Escrever é Mais do que Um Desafio

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Escrever é mais do que um desafio. Escrever é se abrir e se permitir ser explorado, contado, catalogado, retratado, criticado, humilhado e, sobretudo, julgado. Eu topei esse desafio e enfrentei todas as condições decorrentes dele. Me abri e me expus, depois alguém tentou me pendurar numa cruz, mas a cruz quebrou, não por causa do meu peso, mas pela sua fragilidade. Rodeei a terra, pesquisei, explorei, entrevistei pessoas das mais diversas castas e índoles, e de posse do meu material decidi publica-lo a conta gotas como pedaços da minha alma, gotas de minhas lágrimas, partículas do meu corpo. Me cansei, parei um pouco e depois recomecei.
Nas minhas andanças vi muitas pessoas e pude perceber as diferenças em costumes e crenças, aptidões, comportamentos e até pensamentos. Em alguns momentos quebrei a cara literalmente, por falta de experiência, por inocência ou por ingenuidade. Mas valeu a pena tanto esforço e tanta loucura. Valeu pelo material colhido, pelos instantes vividos e pela certeza do dever cumprido. É interessante quando conseguimos materializar as ideias, os sonhos, a imaginação e percebemos que é possível colher os frutos e senti-los na mão. Não ficamos apenas na teoria, na ilusão, mas podemos manusear e sentir o fruto do nosso trabalho. Isto é gratificante sob todos os pontos de vista e nos faz crescer dentro daquilo a que nos dispomos a fazer.
Dentro dos meus estudos e pesquisas, observações e percepções me detive algumas vezes em analisar as religiões. Houve um tempo em que eu ficava horas pensando e analisando os fatos, a história, as razões de tantas e tão complexas religiões. Não entendia muitas coisas - e nem era mesmo para entender -, pois se fosse para entender não precisava estuda-las, me debruçar sobre pontos de vista, paradigmas, títulos, marcas e aparentes contradições. Como evangélico, julgava que a "minha religião" era a verdadeira, absolutamente, e via as demais com desprezo e às vezes até com ódio. Porém, com o tempo percebi que dentro da minha própria religião haviam contradições e a própria razão de haver tantas divisões, tantas igrejas e confissões já era um sinal claro disto. A partir daí comecei a estudar as diferenças entre as várias igrejas. Quanto mais eu estudava mais igrejas novas iam surgindo a partir de divisões internas que davam origem a outras igrejas. Sem citar nomes, a partir da década de 80 surgiram igrejas baseadas apenas no dinheiro, na aquisição de bens, alardeando a importância da prosperidade como algo fundamental e espiritual. Aí a minha cuca quase fundiu, pois Jesus, a quem sempre amei e adorei, nascera numa simples manjedoura e morreu pregado numa cruz entre dois ladrões. Como entender isto? E as demais igrejas, com raras exceções, acabaram apoiando essas ideias estapafúrdias. Pensei: vou ter que começar tudo de novo.
Por fim, me cansei de estudar esses entraves, esses interesses que rondam e pairam sobre as igrejas. Descobri que muitas estão de braços dados com a política partidária, se vendendo ao poder e ao dinheiro. Quando cheguei até aí, respirei fundo e parei por um pouco para esfriar a minha cuca. Como pode a igreja de Cristo chafurdar na política se ela sempre pregou a abstenção do poder temporal, a honestidade e a retidão diante de Deus? Uma incoerência total. Algo que não dá para absorver nem explicar. Devido à minha reação a isto, que eu chamei de orgia, fui desligado da igreja onde servi fielmente durante 40 anos. Mas essa história eu já contei. Hoje eu vejo as igrejas como algo dispensável na vida do cristão, pois elas não cumprem mais o seu propósito de evangelização dentro de uma proposição clara que foi esboçada por Jesus: "Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura..." - o que na verdade é um imperativo. E por aqui eu fico, decepcionado com muitas coisas, mas creio que as minhas pesquisas, entrevistas, escritas têm um sentido e, com certeza, valeram a pena. Escrever é mais do que um desafio. Agora eu sei realmente o tamanho, a extensão, a profundidade e as consequências deste desafio.

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Opinião do leitor