Palavra do leitor
- 22 de abril de 2010
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Está na hora de repensar o testemunho evangélico III
A igreja evangélica cresceu, e cresce, pela evangelização. Esta preocupação, que varia de intensidade entre as diversas denominações e mesmo entre as igrejas locais de uma mesma denominação, é uma das características que a distingue da católica. "É necessário nascer de novo", afirmação de Jesus ao fariseu Nicodemos (Jo 3.7) é a motivação básica e razão da, muitas vezes agressiva, pregação do Evangelho.
Nós, cristãos evangélicos, entendemos que as Escrituras ensinam que não é a mera informação do seu conteúdo, o ensino caprichado das doutrinas ou mesmo a leitura caridosa e atenta delas que fazem de uma pessoa um cristão. Nem mesmo o batismo, seja infantil ou adulto. Mas uma operação efetuada pelo Espírito Santo no interior de cada um, que leva o indivíduo à convicção plena de que a morte de Jesus ocorreu no lugar dele, individualmente; que era ele, indivíduo, que deveria morrer em função dos pecados, mas Jesus o substituiu. A informação do fato, a explicação de toda a história, o embasamento bíblico dos fatos é necessário, mas o assentimento intelectual sozinho não parece ser suficiente, sendo necessária uma radical transformação, na pessoa como um todo.
O temor do inferno, e a certeza do destino dos não-cristãos, é, provavelmente, outro responsável pelo estilo evangelizador.
Contudo, não é o medo do inferno, ou o desejo do céu, a motivação para se tornar um cristão. Como bem citou Peter Rollins em seu interessante e provocador livro "How (not) to speak of God" a única razão válida para tal é uma profunda paixão por Jesus Cristo e Sua mensagem, nada mais - sem expectativa de recompensa, sem medo de castigo.
Ocasionalmente um(a) paciente ou outro(a) queixa de, ao ter buscado o doutor(a) X, teve de ouvir um sermão sobre "como sua vida mudaria se fosse se entregasse a Jesus". Nos dizeres de uma senhora, "eu nem mesmo tive tempo de abrir a boca e falar alguma coisa; ele já foi falando!"
Pode um médico, ou qualquer profissional da área de saúde, usar o espaço do atendimento para evangelização desta natureza? Será isto "testemunhar o evangelho" de modo autêntico?
Acredito que não.
Considero o espaço do meu consultório como "santo". Separado para um auxílio de natureza personalíssima, em que uma pessoa me procurará para obter informação e auxílio sobre sua saúde. Serei remunerado por este auxílio, fonte do meu sustento e de minha família. Esta pessoa me procurará habitualmente em situação de fragilidade, muitas vezes com sofrimento orgânico e psíquico. Confiará em mim, exporá situações de sua vida privada que não me é permitido revelar a ninguém (salvo por estrito dever legal).
Sou apaixonado pela mensagem da cruz. O meu Deus é aquele que se transforma em um igual e vive a vida que eu vivo, incluindo a sua pior faceta (que, espero, jamais viverei). E o faz por amor. Deixa de ser Deus para ser homem e morrer anonimamente uma morte vergonhosa (ao contrário dos quadros, os crucificados eram despidos completamente), dolorosa; no lugar de um ombro amigo e de uma mão segurando a sua no momento final, apenas escárnio da multidão e o acompanhar impotente de poucos amigos e de sua mãe.
Seu amor me obriga a receber o paciente como ele(a) vem, em uma atitude terapêutica em que ouvir primeiro é essencial, saber o que falar, quando falar, porque falar e como falar uma obrigação. Substituir o ato médico executado desta forma por um discurso chavão, pasteurizado, é um insulto ao Seu amor e um testemunho a pessoa que sofre da minha insensibilidade ao seu sofrimento...Nada mais contraditório, nada mais anticristão.
Somente o discurso que nasce da empatia com o(a) outro(a) (e para isto é necessário escutá-lo(a)), honesto, compromissado com seu sofrimento, sem ofertas fáceis e mágicas, compreendendo e aceitando a dureza da vida, e oportuno segundo a necessidade que o(a) leva até o médico será realmente evangelizador, testemunho do amor dEle e da capacidade de transformação (não das circunstâncias da vida, sejam econômicas ou sociais, mas do modo de vida e da capacidade de confessar-se um pecador) do Evangelho. O contrário é um insulto, a ele(a) e ao Evangelho do Senhor.
