Palavra do leitor
- 22 de dezembro de 2009
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Eternos incômodos
Vivemos uma vida buscando saciar nossos incômodos. Incômodos relativos ao nosso corpo, à nossa imagem, aos nossos relacionamentos, enfim, ao nosso estilo de vida. Buscamos subterfúgios para estes incômodos criando quinquilharias tecnológicas que mais funcionam como muletas emocionais.
Se sofríamos com as distâncias, desenvolvemos automóveis, aviões, navios. Para que a distância fosse vencida de forma mais imediata, surgiram o telefone, a televisão, o rádio e mais recentemente a internet, o celular, os smartphones... e assim vamos vencendo nossos incômodos.
Não são somente quinquilharias que criamos, mas nossa inteligência nos deu a capacidade de vencer alguns males. Doenças outrora fatais hoje são simples "incômodos". Equipamentos detectam tumores, infecções, vírus e assim conseguimos combatê-los com maior eficiência. O que matava em horas hoje é resolvido com uma simples vacina, um comprimido, uma droga.
Mas, maldição das maldições, o que criamos se volta contra nós. As invenções tecnológicas que nos dariam mais tempo para gozar a vida, hoje servem para nos escravizar. Se hoje fazemos mais atividades em menos tempo isso não significa que teremos mais tempo para gozar a vida mas sim, mais tempo para fazer mais atividades e assim talvez chegar ao final do dia com a frágil e efêmera sensação de que somos seres produtivos.
No entanto, ao chegar ao final do dia em uma reflexão mais cuidadosa e profunda, nosso sentimento é regularmente de impotência. Se fomos pais mais presentes, amigos mais próximos, talvez nossos insucessos profissionais nos sufoquem. Se dedicamos mais tempo ao trabalho, vazios emocionais começam a surgir na ausência de outros relacionamentos que não profissionais. Se atendemos aos apelos do deus mercado, vemos nossos dias se esvaindo na sucessão de horas dedicadas à produção de riquezas. Vivemos o dilema dos habitantes do inferno de Dante que ora se mantém sufocados sob o lago de fogo e enxofre e ora emergem para o imprescindível fôlego tendo seus corpos dilacerados por bestas feras à espreita de suas vítimas.
Vivemos em uma sofreguidão constante, uma fome insaciável, por preencher este vazio com mais e mais coisas, com a falsa crença de que felicidade está disponível em alguma gôndola ou prateleira. É a solução simples e rápida que encontramos em relacionamentos superficiais, ralos, efêmeros, na religião pobre, nas convicções frágeis, no consumo exacerbado, no sucesso e na fama. Somos a geração que quer respostas rápidas, ainda que não sejam as melhores. É a fórmula da felicidade vendida em qualquer esquina, por curandeiros, ilusionistas, os líderes de nosso tempo.
No entanto, a frustração bate à porta quando descobrimos dia após dia, que o vazio somos nós mesmos. Vivemos assim buscando coisas e, no meio desta busca descobrimos que perdemos o que de mais valioso tínhamos no início da jornada: perdemos a nós mesmos, e tão longa foi a caminhada até aqui que já não sabemos onde voltar.
marcospaulosabia@bolgspot.com
Se sofríamos com as distâncias, desenvolvemos automóveis, aviões, navios. Para que a distância fosse vencida de forma mais imediata, surgiram o telefone, a televisão, o rádio e mais recentemente a internet, o celular, os smartphones... e assim vamos vencendo nossos incômodos.
Não são somente quinquilharias que criamos, mas nossa inteligência nos deu a capacidade de vencer alguns males. Doenças outrora fatais hoje são simples "incômodos". Equipamentos detectam tumores, infecções, vírus e assim conseguimos combatê-los com maior eficiência. O que matava em horas hoje é resolvido com uma simples vacina, um comprimido, uma droga.
Mas, maldição das maldições, o que criamos se volta contra nós. As invenções tecnológicas que nos dariam mais tempo para gozar a vida, hoje servem para nos escravizar. Se hoje fazemos mais atividades em menos tempo isso não significa que teremos mais tempo para gozar a vida mas sim, mais tempo para fazer mais atividades e assim talvez chegar ao final do dia com a frágil e efêmera sensação de que somos seres produtivos.
No entanto, ao chegar ao final do dia em uma reflexão mais cuidadosa e profunda, nosso sentimento é regularmente de impotência. Se fomos pais mais presentes, amigos mais próximos, talvez nossos insucessos profissionais nos sufoquem. Se dedicamos mais tempo ao trabalho, vazios emocionais começam a surgir na ausência de outros relacionamentos que não profissionais. Se atendemos aos apelos do deus mercado, vemos nossos dias se esvaindo na sucessão de horas dedicadas à produção de riquezas. Vivemos o dilema dos habitantes do inferno de Dante que ora se mantém sufocados sob o lago de fogo e enxofre e ora emergem para o imprescindível fôlego tendo seus corpos dilacerados por bestas feras à espreita de suas vítimas.
Vivemos em uma sofreguidão constante, uma fome insaciável, por preencher este vazio com mais e mais coisas, com a falsa crença de que felicidade está disponível em alguma gôndola ou prateleira. É a solução simples e rápida que encontramos em relacionamentos superficiais, ralos, efêmeros, na religião pobre, nas convicções frágeis, no consumo exacerbado, no sucesso e na fama. Somos a geração que quer respostas rápidas, ainda que não sejam as melhores. É a fórmula da felicidade vendida em qualquer esquina, por curandeiros, ilusionistas, os líderes de nosso tempo.
No entanto, a frustração bate à porta quando descobrimos dia após dia, que o vazio somos nós mesmos. Vivemos assim buscando coisas e, no meio desta busca descobrimos que perdemos o que de mais valioso tínhamos no início da jornada: perdemos a nós mesmos, e tão longa foi a caminhada até aqui que já não sabemos onde voltar.
marcospaulosabia@bolgspot.com
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