Palavra do leitor
- 13 de agosto de 2008
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Ele não lavava as mãos, mas os pés
Jesus não estava isento da sujeira deste mundo, ele também precisou se limpar. A religião judaica (Jesus foi um judeu) apresentava alguns rituais para purificação, relacionando a sujeira ao pecado. A purificação do pecado (o que exigia derramamento de sangue) possibilitava uma pessoa tornar-se, santa (separada dos impuros). Livre das impurezas ela poderia assim ter comunhão com um Deus puro. Então ela se tornava duplamente livre: livre do pecado, que a aprisionava e livre em Deus, que lhe abria um universo novo – o seu Reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Os fariseus exageraram na dose em sua suposta busca por santidade. Os rituais de purificação se multiplicaram exponencialmente e passaram a ocupar o centro da religião empurrando o juízo, a misericórdia e a fé para a periferia. Jesus não pactuou com eles nisto. Por isso eles se admiraram e o censuraram: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão” (Mt 15:2). O mestre, como uma criancinha do primário, devolveu a provocação: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?”
Nossa igreja (de tradição) evangélica vive uma crise terrível, no Brasil e no Mundo. Faustini a descreve como um Titanic que vai de encontro com um iceberg, apontando dez pontos dignos de reflexão. Para Gondim o movimento evangélico está no final de um ciclo. Ele aponta três razões para isso, onde a crise de identidade se situaria no âmago da questão. Augustus Nicodemus considera o estado da igreja alarmante. (E pelo que tenho experimento na Europa nesses dez anos, posso assegurar que essa situação não é um “privilégio” brasileiro).
Alguns (e confesso que às vezes me encontro no meio deles) não aceitam de bom grado críticas sobre a igreja. Mas o fato é que a situação é tão gritante que não temos mais como tampar o sol com a peneira. Temos que dar ouvidos a toda e qualquer crítica, de fora ou de dentro dos muros eclesiásticos! Temos que analisá-las e tentar mudar o curso, antes que o naufrágio aconteça.
Sem dúvida alguma nossa identidade está vazia de significado. Evangélico, na melhor das hipóteses é o cristão que não é católico. Um elemento positivo, “cristão” e um negativo, “não católico”. Como o elemento positivo, “cristão” há séculos já perdeu seu sentido, na maioria das vezes o caráter negativo é o preponderante. Conseqüentemente somos identificados mais por aquilo que não fazemos: não fumamos, não bebemos, não transamos, não usamos cruzes, e assim por diante. Uma identidade baseada em negação não é uma identidade própria mas uma anti-identidade. O pior, tudo isso não são preconceitos dos "incrédulos", mas refletem a nossa triste realidade...
Afinal, o que queremos negar? De que estamos fugindo? Do que queremos nos limpar?
Jesus não tornou-se conhecido pela sua higiene. Ele se misturava com os impuros e mais tarde levou seus discípulos a dar um gigantesco salto cultural (para a sociedade judaica da época) e comer com gentios. Me admiro sempre em pensar que Jesus também se deixou batizar - simbolicamente também uma purificação de pecados. O batismos, porém, se distigüia dos rituais da lei, pois além de estar ligado à confissão e ao arrependimento não era um rito oficial. Por que esta identificação tão íntima do Messias com os pecadores?
O Mestre se humilhou ainda mais ao lavar os pés dos discípulos. Poderíamos traçar aqui infinitos paralelos espirituais e filosóficos sobre aquela atitude de Jesus. Muito há que ser aprendido desta passagem tão profunda do Evangelho de João, mas para este momento retenhamos somente o seguinte: a humildade servil (de um mestre) é o que traz purificação para o seio da igreja.
E você, que exerce liderança em sua comunidade, assumirá seu papel nessa faxina, ou como Pilatos, se isentará de sua responsabilidade, se contentando em lavar somente as próprias mãos?
Os fariseus exageraram na dose em sua suposta busca por santidade. Os rituais de purificação se multiplicaram exponencialmente e passaram a ocupar o centro da religião empurrando o juízo, a misericórdia e a fé para a periferia. Jesus não pactuou com eles nisto. Por isso eles se admiraram e o censuraram: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão” (Mt 15:2). O mestre, como uma criancinha do primário, devolveu a provocação: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?”
Nossa igreja (de tradição) evangélica vive uma crise terrível, no Brasil e no Mundo. Faustini a descreve como um Titanic que vai de encontro com um iceberg, apontando dez pontos dignos de reflexão. Para Gondim o movimento evangélico está no final de um ciclo. Ele aponta três razões para isso, onde a crise de identidade se situaria no âmago da questão. Augustus Nicodemus considera o estado da igreja alarmante. (E pelo que tenho experimento na Europa nesses dez anos, posso assegurar que essa situação não é um “privilégio” brasileiro).
Alguns (e confesso que às vezes me encontro no meio deles) não aceitam de bom grado críticas sobre a igreja. Mas o fato é que a situação é tão gritante que não temos mais como tampar o sol com a peneira. Temos que dar ouvidos a toda e qualquer crítica, de fora ou de dentro dos muros eclesiásticos! Temos que analisá-las e tentar mudar o curso, antes que o naufrágio aconteça.
Sem dúvida alguma nossa identidade está vazia de significado. Evangélico, na melhor das hipóteses é o cristão que não é católico. Um elemento positivo, “cristão” e um negativo, “não católico”. Como o elemento positivo, “cristão” há séculos já perdeu seu sentido, na maioria das vezes o caráter negativo é o preponderante. Conseqüentemente somos identificados mais por aquilo que não fazemos: não fumamos, não bebemos, não transamos, não usamos cruzes, e assim por diante. Uma identidade baseada em negação não é uma identidade própria mas uma anti-identidade. O pior, tudo isso não são preconceitos dos "incrédulos", mas refletem a nossa triste realidade...
Afinal, o que queremos negar? De que estamos fugindo? Do que queremos nos limpar?
Jesus não tornou-se conhecido pela sua higiene. Ele se misturava com os impuros e mais tarde levou seus discípulos a dar um gigantesco salto cultural (para a sociedade judaica da época) e comer com gentios. Me admiro sempre em pensar que Jesus também se deixou batizar - simbolicamente também uma purificação de pecados. O batismos, porém, se distigüia dos rituais da lei, pois além de estar ligado à confissão e ao arrependimento não era um rito oficial. Por que esta identificação tão íntima do Messias com os pecadores?
O Mestre se humilhou ainda mais ao lavar os pés dos discípulos. Poderíamos traçar aqui infinitos paralelos espirituais e filosóficos sobre aquela atitude de Jesus. Muito há que ser aprendido desta passagem tão profunda do Evangelho de João, mas para este momento retenhamos somente o seguinte: a humildade servil (de um mestre) é o que traz purificação para o seio da igreja.
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