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Palavra do leitor

Espelho meu, espelho meu!

Na fábula de Branca de Neve, a personagem da madrasta, no seu ego
inflado pela vaidade, vivia a se perguntar: "Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?" Este é o erro que muitas pessoas cometem: negam a todo custo o que já sabem de si mesmas. A madrasta bem sabia que Branca de Neve, em sua plena adolescência, era bem mais formosa.

No campo da medicina veterinária, ficou comprovada a capacidade de os elefantes se reconhecerem diante de espelhos, baseando-se num trabalho científico realizado por especialistas do zoológico de Nova Iorque, Estados Unidos, onde, por cerca de cinco dias, todas as manhãs, três elefantas -- Happy, Maxine e Patty -- eram colocadas, por uma hora, na frente de um espelho que foi pregado na parede do pátio onde elas vivem. Durante esse tempo, três câmeras filmaram todos os movimentos dos bichos, sendo que uma, posta atrás do espelho, mostrou bem as reações dos paquidermes.

No âmbito humano, a coisa toma uma envergadura mais intimista e realista. Em algumas frases presentes em letras de algumas músicas de autoria de Caetano Veloso, vemos demonstrações de extrema sinceridade acerca do que o cantor/compositor pensa sobre si mesmo. Na música "Vaca Profana", declarou: “Mas eu também sei ser careta, de perto, ninguém é normal”. Na música "Sampa", ele critica os que vivem de uma auto-imagem distorcida, quando assim fez o seguinte verso: "Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto, chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto; é que Narciso acha feio o que não é espelho, e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho."

E nós, o que vemos diante da nossa imagem refletida diante do espelho ?

Nem sempre buscamos o reflexo da nossa imagem em espelhos literais (principalmente aqueles que não se apreciam muito fisicamente, em decorrência das muitas rugas, cabelos brancos ou gorduras localizadas), entretanto, estes espelhos, para muitos, até para compensar a falta de beleza exterior, são representados pelos diplomas, títulos e posses materiais que são utilizados como meio de auto-promoção, o que deveria ser apenas motivo de agradecimento a Jesus Cristo pelas bençãos recebidas. O fato é que deveríamos nos enxergar como realmente somos.

E, se formos sinceros diante de Deus, veremos o quanto carecemos da graça do Senhor para vivermos nesta terra, visto que, mesmo que confessemos Jesus como nosso único e suficiente Senhor e Salvador, ainda continuaremos a pecar em nossa peregrinação em direção ao céu. Esta consciência, quando se fizer verdade a partir do coração,
certamente nos tornará pessoas mais flexíveis com as falhas e deslizes praticados pelos nossos semelhantes. E, desta forma, entenderemos o que é exercitar o segundo maior mandamento ensinado por Jesus: “amar o próximo como a si mesmo”.

Pelo fato de necessitar a cada dia do perdão de Deus para a minha vida, como o negarei ao meu semelhante ? Não seja como a madrasta da Branca de Neve ou como Narciso. Reconheça as suas imperfeições, e evite fazer comparações que possam lhe levar a se achar melhor do que o seu semelhante. Valorize o que há de bom nele. Não se detenha na observação dos defeitos alheios, pois talvez eles sejam idênticos e, ainda que diferentes, menores do que os seus. Seja você, e nada mais.
Recife - PE
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