oral, sem explicações excessivas; ao som do atabaque, que para cultura negra é um instrumento sagrado, e muita dança.
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Precisamos, urgentemente, de uma leitura bíblica que desenvolva a cidadania à cultura negra afro-descendente. Para isso, devemos eliminar de uma vez por todas qualquer leitura que condene à população negra a escravidão e fazer uma leitura bíblica que afirme a igualdade de todas as raças e etnias, logo, contra a escravidão de qualquer indivíduo ou grupo étnico.
Este é o momento do negro descobrir e assumir sua negritude e assim, possuir uma nova postura diante de si, da vida e da sociedade refletindo numa fé, revolucionária e transformadora. Possuindo uma releitura bíblica, que percebe a proposta de Deus para a humanidade, onde os negros estão incluídos, poderemos ver Deus, no rosto negro cheio de esperança, esperança de libertação.
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