Palavra do leitor
- 04 de setembro de 2012
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Está Servido?
Dâmares adora ‘bolo de laranja’ saído do forno e comido na hora com um copo de ‘leite bem gelado’ que tira de sua vaquinha, a Mimosa.
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Enquanto o ubre generoso da Mimosa enchia o vasilhame, Dâmaris recitava o Salmo 8, segundo ela, exemplo de Fé [maiúsculo] do Velho para o Novo Testamento. “Pare de me ouvir agora”, disse-me, e “vá lê-lo”. Esperou-me. “Pronto? Abra de novo a bíblia e leia Atos 25: 6-12 e 26:1-32.” Mimosa parecia entender tudo.
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“Agora Atos 17:22-34 e leia o CREDO APOSTÓLICO. Se não ler tudo e nessa ordem, é melhor nem continuar”, insistiu. “Por fim mantenha o texto de Paulo em Atos 17:22-34 aberto”. Obedeci mais uma vez.
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Duas pessoas, Dionísio e Dâmares, naquele longínquo século I da era Cristã acharam que Paulo estava certo e resolvi entrevista-los numa viagem pelo túnel do tempo.
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Dionísio é inteligente, acha que a melhor maneira de entender a fé que abraçou é pensa-la como refutação racional contra os que não creem e o faz provando sua tese de que Fé que é melhor quanto mais articulada for.
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Posso ser contra por não crer igual a Paulo, perguntei. “Pode e deve”, disse-me. “Contra deístas que afirmam existir uma divindade ‘aí em cima’, mas nada de Deus pessoal. Sou contra, debato e ganho todas!”.
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Aliás, Dionísio acha mesmo que os ‘atributos’ de Deus podem ser ‘deduzidos’ da própria natureza. Dâmares é contra.
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“Imagine andando aqui por uma de nossas praias e subitamente voce vê um relógio. Voce há de convir comigo que deve ter existido alguém que criou aquilo!”.
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Faz sentido, pensei comigo mesmo. Mas sem ofender a Dionísio, “vai que em vez de ‘um’ criador do relógio fosse uma ‘fábrica’, vários e diversos ‘criadores’!”. É melhor nem testar a inteligência de Dionísio.
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E continuou, “a gente olha para o mundo natural e logo pensa que isso tudo aponta para um criador, não é? E não é complicado mesmo, é só pensar um pouco e dar um passo seguinte e reconhecer que esse criador é Deus. Estou com Paulo e não me abro!”.
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Continuava animado e foi terminar um ‘paper’ a ser entregue ao departamento de apologética da universidade onde lecionava.
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Dâmares é inteligente, mas não tem os diplomas de Dionísio. Órfã, teve que se virar desde cedo e aprendeu a ler na bíblia.
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O que mexeu com voce ao ouvir Paulo naquele dia, perguntei, “entendi o apóstolo porque ele falou em cima do Salmo 8”. Fiquei confuso: o que Paulo e seu sermão tinham a ver com o Salmo 8 ?
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O ubre da Mimosa ainda tinha muito leite...
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“O Dionísio é americano protestante e de pais ingleses. Sou francesa e católica romana. O Dionísio gosta de ‘teologia natural’ dos anglo-saxões. Minha herança, cultura e língua buscam o Velho Testamento. Se voce for à terra do Dionísio voce lerá um montão de escritores que pensam como ele. Na minha tradição, nem esse tipo de gente tem!”.
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Indaguei como seria a sua...
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“Dionísio quer provar e sai medindo tudo! Acha que defender a Fé é construí-la como se fosse um edifício filosófico para as pessoas raciocinarem sobre a irrefutabilidade da existência de Deus e daí aceita-Lo!”.
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E voce, perguntei. “Bem, nós católicos quando ouvimos Paulo, entendemos que aquele Judeu tinha o Velho Testamento de cor e salteado. Por isso eu disse que gostava do Salmo 8. Na época de Paulo não existia nem franceses ou ingleses escritores!”.
