Palavra do leitor
- 03 de junho de 2010
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Em defesa de Ricardo Gondim
... Ainda que tardia. Ainda que desnecessária.
Ainda que anos mais tarde, interessante reler os textos e observar os registros acerca do polêmico texto de Ricardo Gondim sobre a tragédia do tsunami que abateu a Ásia em dezembro de 2004.
Manifestações veementes, textos convincentes, libelos em flagrante protesto à tibieza da fé de Gondim ao explicitar suas dúvidas, questionamentos e inquietudes frente ao inexplicável silêncio de uma pretensa razão teológica para todas as coisas. Incontinenti soaram conclames à uma suposta defesa da fé, atacada desta vez por um apostata insurgente dentre as fileiras do universo cristão.
Me emocionavam em tempos áureos tais convocações apologéticas. Sentia bafejar em mim o ardor dos reformadores medievais, dos primeiros cristãos, de todos os mártires que ofereceram suas vidas como sacrifício em defesa de uma doutrina casta, pura e ortodoxa. Eram heróis ao oferecem suas carnes em libação, moídos como trigos em dentes de leões para se tornarem em pão puro.
Porém, parece-me que ao chegar à vida adulta e não mais "sentir, pensar e discorrer como menino", num arroubo assomou-se em mim um processo avassalador de dúvidas e culpas, fragilidade e temor. As certezas foram sendo substituídas por dúvidas renitentes, as convicções por vicissitudes, o firme caráter pela tibieza.
Eis o paradoxo do homem, em que o humano se antepõe ao divino, pois enquanto crescemos Deus nos pede para sermos crianças, em que Ele permite apequenar-se, fragilizar-se para que o homem cresça e junto com ele suas dores, suas tristezas, seus fracassos.
É neste mundo que Deus nasce numa estrebaria cheirando esterco, passa seus dias de carpinteiro ferindo sua pele com farpas de madeira e termina pregado na cruz enquanto Herodes está assentado no trono e Pilato lava suas mãos.
É neste paradoxal mundo de Deus que me insiro e vejo que sobre minhas dúvidas se erige a minha fé. Não sou como o Mestre a dormir durante a tempestade mas como o pai desesperado que Lhe pede: ajuda-me na minha falta de fé.
Não sou inabalável mas me consumo a desejar ardentemente que, apesar das trevas que me rondam mas que não faço minhas, eu saiba que meu Redentor vive e que por fim se levante sobre a terra, que meus pecados sejam lavados pelo sangue do Cordeiro, que minhas culpas sejam levadas para um lugar de esquecimento.
E é neste mundo que se insere Gondim e suas inquietações, que faço minhas, sentindo-me parte não mais de uma religião hermeticamente fechada e à prova de questionamentos mas relacionando-me com um Deus que à sua maravilhosa luz são expostas minhas escuridades, meus temores, minhas inquietações, ciente de que a teologia que construímos e o deus que colocamos lá se difere do Deus que reconhece que sou fraco, pobre e nu.
Sinto-me mais próximo de Deus ao reconhecer que não tenho todas as respostas para as dores do mundo pela simples razão de que minhas limitações e meu pecado me impedem de ser como Ele é. Arrogar-me o direito de pensar de forma diferente e conceder tal prerrogativa à teologia construída pelos homens soa-me presunçoso, eufemismo para uma postura quase luciferiana.
E é por isso que preciso dEle. Não para responder minhas perguntas ou ratificar minhas convicções mas para que eu diminua e Ele cresça.
Soli Deo Gloria
Ainda que anos mais tarde, interessante reler os textos e observar os registros acerca do polêmico texto de Ricardo Gondim sobre a tragédia do tsunami que abateu a Ásia em dezembro de 2004.
Manifestações veementes, textos convincentes, libelos em flagrante protesto à tibieza da fé de Gondim ao explicitar suas dúvidas, questionamentos e inquietudes frente ao inexplicável silêncio de uma pretensa razão teológica para todas as coisas. Incontinenti soaram conclames à uma suposta defesa da fé, atacada desta vez por um apostata insurgente dentre as fileiras do universo cristão.
Me emocionavam em tempos áureos tais convocações apologéticas. Sentia bafejar em mim o ardor dos reformadores medievais, dos primeiros cristãos, de todos os mártires que ofereceram suas vidas como sacrifício em defesa de uma doutrina casta, pura e ortodoxa. Eram heróis ao oferecem suas carnes em libação, moídos como trigos em dentes de leões para se tornarem em pão puro.
Porém, parece-me que ao chegar à vida adulta e não mais "sentir, pensar e discorrer como menino", num arroubo assomou-se em mim um processo avassalador de dúvidas e culpas, fragilidade e temor. As certezas foram sendo substituídas por dúvidas renitentes, as convicções por vicissitudes, o firme caráter pela tibieza.
Eis o paradoxo do homem, em que o humano se antepõe ao divino, pois enquanto crescemos Deus nos pede para sermos crianças, em que Ele permite apequenar-se, fragilizar-se para que o homem cresça e junto com ele suas dores, suas tristezas, seus fracassos.
É neste mundo que Deus nasce numa estrebaria cheirando esterco, passa seus dias de carpinteiro ferindo sua pele com farpas de madeira e termina pregado na cruz enquanto Herodes está assentado no trono e Pilato lava suas mãos.
É neste paradoxal mundo de Deus que me insiro e vejo que sobre minhas dúvidas se erige a minha fé. Não sou como o Mestre a dormir durante a tempestade mas como o pai desesperado que Lhe pede: ajuda-me na minha falta de fé.
Não sou inabalável mas me consumo a desejar ardentemente que, apesar das trevas que me rondam mas que não faço minhas, eu saiba que meu Redentor vive e que por fim se levante sobre a terra, que meus pecados sejam lavados pelo sangue do Cordeiro, que minhas culpas sejam levadas para um lugar de esquecimento.
E é neste mundo que se insere Gondim e suas inquietações, que faço minhas, sentindo-me parte não mais de uma religião hermeticamente fechada e à prova de questionamentos mas relacionando-me com um Deus que à sua maravilhosa luz são expostas minhas escuridades, meus temores, minhas inquietações, ciente de que a teologia que construímos e o deus que colocamos lá se difere do Deus que reconhece que sou fraco, pobre e nu.
Sinto-me mais próximo de Deus ao reconhecer que não tenho todas as respostas para as dores do mundo pela simples razão de que minhas limitações e meu pecado me impedem de ser como Ele é. Arrogar-me o direito de pensar de forma diferente e conceder tal prerrogativa à teologia construída pelos homens soa-me presunçoso, eufemismo para uma postura quase luciferiana.
E é por isso que preciso dEle. Não para responder minhas perguntas ou ratificar minhas convicções mas para que eu diminua e Ele cresça.
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