Palavra do leitor
- 19 de julho de 2016
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Eu Amo Gente - IV
A pergunta angustiada de Pedro “exige” uma resposta à altura, “quantas vezes devo perdoar o irmão que me faz sofrer?”, ou quantas vezes deverei eu amar alguém igual e novamente, mesmo sem garantia alguma de que agora dará certo, que dessa vez será diferente, prazeroso? O apóstolo e pescador é um homem com agonia na alma, certamente necessita respostas para sua vida poder seguir, está entre se vingar e sentir aquele aparente e momentâneo prazer que a vingança proporciona ao nosso ego ou coração, ou aprender dolorosamente, que perdoar e esquecer e amar outra e mais outras vezes, na companhia do Cristo de Deus, é regra.
Eu amo gente, isso me move, me define, continuadamente, diariamente e igualmente eu amo pessoas, mesmo sem garantia alguma de sucesso nesses relacionamentos; minha filha caçula presenciou uma cena terrível, a recaída de um ex-morador de rua à quem acolhemos na Missão Vida e nas nossas vidas e o amamos, dele cuidamos e tivemos doces esperanças acerca do futuro do moço, simpático e falante; atordoada e triste ela me pergunta como alguém que ainda outro dia escolheu vencer e ser feliz, hoje escolhe diferente, escolhe voltar à dor que já conhece tão bem, escolhe deliberadamente fracassar e perder meses de planos e risos e sonhos.
Não tenho resposta que agrade ou satisfaça a cabecinha inquieta e fervilhante da Rebecca Magno, eu nem tento, pois preciso acordar todos os dias com o firme propósito de não me esquecer das escolhas que fiz e pelas quais e para as quais vivo arduamente, para também não desistir de vez em quando; e sigo, amando gente que muitas vezes nem serem amadas querem mais.
O Rev. Wildo, que ama mais e infinitamente melhor que eu, repete muitas vezes que essas pessoas necessitarão serem amadas várias vezes até que esse amor faça efeito na história delas, que teremos de receber essas pessoas mais outra e mais outras vezes com o mesmo ânimo e desprendimento e zelo, pois quem se gasta e se deixa gastar recuperando mendigos se assemelha ao que cata conchas à beira mar, são todas diferentes e todas valorosas, para quem cata; eu sigo de cá, imitando toscamente o “amar gente” que vejo no pastor e tropeçando em gente que sem aparente razão desiste da cama limpa, do banho quente, da alimentação e do ambiente dignos e volta à mendicância, volta à solidão e à escuridão das ruas, e depois de todos esses muitos anos ainda sinto a mesma e muita dor de ver a desistência estampada no olhar de um interno que necessitará ser amado mais algumas vezes.
Agora a Elê se junta a essa minha teimosia em amar sem garantias, como se garantias houvesse nesse negócio de amar gente; na Missão Vida se aprende desde cedo o amor por gente sem amor algum, nem próprio nem por outros, gente com histórias ruins de perdas e ruínas, de abandono, de desamores.
Pastor Arnaldo, sempre generoso, certa vez disse que desconhece alguém que limpe e trate uma ferida feia no corpo de um mendigo com a paciência e cuidado com que eu faço isso, eu do meu lado só posso dizer “ao homem a quem é tão difícil desobedecer”, que limpar e tratar feridas feias e mal cheirosas foi meu jeito de aprender amar gente e me parecer com Jesus, amar sem reservas e sem esperar resultados, mesmo torcendo e trabalhando duramente para ver se alguns desses internos que acolhemos se tornam boas histórias de serem contadas.
Pedro recebeu sua resposta e prosseguiu, fez diferença na sua vida e história; eu continuo sem respostas pra Rebecca, pelo menos continuo sem uma resposta que responda plenamente à pergunta triste e indignada de uma adolescente que teima em ser gente grande e amar gente; eu vou seguir imitando quem ama a mais tempo que eu, seguir amando e esperando que, ao me ver amar muito e mais uma vez, ela possa dizer: é, eu amo gente, sempre.
Alexandre Magno Aquino Duarte - Diretor da Missão Vida do Paraná.
Eu amo gente, isso me move, me define, continuadamente, diariamente e igualmente eu amo pessoas, mesmo sem garantia alguma de sucesso nesses relacionamentos; minha filha caçula presenciou uma cena terrível, a recaída de um ex-morador de rua à quem acolhemos na Missão Vida e nas nossas vidas e o amamos, dele cuidamos e tivemos doces esperanças acerca do futuro do moço, simpático e falante; atordoada e triste ela me pergunta como alguém que ainda outro dia escolheu vencer e ser feliz, hoje escolhe diferente, escolhe voltar à dor que já conhece tão bem, escolhe deliberadamente fracassar e perder meses de planos e risos e sonhos.
Não tenho resposta que agrade ou satisfaça a cabecinha inquieta e fervilhante da Rebecca Magno, eu nem tento, pois preciso acordar todos os dias com o firme propósito de não me esquecer das escolhas que fiz e pelas quais e para as quais vivo arduamente, para também não desistir de vez em quando; e sigo, amando gente que muitas vezes nem serem amadas querem mais.
O Rev. Wildo, que ama mais e infinitamente melhor que eu, repete muitas vezes que essas pessoas necessitarão serem amadas várias vezes até que esse amor faça efeito na história delas, que teremos de receber essas pessoas mais outra e mais outras vezes com o mesmo ânimo e desprendimento e zelo, pois quem se gasta e se deixa gastar recuperando mendigos se assemelha ao que cata conchas à beira mar, são todas diferentes e todas valorosas, para quem cata; eu sigo de cá, imitando toscamente o “amar gente” que vejo no pastor e tropeçando em gente que sem aparente razão desiste da cama limpa, do banho quente, da alimentação e do ambiente dignos e volta à mendicância, volta à solidão e à escuridão das ruas, e depois de todos esses muitos anos ainda sinto a mesma e muita dor de ver a desistência estampada no olhar de um interno que necessitará ser amado mais algumas vezes.
Agora a Elê se junta a essa minha teimosia em amar sem garantias, como se garantias houvesse nesse negócio de amar gente; na Missão Vida se aprende desde cedo o amor por gente sem amor algum, nem próprio nem por outros, gente com histórias ruins de perdas e ruínas, de abandono, de desamores.
Pastor Arnaldo, sempre generoso, certa vez disse que desconhece alguém que limpe e trate uma ferida feia no corpo de um mendigo com a paciência e cuidado com que eu faço isso, eu do meu lado só posso dizer “ao homem a quem é tão difícil desobedecer”, que limpar e tratar feridas feias e mal cheirosas foi meu jeito de aprender amar gente e me parecer com Jesus, amar sem reservas e sem esperar resultados, mesmo torcendo e trabalhando duramente para ver se alguns desses internos que acolhemos se tornam boas histórias de serem contadas.
Pedro recebeu sua resposta e prosseguiu, fez diferença na sua vida e história; eu continuo sem respostas pra Rebecca, pelo menos continuo sem uma resposta que responda plenamente à pergunta triste e indignada de uma adolescente que teima em ser gente grande e amar gente; eu vou seguir imitando quem ama a mais tempo que eu, seguir amando e esperando que, ao me ver amar muito e mais uma vez, ela possa dizer: é, eu amo gente, sempre.
Alexandre Magno Aquino Duarte - Diretor da Missão Vida do Paraná.
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