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“Quando eu leio o Salmo 8 não penso em ‘construir’ Deus olhando a natureza. Francesa e católica, não faço a defesa da fé pela via de teologia natural. Vai que essa natureza engana, né? Prefiro achar que Deus apenas se manifesta nela, e o firmamento são Suas obras. Isso gera, fé, convicção. Não imagino Deus sendo ‘explicado’. Vibro com Ele nela! É como se a Mimosa não desse um pingo de leite, assim mesmo eu gosto da Mimosa!”.
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O discurso de Paulo não é apologético? “Paulo não foi fazer turismo em Atenas. Viu aquilo tudo e disse, ‘vocês estão errados’, o ‘Deus desconhecido’ chegou a ressuscitar mortos! O Dionísio acha que isso tem que ser fundamentado até com o ‘túmulo vazio’!”.
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“Quando criança a gente tinha que decorar em latim o CREDO APOSTÓLICO e lá fala de ressurreição, não fala de apologética anglo-saxônica como quer o Dionísio!”.
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“O Dionísio complica demais!”; e emendou, “pra mim quando Paulo fez sua defesa perante o Festo ‘festeiro’, o assunto fora ressurreição e outros pontos importantíssimos que estão no Salmo 8 e no discurso dele aqui em Atenas. Tudo isso é importante para mim!”.
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Voce não acha...
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Dâmares me interrompe, “o que eu acho é que Dionísio está querendo explicar a Fé. Tem jeito? Tem não! É pegar ou largar! Eu acho que esse negócio de defender a Fé não precisa ser feito na base daqueles doutores do século XVII até hoje! Tem que começar é com o Salmo 8. Tem até um sábio, William Craig, que anda influenciando o Dionísio, e eu disse ao Dionísio cortar com esse papo, mas ele é teimoso!”.
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“Quer comer um bolo de laranja quentinho com leite geladinho da minha vaquinha Mimosa?”.
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Resolvi encarar: o bolo, o leite (...e a Fé). Pensei em Pascal.
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Enquanto o ubre generoso da Mimosa enchia o vasilhame, Dâmaris recitava o Salmo 8, segundo ela, exemplo de Fé [maiúsculo] do Velho para o Novo Testamento. “Pare de me ouvir agora”, disse-me, e “vá lê-lo”. Esperou-me. “Pronto? Abra de novo a bíblia e leia Atos 25: 6-12 e 26:1-32.” Mimosa parecia entender tudo.
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“Agora Atos 17:22-34 e leia o CREDO APOSTÓLICO. Se não ler tudo e nessa ordem, é melhor nem continuar”, insistiu. “Por fim mantenha o texto de Paulo em Atos 17:22-34 aberto”. Obedeci mais uma vez.
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Duas pessoas, Dionísio e Dâmares, naquele longínquo século I da era Cristã acharam que Paulo estava certo e resolvi entrevista-los numa viagem pelo túnel do tempo.
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Dionísio é inteligente, acha que a melhor maneira de entender a fé que abraçou é pensa-la como refutação racional contra os que não creem e o faz provando sua tese de que Fé que é melhor quanto mais articulada for.
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Posso ser contra por não crer igual a Paulo, perguntei. “Pode e deve”, disse-me. “Contra deístas que afirmam existir uma divindade ‘aí em cima’, mas nada de Deus pessoal. Sou contra, debato e ganho todas!”.
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Aliás, Dionísio acha mesmo que os ‘atributos’ de Deus podem ser ‘deduzidos’ da própria natureza. Dâmares é contra.
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“Imagine andando aqui por uma de nossas praias e subitamente voce vê um relógio. Voce há de convir comigo que deve ter existido alguém que criou aquilo!”.
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Faz sentido, pensei comigo mesmo. Mas sem ofender a Dionísio, “vai que em vez de ‘um’ criador do relógio fosse uma ‘fábrica’, vários e diversos ‘criadores’!”. É melhor nem testar a inteligência de Dionísio.