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Postado também no Crer é Pensar
Nós, cristãos evangélicos, entendemos que as Escrituras ensinam que não é a mera informação do seu conteúdo, o ensino caprichado das doutrinas ou mesmo a leitura caridosa e atenta delas que fazem de uma pessoa um cristão. Nem mesmo o batismo, seja infantil ou adulto. Mas uma operação efetuada pelo Espírito Santo no interior de cada um, que leva o indivíduo à convicção plena de que a morte de Jesus ocorreu no lugar dele, individualmente; que era ele, indivíduo, que deveria morrer em função dos pecados, mas Jesus o substituiu. A informação do fato, a explicação de toda a história, o embasamento bíblico dos fatos é necessário, mas o assentimento intelectual sozinho não parece ser suficiente, sendo necessária uma radical transformação, na pessoa como um todo.
O temor do inferno, e a certeza do destino dos não-cristãos, é, provavelmente, outro responsável pelo estilo evangelizador.
Contudo, não é o medo do inferno, ou o desejo do céu, a motivação para se tornar um cristão. Como bem citou Peter Rollins em seu interessante e provocador livro "How (not) to speak of God" a única razão válida para tal é uma profunda paixão por Jesus Cristo e Sua mensagem, nada mais - sem expectativa de recompensa, sem medo de castigo.
Ocasionalmente um(a) paciente ou outro(a) queixa de, ao ter buscado o doutor(a) X, teve de ouvir um sermão sobre "como sua vida mudaria se fosse se entregasse a Jesus". Nos dizeres de uma senhora, "eu nem mesmo tive tempo de abrir a boca e falar alguma coisa; ele já foi falando!"
Pode um médico, ou qualquer profissional da área de saúde, usar o espaço do atendimento para evangelização desta natureza? Será isto "testemunhar o evangelho" de modo autêntico?
Acredito que não.
Considero o espaço do meu consultório como "santo". Separado para um auxílio de natureza personalíssima, em que uma pessoa me procurará para obter informação e auxílio sobre sua saúde. Serei remunerado por este auxílio, fonte do meu sustento e de minha família. Esta pessoa me procurará habitualmente em situação de fragilidade, muitas vezes com sofrimento orgânico e psíquico. Confiará em mim, exporá situações de sua vida privada que não me é permitido revelar a ninguém (salvo por estrito dever legal).
Sou apaixonado pela mensagem da cruz. O meu Deus é aquele que se transforma em um igual e vive a vida que eu vivo, incluindo a sua pior faceta (que, espero, jamais viverei). E o faz por amor. Deixa de ser Deus para ser homem e morrer anonimamente uma morte vergonhosa (ao contrário dos quadros, os crucificados eram despidos completamente), dolorosa; no lugar de um ombro amigo e de uma mão segurando a sua no momento final, apenas escárnio da multidão e o acompanhar impotente de poucos amigos e de sua mãe.
Seu amor me obriga a receber o paciente como ele(a) vem, em uma atitude terapêutica em que ouvir primeiro é essencial, saber o que falar, quando falar, porque falar e como falar uma obrigação. Substituir o ato médico executado desta forma por um discurso chavão, pasteurizado, é um insulto ao Seu amor e um testemunho a pessoa que sofre da minha insensibilidade ao seu sofrimento...Nada mais contraditório, nada mais anticristão.
Somente o discurso que nasce da empatia com o(a) outro(a) (e para isto é necessário escutá-lo(a)), honesto, compromissado com seu sofrimento, sem ofertas fáceis e mágicas, compreendendo e aceitando a dureza da vida, e oportuno segundo a necessidade que o(a) leva até o médico será realmente evangelizador, testemunho do amor dEle e da capacidade de transformação (não das circunstâncias da vida, sejam econômicas ou sociais, mas do modo de vida e da capacidade de confessar-se um pecador) do Evangelho. O contrário é um insulto, a ele(a) e ao Evangelho do Senhor.
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