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E continuou, “a gente olha para o mundo natural e logo pensa que isso tudo aponta para um criador, não é? E não é complicado mesmo, é só pensar um pouco e dar um passo seguinte e reconhecer que esse criador é Deus. Estou com Paulo e não me abro!”.
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Continuava animado e foi terminar um ‘paper’ a ser entregue ao departamento de apologética da universidade onde lecionava.
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Dâmares é inteligente, mas não tem os diplomas de Dionísio. Órfã, teve que se virar desde cedo e aprendeu a ler na bíblia.
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O que mexeu com voce ao ouvir Paulo naquele dia, perguntei, “entendi o apóstolo porque ele falou em cima do Salmo 8”. Fiquei confuso: o que Paulo e seu sermão tinham a ver com o Salmo 8 ?
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O ubre da Mimosa ainda tinha muito leite...
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“O Dionísio é americano protestante e de pais ingleses. Sou francesa e católica romana. O Dionísio gosta de ‘teologia natural’ dos anglo-saxões. Minha herança, cultura e língua buscam o Velho Testamento. Se voce for à terra do Dionísio voce lerá um montão de escritores que pensam como ele. Na minha tradição, nem esse tipo de gente tem!”.
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Indaguei como seria a sua...
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“Dionísio quer provar e sai medindo tudo! Acha que defender a Fé é construí-la como se fosse um edifício filosófico para as pessoas raciocinarem sobre a irrefutabilidade da existência de Deus e daí aceita-Lo!”.
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E voce, perguntei. “Bem, nós católicos quando ouvimos Paulo, entendemos que aquele Judeu tinha o Velho Testamento de cor e salteado. Por isso eu disse que gostava do Salmo 8. Na época de Paulo não existia nem franceses ou ingleses escritores!”.
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“Quando eu leio o Salmo 8 não penso em ‘construir’ Deus olhando a natureza. Francesa e católica, não faço a defesa da fé pela via de teologia natural. Vai que essa natureza engana, né? Prefiro achar que Deus apenas se manifesta nela, e o firmamento são Suas obras. Isso gera, fé, convicção. Não imagino Deus sendo ‘explicado’. Vibro com Ele nela! É como se a Mimosa não desse um pingo de leite, assim mesmo eu gosto da Mimosa!”.
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O discurso de Paulo não é apologético? “Paulo não foi fazer turismo em Atenas. Viu aquilo tudo e disse, ‘vocês estão errados’, o ‘Deus desconhecido’ chegou a ressuscitar mortos! O Dionísio acha que isso tem que ser fundamentado até com o ‘túmulo vazio’!”.
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“Quando criança a gente tinha que decorar em latim o CREDO APOSTÓLICO e lá fala de ressurreição, não fala de apologética anglo-saxônica como quer o Dionísio!”.
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“O Dionísio complica demais!”; e emendou, “pra mim quando Paulo fez sua defesa perante o Festo ‘festeiro’, o assunto fora ressurreição e outros pontos importantíssimos que estão no Salmo 8 e no discurso dele aqui em Atenas. Tudo isso é importante para mim!”.
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Voce não acha...
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Dâmares me interrompe, “o que eu acho é que Dionísio está querendo explicar a Fé. Tem jeito? Tem não! É pegar ou largar! Eu acho que esse negócio de defender a Fé não precisa ser feito na base daqueles doutores do século XVII até hoje! Tem que começar é com o Salmo 8. Tem até um sábio, William Craig, que anda influenciando o Dionísio, e eu disse ao Dionísio cortar com esse papo, mas ele é teimoso!”.
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“Quer comer um bolo de laranja quentinho com leite geladinho da minha vaquinha Mimosa?”.
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Resolvi encarar: o bolo, o leite (...e a Fé). Pensei em Pascal.
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